Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Paulo Rogério

‘‘Ouvir o outro lado não é favor; é parte fundamental da história’ (Marcelo Soares, jornalista)

Ouvir o outro lado de uma notícia é a norma básica do jornalismo. Fugir a essa regra, além de ferir a ética, deixa arranhões na credibilidade. O exemplo foi a série de matérias ‘Educação no Ceará’, publicada dias 1 e 2 de fevereiro pelo Núcleo de Cotidiano. Vamos antes aos fatos. No primeiro dia, O POVO estampou na capa a manchete ‘21 mil alunos sem aula todo dia’.

Na página interna, a matéria ‘1.036 aulas deixam de ser realizadas todo dia’, baseada em pesquisa feita pela Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza, apontou que o número de professores faltosos prejudicava mais de 21 mil alunos. Falaram diretores de duas escolas citadas entre as que tinham mais alunos sem aula. No segundo dia, a série questionou a forma de avaliação dos professores.

Reação imediata

O erro da matéria foi não ouvir os principais envolvidos na notícia: os professores e alunos. Alguns dos estudantes serviram como simples modelos na produção da foto. A reação dos leitores & todos professores – foi rápida. ‘Quantos professores faltosos foram ouvidos pela reportagem?,’ indagou João Teles de Aguiar, qualificando o texto como ‘jornalismo de imprensa negra’. Mais comedido, e menos preconceituoso, Djacir de Souza disse que o jornal foi usado pelo poder público e que deveria ter se aprofundado nos motivos de tantas faltas. ‘Jornalismo tem de ser antes de tudo compromissado com a verdade’, advertiu.

A inquietação dos leitores foi levada aos editores. Na quinta-feira (4), O POVO publicou o Editorial ‘Professores faltosos’, no qual colocou os problemas da educação pública como uma questão mais ampla. Uma nota do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará, criticando o jornal, também foi publicada. Os professores continuaram, no entanto, sem espaço. ‘Por que a matéria não foi repercutida no dia seguinte?’, questionou novamente o professor João Teles. Eu acrescento: nem se tentou, já que não constava qualquer procedimento deste tipo indicado na matéria.

Remendo

Somente quatro dias depois – na edição de sexta-feira, dia 5 & é que os professores ganharam espaço para falar.

Nada dos alunos. Mas já era tarde. O jornal saiu com a imagem comprometida e o leitor prejudicado por não ter todas as versões do fato mostradas na mesma proporção.

Questionado, o Núcleo Cotidiano avisou que a matéria com os professores contemplava a ausência. Independente de corporativismos, ano político ou gestores públicos, a obrigação de todo jornalista é expor os fatos em todas as versões. O leitor que formule um julgamento.

Reclamar vale a pena

O POVO é o jornal mais antigo em circulação no Ceará, o que lhe garante um rico acervo. Alguns fatos são relembrados diariamente na seção ‘Um dia como hoje’ no caderno Vida & Arte. O uso deste material, no entanto, não tem agradado. ‘Parece que mudaram o responsável pela coluna. Agora só citam fatos nacionais e internacionais’, lamentou o leitor Cláudio Nogueira. Para ele, antes a coluna era agradável para a turma da ‘velha guarda’. ‘Eram sempre registradas matérias do Ceará’, desabafou ele, pedindo revisão dos critérios.

O leitor tem razão. Em 10 colunas, de 26 de janeiro a 4 de fevereiro de 2010, das 30 notas publicadas, só 13 eram locais, ou seja, menos da metade. A reivindicação foi repassada à historiadora e pesquisadora Juliana Hollanda, responsável pelos textos há cerca de dois anos.

Leitor do futuro

Durante vários anos O POVO publicava, aos domingos, um caderno especial destinado ao público infantil chamado ‘Clubinho’. A edição foi interrompida no início de 2009 para uma reavaliação. Nunca mais voltou. Os leitores – pais e professores – ainda hoje pedem o retorno do caderno. ‘Gostaria de saber o motivo da retirada do caderno ‘Clubinho’, um incentivador à leitura para as crianças’ reclamou Felipe Guedes. A chefia de Redação afirmou que ‘está em estudo um novo produto editorial infantil’.

Tiro no pé

Quem conseguiu comprar a revista ‘Guia das Noivas’ do Grupo de Comunicação O POVO, elogiou. ‘Para mim está maravilhosa’, afirmou Celena Gurgel. Quem não conseguiu, ainda deve estar correndo atrás de um exemplar. ‘Rodei várias bancas e nada’, desabafou a cansada noiva, Carolina Medeiros. O lançamento da revista foi noticiado no O POVO na sexta-feira, dia 29 de janeiro, mesmo dia em que, segundo a matéria, começaria a venda. Mas não começou e isso causou correria entre leitores. O produto só foi entregue nas bancas na semana seguinte, segundo Victor Chidid, diretor do Mercado Leitor. Ele disse que não é a primeira vez que acontece esse descompasso entre os setores Comercial e de Distribuição. ‘Precisamos de uma semana para planejar e distribuir e isso não aconteceu’ explicou. E o leitor tem culpa?’