‘‘Meteorologistas e jornalistas têm algo em comum: ler o mundo e interpretá-lo; de preferência, antes que o terremoto aconteça e os tsunamis devastem tudo’.
Luiz Martins, professor e jornalista
Quando uma apuração é mal feita, com desleixo e sem compromisso de aprofundamento, o resultado dificilmente deixa de ser uma série de trapalhadas. Foi assim na edição de segunda-feira (7) em pauta que resumia o balanço dos homicídios do fim de semana. O jornal publicou que o segurança Luis Ângelo matou a tiros o amigo João Paulo, em Maracanaú, e depois foi morto a facadas por desconhecidos. A matéria valeu manchete de página. Mais direta impossível: ‘Segurança mata amigo após festa e é assassinado’.
Só que estava tudo errado. Vergonhosamente errado. E o jornal se retratou publicamente no dia seguinte, em matéria secundária, após apelo da família e confirmação da Polícia. Na realidade, Luis Ângelo, o segurança, é que foi assassinado por João Paulo. E este último morreu vítima não só de facadas, mas também a tiros. Para piorar, os dois nem amigos eram. O cúmulo do desleixo é que a informação mais importante foi desprezada. Edigleisson Araújo, que virou manchete na semana anterior após escapar de presídio, provocando desconforto ao Estado, foi encontrado morto, executado com um tiro. Insignificantes duas linhas registraram a morte. É o que se chama jornalismo relatorial, feito por telefone, sem checagem e análise dos fatos.
Quem não sabe, pergunta!
Situação semelhante ocorreu na edição de quarta-feira quando o jornal teve que se retratar por uma má apuração. A matéria ‘Lúcio e Nati gastam do próprio bolso’, publicada dia 11 de setembro, informava que o ex-governador Lúcio Alcântara havia doado R$ 50 mil para a campanha dele e a candidata Nati, R$ 300 para as despesas de campanha dela. A assessoria do primeiro contestou os dados e provou o engano. O jornal simplesmente fez a consulta em local errado. Baseou toda a matéria nas informações simplificadas disponibilizadas no site do Tribunal Superior Eleitoral quando deveria ter observado as informações detalhadas. Ali explicava a origem do dinheiro: doação do candidato a vice, Cláudio Vale. Ou seja, a matéria não tinha qualquer fundamento para ser publicada já que não houve a doação. Mas faltou humildade para assumir a falha. Na retratação, o jornal qualificou o fato como uma ‘confusão’ na consulta feita pelo repórter. Ora, erro é erro. Não tem outro nome. Era fácil ser evitado se houvesse uma checagem junto aos candidatos, o que não houve.
Explicações ao vento
O POVO vem publicando na editoria Fortaleza uma série de matérias denominada ‘Ruas do Centro’. O objetivo é fazer uma radiografia das principais vias do Centro de Fortaleza. Depois de passar pela rua Solon Pinheiro, Guilherme Rocha e Barão do Rio Branco, a reportagem chega hoje à rua General Sampaio. Os relatos do descaso são reais e fáceis de serem verificados.
O leitor Carlos Martins, no entanto, acha que o jornal precisa ser mais incisivo com a Secretaria Executiva Regional do Centro de Fortaleza (Sercefor), principalmente com relação ao lixo acumulado nas ruas. Ele afirma que as matérias estão mostrando o problema, colocando as justificativas da secretária Luiza Perdigão e só. Não confronta os dados mostrados por ela. ‘O POVO está fazendo reportagem, jornalismo, ou marketing da Sercefor?’, indagou o leitor.
A crítica é com a afirmação da secretária de que há coleta seletiva no local, o que ele, como morador da região, garante que não há. Em abril, o leitor já havia enviado para o jornal um levantamento detalhado sobre número de lixeiras do Centro. ‘Eram 160 e não 800, como dizia a matéria na época’, lembrou. ‘Se passaram o dia todo reportando a rua, deveriam ter constatado isso’, desabafou. Ele está certo. A confrontação do discurso dos gestores não foi feita ainda. O cidadão denuncia, a Secretaria tenta justificar, a AMC anuncia rever casos, mas não há verificação das desculpas.
O próprio jornal noticiou, dia 16 de agosto, na editoria de Economia, que o plano de coleta seletiva de Fortaleza ainda não saiu do papel. Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano, o primeiro centro de triagem começa a operar só em 2011.
Espaço questionado?
A leitora Fátima Bezerra não suportou começar a folhear o primeiro caderno da edição de O POVO da última quarta-feira e constatar, nas 10 primeiras páginas, nada menos que dois anúncios de página inteira e outras três de meia página. ‘Assim está difícil ler o jornal. Só tem propaganda de candidato, de escola, de carro. Tá faltando notícia?’, indagou. Na realidade, há épocas do ano que as taxas de ocupação comercial sofrem um aumento considerável. É assim na maioria das datas festivas, principalmente Natal e Dia das Mães.
Nos próximos dias, com a proximidade das eleições, os anúncios tendem a crescer. Segundo a chefia de Redação, o jornal trabalha com um teto de ocupação comercial de 35%. O restante é editorial, incluindo os espaços para colunas, fotos e gráficos. No dia reclamado pela leitora – 15 de setembro – a publicidade ocupou 25,53% em um total de 36 páginas. Nesta conta entram o Primeiro Caderno (Fortaleza, Ceará, Gol, Política, Brasil, Economia e Mundo) e o Vida & Arte. Nos dois dias seguintes, porém, a taxa foi bem maior. No dia 16 foi de 34,47% e no dia 17, 40,78%, ultrapassando a cota prevista. Culpa, segundo a chefia, de informes de última hora. Esquecido pela mídia: Barragem do Rio Maranguapinho prometida para dezembro. Como anda a obra?’