‘Dois atritos entre a candidata a prefeita de Fortaleza Patrícia Saboya (PDT) – ou integrantes de seu comitê – e O POVO marcaram a última semana da campanha eleitoral que se encerrou na sexta-feira e chega neste domingo ao dia decisivo: a manifestação do eleitorado nas urnas.
O primeiro questionamento deveu-se à não publicação pelo O POVO da carreata da pedetista, ocorrida no último domingo (28). Pior: este jornal, além de não noticiar o evento, publicou, em um quadro da matéria sobre a carreata da prefeita Luizianne Lins, que o evento idêntico da candidata do PDT havia sido cancelado, tendo como fonte um animador do cortejo petista! Um desastre em termos de informação. O outro incidente ocorreu durante entrevista da pedetista à TV O POVO.
Reação do comitê
Einhart Jácome da Paz, da área de marketing do comitê de Patrícia Saboya, indignado, manda-nos e-mail em que diz, entre outras palavras duras: ‘O POVO, ao priorizar a cobertura da carreata da outra candidata, faz um texto panfletário, acrítico e na contramão de todos os princípios jornalísticos que o Grupo O POVO historicamente persegue’.
Acrescenta: ‘Em um determinado trecho, a matéria destaca que ‘já a carreata de Patrícia Saboya (PDT), marcada para ontem, teria sido cancelada’’. E pasme: a fonte da informação foi o locutor da carreata da candidata Luizianne Lins. Nem o repórter nem o editor tiveram o cuidado de checar a veracidade da informação com a assessoria de imprensa da candidata Patrícia Saboya.
Erro assumido
Na terça-feira (30/9), em quadro idêntico (Emais!) O POVO reconheceu que ‘errou ao informar na edição de ontem (segunda-feira, 29/9) que a candidata Patrícia Saboya havia cancelado a carreata programada para ser realizada na manhã de domingo, dia 18/9’. E o reconhecimento do pior dos erros: ‘O evento da pedetista, na verdade, aconteceu. A informação (de que não seria realizado) foi passada pelo locutor durante carreata da candidata do PT, Luizianne Lins, e reproduzida sem a necessária apuração com a assessoria de Patrícia’. O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, repeliu insinuações de qualquer direcionamento da cobertura.
Entrevista acalorada
Mais acirramento de ânimos entre a senadora Patrícia Saboya e O POVO ocorreu na última quarta-feira (1º/10), durante entrevista da pedetista à TV O POVO. Instada pelo jornalista Érico Firmo a divulgar os nomes das principais empresas que financiam sua campanha, a candidata, depois de comprometer-se a divulgar essa relação, desafiou os entrevistadores: condicionou o envio das informações (nomes das empresas financiadoras de sua campanha) à divulgação da importância em dinheiro que a TV e o jornal O POVO recebem em verba publicitária da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
A reação de Patrícia Saboya mereceu rebate do editor Gualter George no Ponto de Vista ‘O limite de uma agressão’ (2/10, página 26, Política): ‘Colocar a intenção de nossas perguntas em dúvida, sob o inconsistente argumento de que o jornal troca sua credibilidade por cotas de patrocínio com a prefeitura de Fortaleza, é uma agressão à nossa honra, minha e dos demais editores e repórteres que formam a equipe atual de Política.’
Do ombudsman: duas situações bem distintas. Na primeira, O POVO errou e reconheceu o erro. Na entrevista, a indagação de Érico Firmo é um questionamento natural. Atribui-se a reação de Patrícia Saboya ao acirramento dos ânimos na etapa final da campanha.
Santa Quitéria
‘Compra de voto com dinheiro falso’ diz manchete da página 21 (Política, 2/10). Na matéria, o delegado Ribamar Lemos diz que ‘os envolvidos fazem parte de coligações (sic) dos candidatos a prefeito Carlos Frederico (PSB) e Chagas Mesquita (PSDB)’. No dia seguinte (2/10, também página 21) o desmentido: ‘Candidatos negam envolvimento’ e uma estranha declaração do mesmo delegado Ribamar Lemos que ‘negou, ontem, enfaticamente, que essas pessoas possam fazer parte das coligações dos candidatos Carlos Frederico (PSB) e Chagas Mesquita (PMDB)’. Sobre a tremenda confusão, Guálter George, editor de Conjuntura, deu a seguinte explicação:
‘O primeiro material publicado sobre a crise de Santa Quitéria, na edição da quinta-feira, 2/10, apresenta um problema que consideramos ter reparado com o texto do dia seguinte, 3/10. O delegado Ribamar Lemos nos procurou para informar que sua declaração acerca do assunto tinha sido mal interpretada e que, na verdade, não acusara qualquer das coligações, muito menos as citadas no texto, de envolvimento com o caso de uso de cédulas falsas para compra de votos.
Fizemos, então, o que nos cabia: publicamos novo material, com informações atualizadas do caso e o esclarecimento do delegado, pondo em destaque (através da ferramenta chamada de ventilação) a frase em que ele diz não ter citado coligações. Além disso, ressalte-se, cuidamos de garantir o mesmo espaço e o mesmo destaque à notícia do dia anterior. Sem dúvida, consideramos que os eventuais problemas ocasionados pela matéria, excluindo-se o seu uso reprovável com fins eleitoreiros, foram reparados’.
Perguntas
O ombudsman questiona. Ficam ainda algumas perguntas sem resposta: o delegado disse ou não disse o que foi publicado na edição de quinta-feira (2/10)? Se disse, a declaração foi gravada pela repórter? Como o delegado pode afirmar uma coisa e, no outro dia, desmentir a declaração? Como fica a reputação dos candidatos citados se os envolvidos não são ligados politicamente a eles?’