‘Olinda, cidade situada a 6 quilômetros de Recife, capital do estado de Pernambuco, ostenta vários títulos que povoam a imaginação de quem não a conhece, dentre eles, o de ter o melhor carnaval do Nordeste, ser a primeira Capital Brasileira da Cultura e também de Patrimônio Artístico e Cultural da Humanidade. É de lá que a leitora Maristela Farias nos escreveu.
Olinda tem uma população de quase 400 mil habitantes, morando em um território de 40 quilômetros quadrados, sendo que sua área urbana tem 34 quilômetros quadrados e a rural, pouco mais de 6 quilômetros quadrados . O chamado Polígono de Preservação Cultural mede 10 quilômetros quadrados, dos quais apenas 1,2 quilômetro quadrado é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico pelo do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Maristela diz que a Olinda que está fora da área tombada é periferia e constitui 70% do município. Nessa Olinda de fora, há grandes problemas sociais, principalmente de violência praticada pelos e contra os jovens, jovens sem nenhuma perspectiva social e em completa degradação. Segundo a leitora, a Olinda tombada é muito bonita e aparece na mídia, nos folders e nas chamadas televisivas, cheia de cores. No entanto, a realidade é bem outra.
Ela elogia a qualidade da cobertura da Agência Brasil, pela qual ela acompanhou o Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural, realizado em Brasília na última semana. No entanto, ela lamenta que a realidade local não esteja representada nas discussões das políticas públicas debatidas no evento.
A Ouvidoria fez uma análise da cobertura da Agência Brasil sobre o evento. Foram ouvidas 27 fontes nas 23 matérias publicadas entre 25 e 30 de junho. Das fontes 52% são representantes do governo brasileiro, 15% ministros de Cultura ou o equivalente de outros paises latino-americanos, 11% representantes de organizações internacionais (ONU, Unesco, OEA), 11% representantes de organizações da sociedade civil brasileira e 7% são intelectuais.
Os principais temas abordados nas matérias são: identidade cultural, padrões de beleza e ‘afro-latinidade’, redes alternativas de difusão cultural e espaços para exibição de filmes, direitos autorais e acesso a obras intelectuais, promoção dos idiomas nativos, luta contra a globalização neoliberal, diversidade digital, geração de emprego pela economia da cultura e criação de espaços para a capacitação da população de baixa renda.
As principais conclusões a que os participantes do encontro chegaram, segundo as matérias da Agência Brasil, foram com relação à necessidade de democratização dos veículos de comunicação, incentivo aos meios de comunicação alternativos, construção de um sistema público de comunicação, apoio a pequenas gravadoras e camelôs na produção e distribuição da música nacional, regulamentação para obrigar a exibição de filmes nacionais, acordos sobre a flexibilização dos direitos autorais, incentivos às publicações em idiomas indígenas, implantação de centros comunitários e Pontos de Cultura e a inclusão dos negros e índios nas decisões.
Além dessa cobertura convencional através de notícias publicadas na página, a agência inovou, inaugurando seu blog, no qual os editores puderam postar suas impressões sobre o seminário em uma linguagem mais informal. Até um trecho do diálogo entre participantes de um chat criado pelo Ministério da Cultura para discutir os assuntos tratados no evento pudemos ler ali. Além disso, o leitor encontrou fotos, vídeos e áudios das palestras e dos debates, tudo publicado em tempo real. Do ponto de vista do uso dos recursos multimídia a agência deu seu espetáculo mostrando as inúmeras possibilidades que a convergência de diversas tecnologias pode proporcionar em matéria de informação.
Até aí, estava tudo perfeito, a não ser por uma observação da leitora: ‘tenho a impressão que vivemos fora do Brasil ou o que se propaga nos meios de comunicação é uma tremenda mentira’.
Maristela Farias se refere não só à distância que separa as duas Olindas – a de dentro e a de fora, mas à distância que separa o mundo dos jornalistas e autoridades do mundo real. Fala da distância entre o jornalismo que vê a realidade a partir de grandes centros urbanos e a realidade cotidiana das periferias das cidades Brasil afora. Fala desse abismo entre a concepção das políticas públicas e as reais necessidades dos jovens vivendo em periferias. Periferias das cidades, periferias econômicas, periferias sociais e periferias culturais, nas quais grassa a exclusão.
No entanto, a leitora também ensina o caminho a ser percorrido entre os centros urbanos e a periferia para levar o jornalismo da agência até lá e trazer a realidade local para esse cibernético espaço público de debate dos problemas nacionais. Os mais de 600 Pontos de Cultura, as milhares de rádios e TVs comunitárias e os centros de inclusão digital do Projeto Casa Brasil podem ser a ponte que faltava.
A Agência Brasil já deu provas de que dispõe da tecnologia necessária para se conectar a eles. Talvez falte só a decisão política de fazê-lo. Fomentar a produção de conteúdo e de jornalismo local pode ser uma das saídas para resolver ‘os grandes problemas sociais, principalmente de violência praticada pelos e contra os jovens, jovens sem nenhuma perspectiva social e em completa degradação’, acrescentou a leitora.
Até a próxima semana.’