‘Em uma sociedade complexa como a que vivemos a repercussão dos fatos é resultado de múltiplos interesses que ora se alinham, ora se defrontam, de acordo com os objetivos e as necessidades de cada grupo. A comunicação precisa refletir essa multiplicidade de maneira a dar voz a diferentes atores no debate democrático das questões nacionais. Quanto maior a diversidade de fontes ouvidas nas matérias que levam a informação ao público, melhor a qualidade da argumentação sobre a realidade que se pretende transformar.
O prática do trabalho escravo é uma dessas realidades para a qual o governo traçou uma politica pública de combate que vem sendo implementada ao longo dos últimos anos. O Ministério Público do Trabalho – MPT, divulgou uma pesquisa dando conta do resultado das fiscalizações que resultaram na libertação de trabalhadores durante o ano de 2009. A notícia da Agência Brasil sobre essa pesquisa Sudeste registra maior número de trabalhadores em regime análogo ao de escravidão , publicada dia 26 de janeiro, foi o motivo da demanda do leitor Ernesto Chessa.
Segundo ele: ‘A matéria reproduz apenas a visão do MPT, como se fossem eles os coordenadores das ações de combate ao trabalho escravo. Há uma série de furos na matéria. Por que não ouvem a CONATRAE? Por que não ouvem o Ministério do Trabalho? A Agência Brasil não pode ser igual à imprensa em geral que se limita a reproduzir o olhar dos colegas das assessorias de imprensa. Isso não é jornalismo!’.
A Agencia Brasil respondeu: ‘Agradecemos o comentário do leitor e vamos ouvir as fontes sugeridas sobre trabalho escravo’.
Pelo decreto que criou em 2005 a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo – a Conatrae, citada pelo leitor, responsável por acompanhar o cumprimento das ações constantes do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, é integrada por oito ministérios sob a coordenação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, alem de representantes de entidades privadas não-governamentais e de observadores, representantes de instituições públicas ou privadas, que possuam notórias atividades no combate ao trabalho escravo.
O decreto também estabeleceu que as providências necessárias para a atuação integrada da fiscalização e repressão ao trabalho escravo serão tomadas pelo Grupo Executivo de Trabalho, constituído pelos Secretários-Executivos ou ocupantes de cargos equivalentes dos seguintes Ministérios: Defesa; Desenvolvimento Agrário; Justiça; Meio Ambiente; Previdência Social; e do Trabalho e Emprego, sob coordenação do Secretário Especial Adjunto dos Direitos Humanos.
Apesar da quantidade de órgãos e instituições envolvidas, a divulgação de referida pesquisa deu-se exclusivamente pelo representante do Ministério Público do Trabalho, segundo pode-se depreender pela notícia da ABr. Os demais integrantes do Grupo Executivo não participaram? Por que a ABr não repercutiu os resultados da pesquisa junto aos demais agentes do Estado e da sociedade?
Até a presente data, decorridos dez dias da divulgação da pesquisa, ainda não foram ouvidas outras fontes sobre o assunto, conforme prometeu a Agência em sua resposta ao leitor – o tempo passou e no jornalismo dizemos que perderam o ‘gancho’ para aprofundar esse debate. Daí decorre a crítica do leitor – ‘ Agência Brasil não pode ser igual à imprensa em geral que se limita a reproduzir o olhar dos colegas das assessorias de imprensa. Isso não é jornalismo!’
Para corrigir um equivoco cometido no título da notícia: Indústria diz que Selic ajuda a manter investimento e CUT chama decisão de miopia econômica, publicada dia 10 de janeiro, o leitor José Altair Monteiro Sampaio escreveu: ‘ O título diz: ‘… CUT chama decisão de miopia econômica’. No entanto, o penúltimo parágrafo do texto traz um pronunciamento do presidente da Força Sindical. Gostaria que a matéria fosse corrigida e, na medida do possível, fossem ouvidos outros segmentos sindicais, a começar pela própria CUT citada’.
A Agência Brasil corrigiu a manchete alterando a origem do comentário: Indústria diz que Selic ajuda a manter investimento, e Força Sindical chama decisão de miopia e informou que : ‘Sempre procuramos ouvir as entidades que querem se manifestar sobre decisões, como a da taxa de juros’.
Todavia, não ficou claro na resposta da ABr se a CUT foi procurada e não quis comentar o assunto ou se a entidade não foi procurada pela reportagem, ao contrário do que sugeriu o leitor. Sabemos que as duas centrais são igualmente representantes de sindicatos de trabalhadores, mas não necessariamente compartilham das mesmas posições em relação à politica econômica.
Estamos em um ano eleitoral. Dentro de poucos meses iniciar-se-ão as campanhas que irão bombardear os eleitores com promessas, planos e projetos, muitos deles mirabolantes . Mais do que nunca os leitores, feitos eleitores, necessitarão de informações para discernir em quem confiar. Para ajudar nas escolhas, debates que envolvem questões como a taxa de juros ou direitos trabalhistas poderão ser decisivos e por isso precisam ser qualificados e aprofundados, trazendo para a esfera pública o maior numero possível de opiniões de diversos setores da sociedade. Esta tarefa está posta para a imprensa, principalmente para a agência pública de notícias.
Nesse aspecto, quando os fatos ocorrem, a diversidade de fontes ouvidas nas matérias pode contribuir diretamente para a qualidade do debate e indiretamente para a qualidade do voto.
Até a próxima semana.’