‘O leitor Bruno Parga escreveu; ‘em notícia sobre a visita do presidente Lula ao Chile, a Agência Brasil informou que o terremoto de 28/02 foi de ‘8,8 graus na escala Richter’. A escala Richter já não é usada para medir a força de terremotos. A rigor, ela não é capaz de medir eventos acima de 6,7 graus. Portanto, hoje em dia utiliza-se a escala de magnitude de momento; é a ela que corresponde o valor de 8,8 deste terremoto e de 9,5 do ocorrido em 1960’
A Agência Brasil respondeu: ‘Entrevistamos o pesquisador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, César Pavão. Segundo ele, a força do terremoto pode ser medida por várias escalas, tanto a Richter como a de Magnitude, mencionada pelo leitor. Ele explica que realmente ‘a escala não vem sendo usada, mas apenas por cientistas, especialistas e pesquisadores da área. Mas, quando ocorre um terremoto, a informação passada à população tem que ser passada em Richter porque ela é mais conhecida e popular. Isso facilita o trabalho e não causa confusão’.
Fizemos uma correção na notícia.’
A ABr eliminou a expressão ‘escala Richter’ da matéria mencionada pelo Bruno o que pode resultar em uma desinformação ao público uma vez que apenas dizer que o terremoto foi de 8,8 graus, sem mencionar em que escala foi feita a medição, pode causar mais dúvidas do que certezas. Uma alternativa seria informar aos leitores porque se usa uma escala ou outra dependendo do meio em que se encontra a informação. Se a imprensa de um modo geral usa a escala Richter é porque os especialistas, quando entrevistados, a utilizam para informar sobre a gravidade de um terremoto.
Parece que o leitor tem razão, embora muita gente continue a usar a expressão ‘escala Richter’, o mais correto dizer simplesmente ‘magnitude’ ou, como o leitor sugere, ‘magnitude de momento’. Abaixo de 6 graus, as escalas são basicamente equivalentes, mas acima de 8 graus há diferenças significativas. O terremoto que aconteceu no Chile em 1960 foi registrado pela escala Richter em 8,5 graus, no entanto, hoje em dia, se diz que a magnitude daquele evento foi de 9,5 graus na escala magnitude de momento.
O fato muito pouco explicado pela imprensa é que a Terra, ao longo de bilhões de anos de sua existência, é um corpo físico em permanente processo de resfriamento. Em seu núcleo ainda encontram-se rochas em estado líquido, tamanha é a temperatura. Temperatura que vai diminuindo à medida que nos aproximamos da superfície onde as rochas já esfriaram o suficiente para se apresentar em estado sólido. É nessa crosta que vivemos, uma pequena casca que se divide em várias partes (placas tectônicas). Na teoria tectônica de placas a parte mais exterior da Terra está composta de duas camadas: a litosfera que inclui a crosta e a astenosfera – a parte mais interior e viscosa do manto que recobre o núcleo liquido. A relativa fluidez da astenosfera permite que as placas tectônicas, que se localizam na litosfera, se movimentem em diferentes direções.
Pensa-se que a fonte da energia necessária para produzir este movimento seja a dissipação de calor a partir do manto. Há essencialmente duas forças que transferem esta energia para a litosfera de forma a que as placas se movam: o atrito e a gravidade. A subida de massas quentes no manto e a descida das massas frias da superfície formam uma espécie de ‘tapete rolante’ que arrasta as placas. A fonte do calor residual dos processos formativos da Terra, a pressão da gravidade e a degradação radioativa dos elementos estão em permanente ação nesta região (*).
A movimentação, sobretudo nas zonas de encontro das placas, resulta em vários fenômenos, entre os quais os terremotos que os cientistas tentam medir com suas escalas. Como os choques lançam para a superfície vários tipos de ondas compostas de parcelas da energia que entraram na formação e na movimentação das placas, os cálculos feitos pelos cientistas atualmente procuram medir quanta energia foi liberada em cada terremoto. Assim, a fórmula utilizada por Richter e outros cientistas foi sendo aperfeiçoada ao longo to tempo visando maior precisão na medição dos eventos sísmicos, até se chegar à atual escala de magnitude de momento.
Essa evolução na forma de calcular também reflete maior conhecimento pela ciência do que ocorre no interior de nosso planeta. Os cientistas descobriram, por exemplo, que os terremotos podem ser: rápidos ou lentos. Alguns são suaves; outros violentos, destros ou canhotos. Têm orientações diferentes – horizontal, vertical ou intermediária. Eles ocorrem em diferentes contextos geológicos: no interior dos continentes ou nos oceanos. Propagam-se em ondas primárias e secundárias e daí por diante.
São tantas informações advindas de cada evento que renderiam isoladamente um tratado científico. Mas a informação imediata que o jornalismo busca é sempre a mesma: quanto mediu o terremoto na escala Richter? É essa informação que se procura nos momentos da tragédia para explodir nas manchetes – , um número que se propaga como uma onda sísmica pelos mais diferentes veículos de comunicação ao redor do mundo.
Existem outras escalas e outras formas de medir as movimentações provocadas por um terremoto, talvez muito mais significativas para a raça humana, mas que o jornalismo não se preocupa em difundi-las porque não são tão imediatas.
A escala Mercalli, por exemplo, mede a intensidade do abalo em termos dos danos ocasionados aos seres humanos, às construções e ao meio ambiente. Sua aferição depende de uma verificação ‘in loco’, e, portanto, não pode ser deduzida imediatamente por uma fórmula matemática. Ela classifica a gravidade do sismo em 12 graus designados por algarismos romanos.
Por ser muito mais completa e qualitativa, essa medida pode servir, por exemplo, para determinar a quantidade de ajuda financeira e humanitária necessária para se reparar ou minimizar os efeitos sociais, políticos e econômicos para a nação sinistrada. Por meio dessa escala também pode correlacionar-se o grau de desenvolvimento de um determinado país com a dimensão dos danos causados uma vez que a amplitude dos estragos está intimamente relacionada com a qualidade das edificações e, o número de vítimas, com a distribuição das aglomerações humanas. Ou seja, quanto mais pessoas habitam as áreas sinistradas e mais precárias são as construções, maiores são as probabilidades de haver mais vítimas fatais e maior destruição, comparando-se com áreas onde a ocupação foi devidamente planejada em termos físicos e humanos.
É aí que entra o papel dos estados nacionais implementando políticas públicas que visem proteger suas populações que residem em áreas de risco e que sejam econômica e socialmente mais vulneráveis, planejando e executando políticas de prevenção de acidentes, sejam eles sísmicos ou meteorológicos.
Assim, podemos concluir que se tais eventos ainda são bastante imprevisíveis no atual estágio do conhecimento humano, mas suas consequencias não o são, cabendo aos governantes a responsabilidade de organizar a ocupação dos territórios para minimiza-las. Uma prova disso pode ser constatada ao analisarmos a maneira de como os Estados Unidos da América tratam a questão, regulamentando as construções e a ocupação em áreas de risco. É claro que isso envolve tecnologia e dinheiro de que os países pobres não dispõem.
Mas se o jornalismo se aprofundar nessas questões, e não se satisfizer apenas com o sensacionalismo dos números da escala Richter, poderá mostrar que as diferenças que separam ricos e pobres, até nisso, são abismais, quer seja entre diferentes nações, quer seja entre diferentes regiões, dentro de um mesmo país.
Até a próxima semana.
(*) Para mais informações consultar:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tect%C3%B3nica_de_placas
http://www.fisica.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=337
http://www.iag.usp.br/siae98/terremoto/terremotos.htm’