Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Machado

‘Quem fez o alerta foi a leitora Marina T. a respeito da notícia Patriota defende que Mubarak promova governo de transição, publicada dia 8 de fevereiro, elaborada com informações da agência BBC-Brasil. Realmente não constava das declarações de nosso ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, a posição retratada na manchete, nem na versão da ABr e tampouco na notícia original da agência inglesa.


Alertada, a Agência Brasil promoveu a correção no próprio título original, on-line, modificando-o para Patriota defende que Mubarak respeite desejo de mudanças. Desfeito parcialmente o engano, para muitos leitores que leram a notícia original ficou a impressão de que o Brasil defendia abertamente uma mudança de regime no governo do Egito. Para não falar nos transtornos diplomáticos que tal notícia poderia ter causado, vamos nos ater a questão meramente jornalística. A ABr, embora tendo corrigido o título, tornando-o mais fiel ao conteúdo das declarações da fonte, não publicou um ‘erramos’, ou seja, quem leu, leu, quem não leu, livrou-se do equívoco.


Mas como a Agência Brasil é fonte de informação para diversos outros sites, e não apenas para leitores individuais, em muitos deles a manchete equivocada permanece no ar até hoje: no site da Rede Brasil Atual, na seção de diplomacia da Revista Exame e inclusive no clipping de notícias do próprio Ministério das Relações Exteriores.


Em caso semelhante, quem alertou para o equívoco foi a leitora Luana Bonone, repórter do portal de notícias Portal Vermelho: ‘A informação que consta no título desta matéria, de que o PT defenderia o mínimo de R$ 580, é contraditória com o texto da matéria, que informa que , na verdade, o partido defende o acordo que mantém o mínimo em R$ 540 ou, no máximo R$ 545. Como a Agência Brasil é uma importante fonte de informação, que inclusive subsidia a produção noticiosa do Portal Vermelho, faço questão de alertá-los para que corrijam o erro.’


A matéria original a que a leitora se refere ficou no ar por três horas com o título equivocado informando que o partido do governo defendia uma posição contrária ao próprio governo. Neste caso a ABr constatou o erro, procedeu sua correção e publicou um ‘erramos’. Mas a informação equivocada permanece no ar em muitos sites, como por exemplo, no WEB10, no Diário de Pernambuco e no site Consulado Social: O Tabuleiro de Notícias da Bahia.


Citamos aqui apenas dois entre muitos outros casos em que o título não corrobora o conteúdo do texto apresentado. No jornalismo os procedimentos para a elaboração do título das matérias são tão importantes quanto à própria reportagem. A fidelidade entre as informações requer um rigor absoluto não dando margem a interpretações que podem eventualmente desfigurar o sentido de uma notícia.


Em uma redação, os repórteres produzem o texto após pesquisa, apuração e reportagem e os editores formulam as manchetes ao publicá-los. Os editores têm a responsabilidade de apresentar e zelar não só pela ‘cara’ do veículo como também por sua ‘personalidade’, impregnando as notícias com a identidade da agência, geralmente estabelecida no plano editorial. Portanto trata-se de um trabalho de equipe em que o título precisa ser negociado entre os participantes, pois geralmente o repórter aprofundou-se no assunto e pode colaborar com o editor para gerar uma manchete que ao mesmo tempo em que informe, consiga atrair a atenção do leitor, mas sem distorcer os fatos.


Esses procedimentos, embora aparentemente simples, são essenciais para a exatidão das informações e refletem o grau de diálogo e organização presente nas redações. A qualidade da informação depende disso também.


Até a próxima semana.’