‘Ouvir vários lados que representem interesses em uma questão é um dos princípios básicos do jornalismo. Apenas às assessorias de imprensa reserva-se o direito de não contrapor opiniões, uma vez que seu trabalho pressupõe ‘vender o peixe’, induzindo o leitor a uma pré-esperada conclusão.
Quando o assunto é complexo, como no caso do nosso comércio exterior, contrapontos são fundamentais para despertar o debate e qualificar a informação. Em duas matérias tratando de nossas exportações a Agência Brasil não teve a preocupação de buscar as diversas opiniões que representassem os interesses envolvidos.
José Ivan Mayer de Aquino protestou: ‘Não vejo valor político, diplomático ou técnico no entrevistado para merecer uma entrevista com esse teor sem contraponto do MDIC na mesma matéria’, a respeito da notícia Exportadores querem o fortalecimento da Camex, publicada dia 18 de novembro.
Para a ABr, ‘não há reparo a fazer no texto publicado’. No entanto, segundo a opinião da única fonte ouvida na matéria, embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, a Câmara de Comércio Exterior – Camex , órgão Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), responsável por formular, implementar e coordenar as políticas de comércio exterior do governo federal, ‘não tem autoridade, nem conta com o necessário prestígio político para colocar políticas em prática e exigir de outras instâncias de governo o cumprimento de suas decisões. Muito menos para tentar resolver problemas de logística, burocracia alfandegária e financiamento às exportações. A solução, segundo eles, seria reformular sua estrutura.’
Ainda segundo a mesma fonte ‘a proposta dos empresários é que a Camex passe a ser subordinada diretamente à Presidência da República, contando inclusive com a figura de um presidente que seria alguém com acesso direto ao presidente.’
Ou seja, o setor exportador julga-se tão importante que reivindica um assento ao lado do presidente da nação para discutir pessoalmente seus interesses. Uma discussão dessas torna-se muito difícil quando dissociada de um contexto que explique e desvende o emaranhado legal, burocrático e operacional do comércio exterior. Será que a crítica a atual estrutura do governo feita Rubens Barbosa não mereceria que pelo menos a Camex fosse ouvida, ou melhor ainda, o próprio Ministério a que está subordinada?
Outro leitor, Ivo Darci Pierdoná, apresenta-se, ele próprio, como narrador de sua experiência que serviria de contraponto ao que afirma a matéria BB faz parceria para ampliar apoio ao comércio exterior de pequenas e médias empresas, publicada dia 10 de novembro. Segundo Ivo: ‘ além de outras medidas de estímulo às exportações, identifica-se manifesta incoerência, para dizer o menos, com outras medidas de órgãos também governamentais. É que a Receita Federal está autuando as empresas industriais que vendem produtos destinados exclusivamente à exportação através de empresas comerciais exportadoras comuns ( não Traiding ), localizadas em zona de fronteira ( Foz do Iguaçu é exemplo ) exigindo da indústria o pagamento do IPI ( que seria suspenso ), bem como do PIS e da COFINS ( que seriam isentas ) inviabilizando as operações de exportação há muitos anos praticadas. É um absurdo inqualificável ( fico à disposição para maiores esclarecimentos).’
Ao contrário dos grandes exportadores, representados pela poderosa Fiesp, as pequenas empresas exportadoras são muito mais vulneráveis quando se fala em burocracia e regulação de comércio exterior. Os interesses privados que participam na Camex, por meio do Conex (Conselho Consultivo do Setor Privado), não incluem representantes que não estejam ligados às grandes empresas. As pequenas empresas não têm nenhuma representação. Em muitos casos, esforços individuais de comercialização de produtos no mercado externo, são dificultados por politicas públicas contraditórias ou equivocadas de organismos governamentais que atuam de maneira isolada. A referida matéria não levou em consideração a opinião desses exportadores ao anunciar uma parceria comercial. A maneira como aborda o assunto dá como liquido e certo o benefício de pequenos e médios empresários do setor, sem ouví-los.
A ABr respondeu: ‘Não temos reparo a matéria publicada. Quando voltarmos ao assunto vamos ouvir o leitor.’
Até a próxima semana.’