“Freqüentemente leitores, ouvintes e telespectadores escrevem para esta Ouvidoria apontando erros, imprecisões e informações erradas publicadas em matérias da Agência Brasil ou veiculadas pelas rádios e tevês do sistema público de comunicação gerido pela EBC. Essas manifestações, depois de devidamente tratadas pela Ouvidoria, são encaminhadas aos gestores dos diversos veículos para resposta e, quando é o caso, para possíveis providências reparando o erro, investigando suas causas e corrigindo os procedimentos.
É o público do veículo fazendo a leitura crítica do seu conteúdo e contribuindo para a gestão da qualidade da informação. Toda essa informação, arrecadada entre os próprios usuários, tem fornecido elementos para se avaliar os processos de produção da notícia em suas diferentes etapas e proceder às correções necessárias nos rumos da comunicação pública que queremos implantar neste país.
Mas nem sempre esse rico material produz os efeitos esperados, sendo muitas vezes compreendido e utilizado de maneira equivocada por gestores que têm dificuldade em processar essa informação e transforma-la em ações concretas junto às suas equipes.
Preocupada em fornecer subsídios para as empresas jornalísticas desenvolverem sistemas eficientes de gestão da qualidade da informação, um conjunto de publicações foi lançado pela Unesco no Brasil em novembro de 2010.
A pesquisa ‘Indicadores da Qualidade da Informação Jornalística’ (*), abordada em nossa coluna Erros e qualidade da informação jornalística, publicada em março de 2009, resultou em quatro publicações, até o momento: ‘Indicadores da Qualidade no Jornalismo: políticas, padrões e preocupações de jornais e revistas brasileiros; ‘Jornalistas e suas visões sobre qualidade: teoria e pesquisa no contexto dos Indicadores de Desenvolvimento da Mídia da Unesco’; ‘Sistema de gestão da qualidade aplicado ao jornalismo: uma abordagem inicial’ e ‘Qualidade jornalística: ensaio para uma matriz de indicadores’.
Os títulos fazem parte da série de debates em Comunicação e Informação iniciada em novembro de 2009, inserindo-se entre as prioridades do escritório local da Unesco.
‘Lançadas simultaneamente para facilitar a discussão sobre o tema da qualidade no jornalismo, as quatro publicações ajudam a compor um panorama de como jornais e revistas brasileiros vêm se organizando internamente para enfrentar desafios mercadológicos e a cada vez mais crescente exigência de seus públicos. Para isso, os pesquisadores recorreram a um amplo levantamento histórico das experiências e inovação e busca de excelência técnica, entrevistaram editores e gestores das principais publicações brasileiras, fizeram uma survey com jornalistas e desenvolveram bases para uma matriz de avaliação da qualidade nos meios impressos.’ (**)
Em Qualidade jornalística: ensaio para uma matriz de indicadores, o jornalista Luiz Augusto Egypto de Cerqueira, destaca:
‘No ambiente jornalístico brasileiro, são dignos de nota as formas e os métodos de observação da mídia que vêm se aprimorando conforme a sociedade passou a dispensar cada vez mais atenção à informação que consome, e com a qual agora passou a interagir, em especial a partir dos primeiros lustros deste século. Este movimento, que para além da crítica simplória no mais das vezes propugna o aprimoramento do fazer jornalístico, é um fenômeno novo no âmbito das relações sociais; sua compreensão requer acompanhamento e atenção constantes à atuação dos veículos de mídia e aos desdobramentos advindos da banalização relativa das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) – e as transformações de toda ordem que isso causou e acarreta.
A produção jornalística, neste novo cenário, abandona paulatinamente, mesmo à sua revelia, a configuração de um discurso unívoco para transformar-se, com o suporte das TICs, em um diálogo que tenderá a ser tanto mais produtivo quando mais se observar, nas duas pontas, o fundamento primeiro do jornalismo, a saber, sua submissão inegociável à verdade factual e à verificação de fidedignidade de suas fontes de informação.
Do ponto de vista estritamente jornalístico, esta
nova e mutante realidade está a exigir das empresas e dos profissionais jornalistas um compromisso cada vez mais claro com padrões de excelência – aceitos e compreendidos pelo conjunto dos envolvidos na atividade – e com programas de qualidade com vistas no aprimoramento permanente de processos e de produtos jornalísticos.’
É neste contexto que se insere a atuação desta Ouvidoria como instrumento de observação da mídia pública a serviço da atenção à informação que a sociedade passou a dispensar e contribuindo para a conquista de padrões de excelência.
De janeiro a junho deste ano 105 demandas foram recebidas pela Ouvidoria referentes a quatro das 18 categorias usadas para classificação das manifestações dos leitores. As quatro enfocam as informações apresentadas ou omitidas nas matérias publicadas pela Agência Brasil ou a forma da sua apresentação: 01) Erro de ortografia, gramatical e digitação; 02) Falta ou erro de apuração; 03} Falta de informação e 04) Informação errada.
A distribuição das demandas nas quatro categorias foi:
01) 14 (13%)
02) 10 (10%)
03) 11 (10%)
04) 70 (67%, precisamente dois terços)
A tabela mostra claramente que predominam os erros de informação entre estas quatro categorias de demandas.
Para Claudio Thomas, editor chefe, Diário Catarinense (Florianópolis, SC), um dos 275 jornalistas ouvidos pela pesquisa da Unesco, jornalismo de qualidade é: ‘oferecer aos leitores, telespectadores, ouvintes e internautas o melhor sempre, com índice de erro zero.’
Mas como o jornalismo pode reduzir o índice de erro a zero? Erros são facilmente percebidos, mas sua redução ou eliminação completa envolve um longo e complexo processo de gestão da qualidade da informação que começa a ser implementado por algumas empresas jornalísticas. A matriz proposta por Luiz Egypto é um bom ponto de partida.
À metodologia e ao conhecimento, já disponíveis há algum tempo, vem agora somar-se o trabalho da Unesco, com profundidade e abrangência técnica suficientes para elevar a qualidade da informação à altura que o público merece e tem direito.
A Ouvidoria da EBC em sua plena atuação visa provocar respostas úteis para que esse processo se implante a partir de um compromisso com o interesse público – vale dizer, com a democracia e com seu aprimoramento.
Retomando as palavras do jornalista Luiz Augusto Egypto: ‘O ofício jornalístico, por seu papel de fomentador do debate público e instância determinante da vida democrática, é antes de tudo uma atividade de interesse público e, como tal, deve submeter-se à vigilância proativa da sociedade a que serve e às determinações éticas inerentes a essa condição.’
Até a próxima semana.
(*) – disponível aqui.
(**) – Reproduzido do blog Monitorando, de Rogério Christofoletti, onde as publicações poderão ser baixadas gratuitamente.”