Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

“'Jornalistas trabalham para que as perguntas que todo cidadão tem o direito de fazer sejam respondidas.' Eugenio Bucci, jornalista e professor

Um mês entre o final das investigações e a prisão de 10 homens. O que explicaria toda essa demora? Falta de policiais? Lentidão da Justiça? Fuga dos suspeitos? Nada disso. A justificativa da Polícia foi risível: dar visibilidade ao fato na celebração do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A manipulação deu certo. Todos os jornais destacaram na edição do dia 19 o pacote de prisões e os discursos dos delegados, concretizando o show midiático que o setor de Segurança queria.

Ninguém da imprensa questionou a espera de 30 dias para a prisão de criminosos. E os riscos de fuga ou de mais ataques sexuais? A notícia, aliás, foi publicada só no O POVO, no segundo parágrafo da matéria 'Dia de combate é marcado por 10 prisões', da editoria Fortaleza, e atribuída à Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional da Secretária da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará. Mesmo assim, o jornal decidiu não destacar a demora e 'mostrou o serviço' da polícia. Acertou, porém, em não dar os nomes dos envolvidos conforme orienta o Estatuto da Criança e do Adolescente. 'O POVO não revela o nome mesmo que eles sejam condenados, quando existe a possibilidade de identificar a criança ou adolescente', alertou a editora executiva do Núcleo de Cotidiano, jornalista Tânia Alves.

Conformismo perigoso

Questionada, a autora da matéria, jornalista Janaína Brás, definiu como 'estardalhaço esse questionamento renitente sobre os trinta dias tendo a Inteligência (setor) realizado a apuração antes ou não'. Segundo ela, a definição de uma data específica é praxe por ser uma operação especial. 'Por esses motivos não me ocorreu questionar a escolha. Pareceu-me razoável', afirmou. 'Os policiais foram certeiros. Como sociedade, fiquei satisfeita'. Ela concorda, no entanto, ser importante fiscalizar as ações prometidas e a parceria entre os órgãos de segurança.

Que a Polícia ou qualquer outro órgão e empresa, pública ou não, tentem divulgar uma boa imagem é normal. Faz parte do jogo. Para isso possuem estratégias de marketing e assessorias especializadas. O que não é normal é a imprensa adotar postura passiva. Cabe a ela questionar, avaliar, analisar e deixar o leitor informado para decidir. Nesse caso específico, insisto que a decisão de atrasar as prisões para ganhar visibilidade é, no mínimo, questionável. Conformismo não combina com jornalismo.

Vícios de infância

Uma das maiores reclamações dos leitores é com o mau uso da língua portuguesa, exatamente a principal ferramenta do jornalista. A leitora Ana Cristina Callado, professora, enviou ao ombudsman vários exemplos do que ela chama de 'deslizes e desvios da norma culta'. A seleção aponta erros de concordância e digitação da edição do dia 14 e sugere a contratação urgente de revisores. O leitor José Delano reforça: 'Tem erros que doem no ouvido'. Ele se refere à matéria 'Mãe mata bebê de nove meses', publicada dia 19, em Ceará. Durante todo o texto, a acusada é chamada de 'a réu'. Segundo o dicionário Aurélio, réu é 'aquele que é demandado em juízo, por uma ação cível ou criminal. O feminino é ré'.

No O POVO a figura do revisor foi extinta há anos. Todo trabalho é feito pelos jornalistas. Para auxiliar há o uso de corretores dos programas de edição. Os erros vão continuar, é lógico, faz parte do ser humano. A meta é minimizá-los através de cursos de aperfeiçoamento anualmente promovidos pela Redação. O problema é que muitos vícios são antigos, oriundos da época em que os jornalistas brincavam nos corredores das escolas de ensino fundamental.

Bomba em Brogodó

No jornalismo, a matéria perfeita é aquela que responde seis perguntas: Quem? Quando? Como? Onde? O quê? e Por quê? Não foi o que aconteceu nesta Breve da editoria Brasil, dia 19: 'Uma bomba de pequeno porte explodiu na mochila de uma estudante de 14 anos, na segunda-feira, colocada por uma colega da vítima – também de 14 anos. Na hora da explosão, no recreio, não havia alunos na sala de aula. Ninguém se feriu'. Pois bem, o que faltou na notícia? Talvez o mais importante: o local do fato. De jeito que foi publicada, podia ser em qualquer lugar: no Rio de Janeiro, em Mauriti ou mesmo em Brogodó. Ficou a cargo da imaginação do leitor.

Esquecido pela mídia: Implantação no Ceará de Banco de Dados de DNA para criminosos e desaparecidos.

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