‘No texto jornalístico não cabem adjetivos, circunlóquios, metáforas, eufemismos e outras figuras do idioma. É um texto simples, claro, objetivo e, se possível, breve’ Leandro Fortes, escritor e jornalista Um erro de comunicação dentro de uma empresa jornalística pode parecer contraditório. Mas acontece com certa rotina. A prova ficou explícita ao leitor em uma sequência de erros e que terminou de forma melancólica. No sábado (19), a editoria Fortaleza publicou, em manchete da página 9, matéria com a Secretária da Educação do Ceará, Izolda Cela, comentando nota da Prefeitura sobre resultado obtido pelas escolas municipais no Spaece-alfa 2009, pesquisa que avaliou nível de leitura de alunos da rede pública do Ceará. O texto dizia que a própria secretária procurou O POVO para dar as declarações. No domingo, um Erramos da editoria avisou que não foi a secretária, mas o próprio jornal que buscou a dirigente para ouvir as declarações. Ora, e quem escreveu a matéria não foi o mesmo que falou com Izolda Cela? Segundo a jornalista Tânia Alves, editora executiva do Núcleo Cotidiano, houve um mal entendido na comunicação da pauta e o repórter falou com a secretária pensando que era ela quem havia ligado. Na edição não foi percebido tal engano. Mas não ficou nisso. Três dias depois, o jornal publicou como manchete da página 5 (‘Titular da Seduc explica declaração feita ao O POVO’), um texto da própria secretária, escrito na primeira pessoa, com novo tom aos comentários. Ora, artigos emitem opinião e têm local definido no jornal (páginas de Opinião e seção Ponto de Vista). Não devem ser editados como matéria jornalística, onde há certas regras como ouvir outras fontes, relevância e contra-pontos. ‘Não foi a melhor solução para colocar o texto, mas havia pouco espaço e urgência na publicação’ explicou Tânia Alves.
EDIÇÃO CRITICADA
A página Fala, Cidadão, publicada sempre às quartas-feiras, é um dos canais de maior interatividade do O POVO com seus leitores. É um espaço para publicação de cartas e fotos enviadas através de colaborações espontâneas. Nem sempre estão no tamanho ou com a leitura ideal e acabam editadas. Resultado: algumas alterações desagradam os autores. ‘O POVO é o meu jornal predileto e para o qual tento prestar a minha humilde colaboração. Porém, uma pequena observação: quando alteram um texto às vezes deixam-no sem sentido’ reclamou Hildeberto Aquino, de Russas. No texto de autoria do leitor (‘Que venha Portugal!’), publicado no último dia 23, foi retirado o termo ‘metem o pau’ no primeiro parágrafo. ‘Talvez por ser chula, mas que dava melhor entendimento’ afirmou. Realmente, sem a expressão cortada, a frase ficou sem sentido: ‘Se perde, se ganha, é que além de bons – os melhores do mundo – temos também o melhor técnico….?’. A editora adjunta do Núcleo de Opinião, Jacqueline Costa, reconheceu que houve falha na edição.
DESCONFIANÇA
Já o assessor de imprensa Daniel Negreiros reclama de alterações em seu texto que saiu no mesmo dia que rebate artigo publicado na segunda-feira sobre incidente em uma casa noturna e escrito por Magela Lima, editor assistente do núcleo de Cultura e Entretenimento. ‘Desconheço a obrigatoriedade de edição de Notas de Esclarecimento que a meu ver deve (sic) ser simplesmente publicadas’ escreveu ele, criticando a troca na ordem dos parágrafos. Não foi só a troca. A edição fez também a correção gramatical no material, no que acertou. Segundo Jacqueline Costa, as mudanças foram feitas para a compreensão do leitor. Um aviso no alto da seção deixa claro essa possibilidade. Negreiro protestou ainda da ausência da página na versão digital. ‘Conveniência política de coleguismo interno?’ questiona ele. A editora do O POVO Online, Marília Cordeiro, nega qualquer tipo de proteção e que a ausência ocorreu por problema técnico. ‘Os textos foram inseridos no portal em uma pasta chamada ‘Fala, cidadão’ que não estava programada para aparecer na lista do ‘Jornal de Hoje’, que é gerada automaticamente’ explicou. O fato já foi consertado.
PEGADINHA FLAGRADA
A relação de alguns leitores com o jornal parece ser de eterna desconfiança. Muitos ligam para o ombudsman dizendo-se censurados em suas colaborações no jornal impresso ou nos comentários online. Outros alegam proteção para este ou aquele personagem público, tendências em torno de um time de futebol, etc. Uma relação curiosa e contraditória. Criticam, mas continuam fieis na leitura diária. ‘Sou viciado no O POVO’ disse o leitor Francisco Couto, ao reclamar da ficha técnica incompleta – constantemente falta a data dos jogos realizados. A desconfiança acaba sendo mútua quando há o anonimato e, principalmente, a tentativa de manipulação. Vejam o exemplo. No dia 24 de maio o ombudsman recebeu dois e-mails com o mesmo tom de crítica e deboche contra os novos articulistas que estrearam cerca de um mês antes. Entre as duas correspondências uma estranha coincidência: o fato de se identificarem com nomes japoneses – Sara Tanizaki e Lara Makioka – o que, convenhamos, algo não muito comum no Ceará. Retornei os e-mails solicitando o número do telefone para contato. Até hoje não recebi resposta. Era uma pegadinha. No mesmo dia, logo cedo, em ligação telefônica uma leitora, professora universitária, havia feito as mesmas reclamações, pedindo o retorno de articulistas antigos. Em tempo: Junichiro Tanizaki é um escritor japonês cuja principal obra foi, adivinhem? As irmãs Makioka.’