‘‘A imprensa deve ser livre. O jornalista, saber o seu papel. Cobrar, ir atrás, investigar.’ Pedro Taques, ex-procurador da República O caos em Fortaleza estava previsto. Tinha data e hora certa para começar: quinta-feira, 11 horas. De um lado os donos de empresas de ônibus, do outro, motoristas e cobradores. Ambos envolvidos em uma negociação salarial que se arrasta há meses sem uma solução definitiva. Uma nova greve era iminente. No meio dessa confusão uma população de trabalhadores dependentes do já deficitário sistema de transportes. O leitor Vicente de Paula, precavido com o que viria pela frente, relembrando a paralisação de junho, indicou o caminho. ‘Vamos saber o que dizem os outros empresários, os dirigentes do CDL, afinal eles são patrões também e terão que arcar com o prejuízo dos funcionários faltando ou chegando atrasado’ aconselhou ele na quarta-feira, um dia antes da greve. Nada disso foi feito pela imprensa.
Ainda na quarta-feira, a prefeita Luizianne Lins, em coletiva, reafirmou o que já vinha fazendo em anúncios pagos desde a semana anterior. Não iria aumentar a passagem nem se envolver na negociação e que, segundo ela, o movimento tinha caráter político. Os jornais reproduziram o discurso. Ninguém apareceu para fazer uma pergunta simples: E a população, como fica? No dia da greve anunciada, 12 de agosto, O POVO deu matéria com dicas de como as pessoas deveriam fazer para chegar ao trabalho e voltar para casa. Até então, ninguém se lembrou de relembrar como ficou a cidade na paralisação ocorrida em junho e que poderia se repetir.
ESTRANHO SILÊNCIO
Veio a quinta-feira e a previsão se confirmou. Confusão, atrasos, engarrafamento, quebra-quebra. O POVO estampou na capa, não como manchete: ‘Greve: cidade parada e trânsito caótico’. O óbvio. Os outros principais jornais do estado manchetaram o assunto. Era previsível. O que ninguém fez na cobertura da greve, incluindo O POVO, foi exatamente ouvir os responsáveis pela administração do setor de transporte de Fortaleza sobre a confusão que se formou. Mostrou-se o problema do impasse salarial, da bagunça que se transformou o trânsito, as discussões e a ‘aventura’ das pessoas pelas ruas.
Faltou à imprensa cobrar da Prefeitura uma atuação eficaz, demonstrando como os gestores municipais executaram – ou não – as medidas definidas para minimizar a dor de cabeça da população. Simplesmente ninguém da AMC (Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza) ou da Etufor (Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza) foi ouvido. A atuação desses órgãos passou quase em branco nos jornais, sem registro detalhado do que foi realizada de forma certa ou errada. Nenhuma avaliação. Que a prefeita decida não se envolver na negociação é um direito. É uma posição do gestor. Questionável ou não, é uma filosofia de trabalho. O que não pode é o jornalista esquecer o seu papel e simplesmente se calar diante do que se viu na cidade.
SÍNDROME DE PERSEGUIÇÃO
Depois de publicar matéria com um ‘suposto’ profeta do Orkut na edição do dia 1º de agosto que previu a permanência do Fortaleza na Terceira Divisão do futebol brasileiro, o torcedor tricolor não gostou nada do que leu na edição do sábado, dia 7, na editoria Gol. No abre – trecho inicial da matéria – da manchete da página 18, O POVO publicou que o Fortaleza enfrentaria o Paysandu, em busca de vaga na próxima fase da ‘Série D’. O engano, a troca das séries C pela D, ou seja, da terceira pela quarta divisão, respectivamente, foi suficiente para o leitor Joaquim Bezerra Soares desconfiar de preferências. ‘o articulista já nos coloca como disputantes da Série D. O faz por desprezo e desmazelo ou por intimamente assim o desejar, como os simpatizantes das hostes rivais que de fato auguram que estivéssemos nessa divisão ainda mais inferior’ afirmou, solenemente.
No mesmo e-mail ele qualifica de má vontade com o Fortaleza a divulgação de que apenas seis mil dos 22 mil ingressos haviam sido vendidos antecipadamente. ‘Um contingente incalculável de torcedores retornaram do Castelão no sábado, dia do jogo, por não encontrarem mais ingressos à venda’ acusou ele. De fato a editoria errou a competição que o time leonino disputa. Cobrada pelo ombudsman, fez a correção na edição de terça-feira. Mas o segundo erro foi da diretoria do clube. O jornal não tinha como prever, 24 horas antes da partida, que ia faltar ingresso. A informação da venda foi dada pelos dirigentes tricolores que ainda prometeram abrir todas as bilheterias. Na realidade abriram menos da metade, o que causou tumulto ao seu próprio torcedor, conforme matéria dada na edição de domingo. Essa o leitor esqueceu-se de citar.
INVESTIGAÇÃO APROVADA
O POVO iniciou na quarta-feira passada uma boa série de reportagens investigativas denunciando irregularidades no pagamento do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) no interior do Ceará. Um leitor, que pediu para que seu nome não fosse revelado, elogiou a iniciativa e ficou surpreso ao saber do esquema pelo jornal. Ele disse que foi vítima de caso semelhante em sua cidade, Santa Quitéria, por um acidente sofrido em 1993, mas que o boletim de ocorrência foi lavrado como se fosse em 2003. Até hoje não recebeu nada. ‘Tomei um susto quando li a notícia no jornal. Não sabia que era esse esquema todo’ afirmou ele, dando mais detalhes sobre o funcionamento. As informações foram repassadas aos autores das matérias. Pior que o susto do leitor, foi a confirmação de um representante do Instituto Doutor José Frota de que pessoas ligadas a hospitais particulares abordam, há tempos, pacientes dentro da instituição com promessas de recebimento de dinheiro. O que o diretor do IJF considera rotina, não é nada normal. E deve ser cobrada uma nova posição.