‘Quando a imprensa abandona seu eixo, todos saem perdendo. Principalmente a imprensa. – Luciano Martins Costa, jornalista
Vamos direto ao ponto. Qualquer revista ou jornal não depende de concessão pública para ser publicada. Portanto nada impede que um desses veículos declare abertamente preferências partidárias ou apoie este ou aquele candidato. Aliás, até deveria. Pelo menos evitaria tanta hipocrisia vendida como jornalismo imparcial. Vendo por este prisma, o presidente Lula está certo.
Segundo. O papel da imprensa é fiscalizar o poder público, denunciar irregularidades, defender a cidadania, fazer as perguntas que ninguém quer ouvir. E, principalmente, cobrar respostas. Portanto, presidente, democracia é também saber ouvir críticas e respeitar opiniões divergentes. E não fazer ameaças de acabar com veículos de comunicação que não seguem o mesmo pensamento de quem está no poder. Denúncias, aliás, que se causaram tanto alvoroço é porque têm sua parte de verdade. Por este lado, o presidente Lula está errado.
Por último: não vejo ameaça, neste momento, para a liberdade de imprensa. Há para a credibilidade dela. Principalmente quando um meio de comunicação se esquece da responsabilidade de informar corretamente ao leitor, de falar a verdade e de não manipular fatos baseado em suposições. Neste ponto, podem culpar a imprensa. Para evitar excessos – além dos dispositivos legais – é que ganha força a figura independente do ombudsman. Mas se o presidente não está pronto, nem todas empresas de comunicação têm coragem suficiente de expor seus próprios erros.
Artigos em dose dupla
Ter um artigo publicado no O POVO não é uma tarefa das mais fáceis. Não que haja restrições, mas a procura é grande e a seleção criteriosa. Pelo menos era isso que o leitor Ireleno Benevides pensava até o último domingo, 19, quando o Vida & Arte repetiu dois artigos que já haviam saído no dia anterior em Opinião. ‘Isso é um absurdo. Não tem outras pessoas para escrever? ‘, indagou ele. ‘Quero deixar meu veemente protesto’. A trapalhada em dose dupla privilegiou os artigos de Izabel Petraglia (‘Um cidadão planetário’) e Rosamaria de Medeiros Arnt (‘Os Sete Saberes e as urgências de nosso tempo’) sobre o sociólogo francês Edgar Morin.
Magela Lima, editor executivo interino do Núcleo de Cultura e Entretenimento, disse que o caderno foi fechado na quinta-feira e a página de Opinião no dia seguinte. Segundo ele, houve um acerto com a editora de Opinião, Manoella Monteiro, sobre a cobertura do tema. Ela prometeu uma explicação oficial, o que não fez até o fechamento da coluna. Qualquer trabalho em equipe exige certa disciplina, o que parece não ter acontecido neste caso.
Jornal velho
‘Eu estou idoso, mas vou ter que aprender a mexer em computador para saber os resultados dos jogos. O jornal simplesmente não dá mais’. O desabafo é do leitor Francisco Couto, 70, depois de folhear a edição da última quarta-feira e não encontrar o resultado do jogo Icasa 0 x 0 Sport, pela Série B do Brasileirão. Pior é que nem mesmo a demissão do técnico Dorival Junior, do Santos, anunciada na mesma noite, foi dada pela editoria Gol. ‘Durante os jogos da noite foi anunciada pela TV. Porque não estava no jornal?’ indagou outro leitor, que preferiu não se identificar. A questão do horário de fechamento foi enviada para a chefia de Redação, para a jornalista Tânia Alves, editora executiva do Núcleo Cotidiano, e para o editor adjunto do mesmo núcleo, Rafael Luis.
Ambos afirmaram que o caso deveria ser respondido pela chefia, que é quem define horários. Até o fechamento da coluna, na sexta-feira, a resposta não foi enviada. A Agência Estado, uma das que abastece o jornal com notícias nacionais, disponibilizou informações a partir das 23h21min de terça-feira. A concorrência publicou as matérias. Apesar dos avanços tecnológicos, O POVO revê rotineiramente seus processos diante de fatores como demanda, crescimento das cidades e trânsito. Mas se os gestores decidem abdicar de determinados assuntos devido ao horário precisam deixar isso de forma mais respeitosa ao leitor.
Bons exemplos
O POVO teve dois bons momentos nas últimas edições. Duas aulas de jornalismo que podem servir de exemplo da importância de uma imprensa livre e responsável. O primeiro na edição de terça-feira, ao denunciar esquema de troca de votos por atendimento médico em um comitê de candidato a deputado estadual. O jornal saiu da denúncia simples, cômoda e fácil e comprovou in loco o abuso. O flagrante foi garantido pelo anonimato, um recurso ético totalmente válido dentro do jornalismo quando se trata da apuração de irregularidades. Outra boa pauta foi um especial mostrando a atuação dos atuais deputados, muitos deles em busca da reeleição. Estranho mesmo só o fato das duas matérias não serem aproveitadas como manchete do jornal.
Ruas do centro
E o leitor Carlos Martins estava realmente certo. Não há mesmo coleta seletiva no Centro como O POVO informou na série ‘Ruas do Centro’, encerrada domingo. A própria Secretaria Executiva Regional do Centro de Fortaleza (Sercefor)enviou e-mail ao ombudsman esclarecendo o caso. ‘Este especial informou que a coleta seletiva era feita diariamente no bairro e, erroneamente, atribuiu essa informação à titular da Sercefor (Luiza Perdigão). O fato causou a reação de condenação por parte de um leitor, o que foi repercutido na sua coluna’, esclareceu a secretaria. A repórter Gabriela Menezes, autora da série, admitiu errou quando se referiu ao tipo de serviço de limpeza. O Erramos foi publicado corrigindo equívoco que durou quase um mês.
Esquecido pela mídia: Projeto que visava tirar agências funerárias das proximidades de hospitais.’