‘No último dia 6, O POVO publicou a excelente reportagem ‘Educadores sem preparo para falar sobre drogas’, de autoria do repórter Ricardo Moura. Na seção ‘Serviço’, além de informações sobre o que os educadores devem fazer para entrar em contato com o Centro de Atenção Psicossocial ao Álcool e outras Drogas, havia também este estranho aviso: ‘Você conhece algum caso de drogas nas escolas? Envie seu relato para opovo.com.br. Os nomes dos alunos e dos estabelecimentos de ensino não serão divulgados’.
O psiquiatra, antropólogo e colaborador do O POVO, Antonio Mourão, estranhou a publicação do aviso e mandou-me e-mail protestando contra o que considerava um incentivo à delação. ‘Achei extremamente estranho que o jornal esteja concitando à deduragem’, dizia ele na mensagem recebida por mim na última sexta-feira à noite, quando eu estava fechando a coluna de domingo (11).
Sei da boa intenção do repórter, mas acho que Mourão, psiquiatra e, como tal, conhecedor da alma humana, tem suas razões em preocupar-se com a abertura de um precedente perigoso. Teria sido uma boa iniciativa do jornal o tal aviso? Acho que não. Estaria o jornal ultrapassando o seu papel de informar e orientar os leitores, ao se envolver daquela maneira em assunto tão delicado? Creio que sim. Mas não tenho a palavra definitiva. O assunto está em discussão. Uma pauta para futura reportagem, se me permitem a sugestão.
Por isso, eu decidi publicar o comentário numa nota da Coluna de domingo último (11/5). Como uma provocação, no sentido positivo da palavra. Provocação, segundo o Novo Aurélio Século XXI, é também ‘desafio, repto’, além de ‘estimulação, incitação’. As duas últimas palavras refletem mais o objetivo da nota. Quem tem medo de discussão?
REAÇÃO
A nota, no entanto, gerou protestos do repórter Ricardo Moura e do Núcleo de Cotidiano, na pessoa da editora-executiva Tânia Alves, que assim se manifestou: ‘Fiquei surpresa com a última nota da sua coluna publicada no dia 11, intitulada ‘Dedurismo’. E estranhei não ter sido comunicada do conteúdo da mensagem enviada pelo leitor Antônio Mourão Cavalcante, para que pudesse dar a devida resposta. Estranhei, acima de tudo, a linguagem utilizada pelo leitor, que usa palavras como ‘marmota’, ‘péssimo jornalismo’ e jornalismo ‘antiético’. Pergunta inclusive quem garante o sigilo nos casos das mensagens enviadas. Nós, do O POVO, garantimos e isto é de praxe. Não somente nesta situação, mas em todas as outras quando necessária. Quanto ao fato de serem relevantes ou não os depoimentos cabe a nós decidirmos, mesmo porque será cada vez mais comum a participação dos leitores no O POVO. Sobre os depoimentos, o que interessava era a situação e não os nomes das pessoas ou das escolas. E isto não é antiético’.
Como o assunto envolveu também a equipe do portal O POVO.com.br, Marília Cordeiro, editora de Convergência (responsável pelo setor), também se manifestou: ‘A iniciativa de trazer internautas/leitores à participação é de profundo acordo com a proposta de convergência de mídias do O POVO e com a chamada colaboratividade do público que hoje está tão presente nos portais de notícias on line. O portal O POVO.com.br acredita que todo o material recebido por meio do link (ao qual só têm acesso a equipe do portal e do Cotidiano) será trabalhado de forma responsável – não ficará como ‘fato isolado’ – pelo repórter designado para escrever a série’.
Do ombudsman: Quanto ao fato de eu não ter avisado que publicaria a declaração do dr. Antonio Mourão Cavalcante, interpretem-no também como uma provocação positiva, mencionada acima.
Não vou citar nomes, mas já tenho até recebido negativas secas quando cobro – pessoalmente – respostas a alguns questionamentos de leitores – ou meus – sobre matérias publicadas neste jornal. Nem por isso me desespero. Continuo a pedir retornos. Há exceções: alguns editores e repórteres fazem questão de nada deixar sem resposta. Também prefiro não citá-los porque posso esquecer algum nome.
PSOL COM PR?
Leitor cobra da editoria de Política os desdobramentos do possível encontro entre o deputado estadual Adahil Barreto (PR), pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, e o ex-deputado João Alfredo, membro do diretório estadual deste último partido, ‘para discutir uma possível coligação’, conforme noticiou O POVO quinta-feira última (15/5, página 22, Política). Como seria essa coligação tão, digamos, esdrúxula do ponto de vista ideológico? A edição de sexta-feira última nem a de sábado não trouxeram uma linha a respeito do assunto. Houve tal reunião? O leitor quer saber.
ÁGUA COM LUZ
O texto da manchete de sexta-feira última (‘Conta de água mais cara 6,11%’) diz: ‘A Agência Reguladora de Fortaleza autorizou reajuste de 6,11% nas tarifas de água e esgoto para o consumidor residencial. Para o comércio e iluminação pública os reajustes serão de 6,98%, 7,10% e 7,26%, respectivamente’. É uma chamada para a matéria ‘Tarifa de água terá alta de 6,11% em Fortaleza’ (Economia, página 29), que traz a mesma informação. O problema é saber o que iluminação pública tem a ver com conta de água. Nada. A nota na seção ‘Erramos’ deste sábado nada esclarece: ‘Na matéria ‘Conta de água mais cara 6,11%’, onde são discriminadas as faixas de consumo, o correto é apenas Pública e não como foi publicado’.Fica a pergunta: ‘Pública o quê’?
Até domingo.’