‘O Povo cometeu, na última sexta-feira (20/6), talvez o maior erro do ano e que, certamente, ficará na história das falhas deste jornal. Diz o texto de 2min com o título ‘Bailarina’: ‘Pela segunda vez em 14 anos, Gustavo Farias Facó vai a júri popular hoje (20/6) pelo assassinato da bailarina Renata Maria Braga, com um tiro no olho, na noite do dia 28 de dezembro de 1993, na avenida Beira Mar, durante uma discussão de trânsito. O julgamento começa às 9 horas e será presidido pelo juiz da 5ª Vara do Júri, Jucid do Amaral. O promotor de Justiça Walter Silva Pinto Filho, responsável pelo caso, lembra que Gustavo acabou sendo beneficiado durante todos estes anos pela lentidão penal. ‘Infelizmente, casos como este passam uma sensação de impunidade muito grande na família e na sociedade’, diz Amaral’.
Um desastre de informação. Quem respondeu no júri na sexta-feira última pelo homicídio da bailarina Renata Maria Braga foi Vladimir Porto, autor do disparo. Gustavo Farias Facó, que estava no carro, ao lado de Renata, era o alvo de Vladimir. Os dois haviam discutido depois de um incidente de trânsito. Vladimir em um carro e Gustavo noutro. O tiro, disparado por Vladimir, que seria para Gustavo, atingiu Renata em um dos olhos.
Seis leitores (dois se identificaram – Francisco Matos Leitão Kunto e Alexander Brígido – e quatro outros preferiram ficar no anonimato) me ligam no mesmo dia demonstrando perplexidade e revolta com a notícia.
Alexander Brígido alerta sobre os efeitos que a ‘informação’ pode ter no caso, principalmente no estado de espírito de Gustavo Farias Facó que, segundo ele, ainda guarda traumas do episódio.
Desculpas
Da editora-executiva da Redação, jornalista Fátima Sudário, recebi, na mesma sexta-feira, os seguintes esclarecimentos sobre o episódio: ‘A Redação reconhece que cometeu um erro grave. Já conversamos com as editoras do Núcleo de Cotidiano que providenciaram a correção, com o devido pedido de desculpas, na mesma página na qual sairá (saiu) a matéria do resultado do julgamento. Lamentamos profundamente o ocorrido e, mais uma vez, nos desculpamos com o Gustavo Farias Facó e a família dele pelos transtornos causados’.
Antecedente
Fato semelhante e muito mais grave ocorreu nos anos 80 ou 90. Um garoto havia sido vítima de um choque elétrico e ficara desacordado. O pai, que tinha conhecimentos básicos de primeiros socorros, tentava reanimá-lo com pancadas no tórax e respiração boca a boca. Vizinhos interpretaram isso como uma agressão (até de natureza sexual) e acionaram a polícia que prendeu o cidadão. O menino morreu. O Povo trouxe uma manchete trágica se referindo ao homem que tentara salvar o filho como ‘pai monstro’. No outro dia, o jornal admitiu o erro, mas, para tentar se livrar da culpa pela grave injustiça cometida contra o pai da criança, procurava responsabilizar a Polícia. Um vexame histórico.
Alcides Pinto
Na quarta-feira (18/6), O Povo publica a carta ‘Correção’, assinada por Jamaica, Alexsandra e Antonin Artaud Pinto, filhos do poeta José Alcides Pinto, na qual eles fazem correções à matéria ‘O Feiticeiro ganhou asas’ (Vida & Arte, 3/6), dizendo, em um dos trechos: ‘Na matéria, o repórter Henrique Araújo citou trechos onde diz que nosso pai morreu pobre, numa vila miserável e vivendo da caridade. Devemos entender que simplicidade e miserabilidade não andam juntas’.
Tudo bem, o repórter Henrique Araújo citou ‘no texto informações colhidas junto a amigos e familiares do escritor’, como explica na ‘Nota da Redação’, publicada abaixo da carta.
Não culpo o jornalista. Mas, a meu ver, tais ‘informações’ por ele colhidas refletem a visão estreita e mesquinha da classe média fortalezense: a de que uma pessoa só pode estar bem de vida quando tem um apartamento luxuoso, carro do ano (importado, é claro) e viaja constantemente a Miami para comprar bugigangas eletrônicas.
O poeta Alcides Pinto optou por viver na pobreza (miséria, não) e não se queixava da vida. Nas vezes que eu encontrava com ele no Centro, o poeta demonstrava o mesmo espírito brincalhão de cearense. Estava muito bem. Tinha um espírito superior, bem acima das mediocridades locais.
O Jacarecanga
Editoria de Fortaleza feminiza o nome do bairro do Jacarecanga com o título: ‘Marcha com Jesus sairá da Jacarecanga’ (14/6, página 10, Fortaleza). Se Jacarecanga é bairro, então deveria ser ‘sairá do Jacarecanga’. Eu morei ali (o bairro já estava decadente) durante parte da infância, toda a adolescência e parte da maturidade, nunca ouvi ninguém dizer: ‘Eu moro na Jacarecanga’ e sim: ‘Eu moro no Jacarecanga’. Interessante é que a mesma editoria usa ‘o Ronda do Quarteirão’ e não ‘a Ronda do Quarteirão’ (mais correto gramaticalmente devido à concordância de gênero), com o argumento de que se trata do ‘programa’ Ronda do Quarteirão. O mesmo não vale para bairro, não?
No último dia 17/6 (página 3, Fortaleza), é publicada ‘Memória de um tempo de glamour’, boa matéria de Raquel Chaves mostra o histórico e outrora charmoso bairro do Jacarecanga. O jornalista e radialista Narcélio Limaverde, memorialista da Fortaleza antiga (principalmente dos anos 40 e 50), também elogia a reportagem, mas faz uma correção: quem morou na ‘Casa da Normandia’ não foi o ‘ministro Brasil Soares’ e sim o ministro Raimundo Brasil Pinheiro de Melo.’