Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Verlaine

‘Andreza Kelly, 15, era uma menina carinhosa e calada, segundo as pessoas que a conheceram. Mas, começou a apresentar mudanças de comportamento que a levam ao internamento num abrigo de adolescentes, embora nunca tenha matado nem roubado ninguém.

No ambiente de internamento (Casa Abrigo da Funci), atrita-se com uma colega. Há briga. Basta isso para alguém selar o destino da garota: ela foi levada para a Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro, no Olavo Bilac, onde duas internas já haviam decidido, segundo a Polícia, matar a próxima menina que chegasse ao dormitório ocupado por elas. Andreza é assassinada: estrangulamento.

A história lembra o enredo do filme Rope (Corda), de Alfred Hitchcock, traduzido no Brasil como Festim Diabólico: em Nova York, dois jovens matam um terceiro rapaz num apartamento, sem nenhum motivo. E ocultam o cadáver em um baú, que serve de mesa no meio da sala, durante festa que promovem logo depois do crime.

O POVO noticia a morte da adolescente em manchete (‘Garotas estrangulam menina de 15 anos’) e acompanha o caso. Mas o jornal não ouve o governador Cid Gomes sobre o episódio. Não é feito editorial para questionar possível omissão ou negligência das autoridades no caso.

O leitor José Berchman em mensagem enviada a este ombudsman compara o caso à prisão, pela Polícia Federal, de três dirigentes de órgãos ligados à questão ambiental, também objeto de manchete do O POVO (‘Presos dirigentes do Ibama, Semace e Semam’, 30/10). Em editorial, o jornal critica os ‘constrangimentos’ a que foram submetidos os três dirigentes de órgãos públicos.

Indaga, através de e-mail, se o jornal, que registrou a insatisfação do governador sobre as prisões dos grã-finos, perguntou à autoridade qual o sentimento dele sobre a vida perdida e a forma como ela ocorreu.

Berchman tem razão. O governador Cid Gomes não se pronunciou sobre o caso (morte da garota numa dependência estadual), mas o jornal deveria tê-lo questionado sobre o assunto.

Cadê os bichos?

Assis Dantas é leitor do O POVO. Na terça-feira última (28/10), leu a matéria ‘150 animais serão expostos em congresso no Centro de Convenções’ (Página 3, Fortaleza). O texto referia-se ao Congresso Nacional de Medicina Veterinária para Pequenos Animais.

O problema é que Dantas foi ver os 150 animais anunciados, mas só constatou ali ‘quatro aquários e dois gatos’. No comentário interno de quarta-feira (29), registro a reclamação e procuro saber se O POVO havia se baseado apenas no release (texto distribuído à imprensa) para fazer a matéria.

De Tânia Alves, editora de Cotidiano, recebo esta resposta: ‘A matéria não foi baseada apenas no release dos organizadores do evento. O release serviu de pauta. As informações foram repassadas pelo coordenador do Congresso, André Pavan, como está no segundo parágrafo. Reconheço, porém, que era necessário deixar mais claro logo no início do texto que as informações tinham sido repassadas por ele, pois a exposição iria começar no dia seguinte’.

– Está dada a explicação, mas é temerário dar uma informação desse tipo sem checar os dados.

‘Preciona’, ‘icógnita’, ‘change’

A editoria de Entretenimento, responsável pelo caderno Vida & Arte, além de modificar textos do O POVO dos anos de 1928, 1948 e 1968 na seção ‘Um dia como hoje’, tem cometido erros vexatórios nessas ‘intervenções’ temporais. No dia 22/10, em ‘1968. Há 40 anos’, o redator deixou de publicar a notícia original para escrever esta aberração: ‘A Guerra do Vietnã se prolongaria por mais sete anos, mas sempre precionada (sic) por várias manifestações para o fim dela (sic)’. A palavra correta é ‘pressionada’. Quanto às ‘várias manifestações para o fim dela’, a construção da frase dispensa quaisquer comentários.

Erra também no inglês. Give peace a change foi o título do tópico ‘1968. Há 40 anos’. Mas a frase correta é Give peace a chance (‘Dê uma chance à paz’). Give peace a change significaria ‘dê uma troca à paz’, completamente sem sentido.

Dia 29/10, em ‘Há 80 anos’, ao comentar notícia sobre a polêmica em torno da cidade onde nasceu o navegador Cristóvão Colombo, o redator saiu-se com esta: ‘Ainda hoje é uma icógnita a cidade natal de Colombo’. O correto é ‘incógnita’ (aquilo que é desconhecido e se procura saber, segundo o Aurélio).

– Nenhum dos erros foi retificado na seção ‘Erramos’.

Vale tudo?

Na Coluna Vale-Tudo (12/10), o jornalista Alan Neto ‘informa’ que o pastor Neto (PSC) foi o quarto colocado na eleição para prefeito de Fortaleza. O colunista brinda o pastor, na mesma nota, como ‘a maior revelação da eleição’.

Alan Neto ‘esqueceu’ que Renato Roseno foi o quarto colocado e o pastor Neto o quinto lugar. Recebo quatro telefonemas de leitores indignados que protestam contra o absurdo. Cobro um desmentido. Na coluna seguinte (19/10) Alan não toca no assunto. A correção só é publicada em ‘Vale-Tudo’ somente no último domingo (26/10).

Mas o desmentido vem de maneira debochada, numa demonstração de desprezo com o ombudsman e os leitores, principalmente aqueles que reclamaram. Disse Alan, no tópico ‘Chiliques e uivos’: ‘Diante de tantos chiliques, uivos e gritinhos nervosos, a coluna faz o reparo. Renato Roseno foi o quarto colocado na eleição municipal e não o pastor Neto’.

Todo jornalista pode errar, mas os que têm respeito pelos leitores tomam a iniciativa de corrigir os erros por conta própria, sem precisar de cobranças públicas. E, quando retificam notícias, o fazem de maneira sóbria e respeitosa. Os que não têm…’