Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Verlaine

‘A manchete ‘Crise beneficia o Ceará, diz Cid’ (5/12) mereceu críticas desta Coluna com base nas observações feitas pelo leitor e jornalista Osvaldo Scaliotti que, segundo ele, ‘compra o discurso do governador de que a crise econômica beneficiaria o Estado, sem ao menos ouvir empresários e economistas sobre até que ponto essa opinião é correta ou não’.

O editor-chefe-executivo Erick Guimarães e o editor-adjunto do Núcleo de Conjuntura Érico Firmo responderam da seguinte maneira às críticas feitas por Osvaldo Scaliotti:

‘Em primeiro lugar, o jornalista Osvaldo Scaliotti parece desconsiderar o conjunto da cobertura sobre a crise econômica que tem sido feita até aqui. Uma cobertura que busca não desconhecer a gravidade do momento pelo qual passamos, mas também não dar um caráter apocalíptico à crise’.

Prosseguem: ‘É preciso destacar ainda que as declarações do governador Cid Gomes precisam ser lidas dentro de um contexto não apenas econômico, mas principalmente político. E é neste sentido que nos parece necessário pensar como mais um elemento de uma cobertura que se dá no dia-a-dia e não pode ser vista isoladamente.

Em segundo lugar, é importante ressaltar que o jornal não está necessariamente afiançando o que diz o governador, mas sim chamando a atenção de seus leitores para essas afirmações. As declarações do governador, a nosso ver, são bastante fortes e merecem ser destacadas. Neste sentido, é claro que seria positivo ter outras vozes para enriquecer o debate. No entanto, por conta das condições objetivas da apuração, isso não era possível. O que fazer? Adiar a publicação de algo factual? Ou publicar, convidar os leitores para expressarem suas opiniões nos blogs e fóruns de discussão e suitar o assunto, como estamos fazendo para a edição deste sábado?

Não temos dúvida que a decisão de publicar foi acertada. E mais acertada ainda foi a de aprofundar ao tema nos próximos dias. Do contrário, estaríamos revogando um princípio básico, o da factualidade’.

Hillary cachorra?

A charge (Página 6, Opinião, 9/11), de Clayton Rebouças, profissional criativo e competente, mostra Barack Obama oferecendo osso para Hillary Clinton, retratada no desenho como uma cadela, com coleira e o nome ‘Hillary’.

Embora nenhum leitor tenha reclamado, posso dizer, sem nenhuma dúvida, que se trata de um trabalho de péssimo gosto. Semelhante (e pior) àquela charge do Maradona com cocaína. O que o chargista quer transmitir com esse insulto? Revela também desinformação: Hillary Clinton, embora tenha disputado com Obama a indicação de candidata a presidente dos EUA pelo Partido Democrata, é uma das figuras de mais destaque do partido que venceu a eleição presidencial americana e um nome sempre cotado para qualquer cargo, principalmente numa administração democrata.

Obama e Hillary não são inimigos nem adversários políticos. Depois de perder a indicação no Partido Democrata, ela pediu votos para Obama. São companheiros de partido. Por que Hillary, que chegou a ser cotada para ser candidata a vice-presidente na chapa de Barack Obama, não poderia aceitar o cargo de secretária de Estado?

‘Riso’

O chargista Clayton responde às críticas do ombudsman: ‘Concordo com você em alguns trechos do seu comentário sobre charge (29/11/08). Mas vejamos: conforme escrito, Hillary Clinton, embora tenha disputado com Obama a indicação de candidata a presidente dos EUA pelo Partido Democrata, é uma das figuras de mais destaque do partido que venceu a eleição presidencial americana e um nome sempre cotado para qualquer cargo, principalmente numa administração democrata. Obama e Hillary não são inimigos nem adversários políticos. Depois de perder a indicação do Partido Democrata, ela pediu votos para Obama. São companheiros de partido’. Concordo. Tudo isto é fato. Porém durante a campanha eram sim adversários, com sérias trocas de acusações nos debates pela disputa da candidatura.

No meu entender Hillary pediu votos para Obama, mas não foi uma decisão voluntariosa e de imediato, e sim uma atitude pensada e negociada dentro do Partido Democrata, deixando de lado divergências e ressentimentos de campanha. A charge em questão retrata simbolicamente e exatamente este aspecto. Como sabemos, política é uma moeda de troca é jogo de interesses. Portanto a razão do cargo (osso) simbolizando a aceitação da função de secretária de Estado, que acho merecedora pela sua trajetória política.

Acredito que o ‘péssimo gosto’ seja porque a charge representa a senadora Hillary como uma cadela. Ora, convenhamos, usar animais como representação caricatural de políticos é comum desde o inicio da história da imprensa não só no Brasil como do mundo. Aqui mesmo no O POVO já publiquei charges com representações simbólicas de políticos como porco, cachorro, cavalo, bode, tartaruga, vaca, sapo e até barata como em charge do ex-presidente FHC publicada na capa e a cores. Nem por isso foi considerada de mau gosto. Uma das características da charge é a polifonia, um jogo de vozes contrastantes, provocador do riso. Outro aspecto importante é que, na construção da charge, o autor informa e também opina sobre um tema, parodiando-o por meio da representação de um ‘mundo às avessas’, cria e destrói ícones com seu simbolismo exarcebado, satirizado pela própria inversão de valores sociais, oferecendo ao interlocutor uma visão crítica da realidade. Assim, a charge pode ser decodificada, interpretada e compreendida de diversas maneiras conforme a visão de cada leitor. Nesse sentido, respeito sua opinião’.’