‘Partidos políticos e governo estão sendo duramente questionados na onda de denúncias surgidas a partir da gravação divulgada originalmente pela revista Veja, em que o ex-chefe de departamento dos Correios, Maurício Marinho, aparece recebendo propina de R$ 3 mil. Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) instalaram-se no Congresso Nacional (que também está sob pressão) fazendo uma varredura na vida de suspeitos – políticos, empresários, lobistas e espiões – e em vários órgãos públicos. A cobertura da imprensa é extensiva e intensiva, nada lhe escapa à vigilância feita com lupa e com luneta.
Isto é, nada escapa à mídia a não ser quando a própria imprensa é questionada. E essas ocasiões têm sido freqüentes nesses dias turbulentos. A começar pelo estranho poder de encandear os jornalistas que parece ter um homem até bem pouco tempo posicionado no centro da tormenta, o deputado Roberto Jefferson (PTB). Frente a ele, os jornalistas parecem perder a fala. Ele atiça a curiosidade dos interlocutores; os profissionais treinados para o questionamento não conseguem usar com ele a contundência aplicada a pessoas menos assertivas e preparadas. Dias atrás, no programa Roda Viva, da TV Cultura, o deputado chegou a dizer, dirigindo-se à bancada de perguntadores: ‘Vocês parecem umas freirinhas’, ironizando as perguntas óbvias e repetitivas. Depois de alguns segundos de espanto, vários jornalistas tentaram defender-se ao mesmo tempo, mas nem assim Jefferson perdeu a iniciativa.
Também pouco se discutiu qual relação têm o repórter Policarpo Júnior e a revista Veja com o ex-agente da Agência Brasileira de Informação (Abin), Jairo Martins de Souza. Ele, um dos responsáveis pela gravação das fitas dos Correios, disse em seu depoimento à CPI ter repassado o material para Policarpo, fazendo um ‘trabalho jornalístico’. Faltam, pois, explicações de como foi feita essa e outras reportagens do mesmo calibre pela revista.
Da mesma forma, ainda não está claro o porquê de a entrevista da revista IstoÉ Dinheiro com Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério (o publicitário acusado de ser o operador do ‘mensalão’), não ter sido publicada em setembro do ano passado, para quando estava prevista. O jornalista que a escreveu, Leonardo Attucch, disse que a entrevista deixou de ser publicada na ocasião por falta de provas a respeito das declarações da secretária. Mas o depoimento de Valério deixou dúvida quanto a essa explicação. O publicitário revelou à CPI ter feito uma visita a Domingos Alzugaray, dono da editora Três, responsável pela publicação da IstoÉ Dinheiro, e que este lhe teria mostrado a entrevista. ‘Ele (Alzugaray) me deixou ver o teor da entrevista e pedi um tempo para mostrar que era mentirosa. Apresentei a documentação e ele me entregou o original da entrevista porque estava convencido que era mentira’, afirmou Valério à CPI. São versões conflitantes. Uma apega-se a um bom argumento jornalístico: verificar veracidade da informação antes de publicá-la; a outra mostra a ação de uma pessoa interessada em barrar uma notícia que lhe era desfavorável.
O que se passou nos bastidores dessas reportagens tem tanto interesse público como as denúncias que vêm sendo investigadas a respeito da corrupção.
Bóris Casoy também acabou enredado pela teia. O Jornal da Record (11/7) não deu em sua ‘escalada’ – a abertura em que se anunciam as principais notícias do dia – a prisão do deputado João Batista Ramos da Silva (expulso do PFL), detido com R$ 10 milhões em várias malas no aeroporto de Brasília. O deputado é bispo e presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da Rede Record. Ao comentar a notícia, Casoy deixou de lado sua habitual ironia, repetiu acriticamente as explicações oficiais da igreja, afiançou a ‘seriedade’ do bispo – e absteve-se do indefectível bordão: ‘Isso é uma vergonha’.
Fazer a imprensa mais transparente é torná-la mais forte e mais devotada ao interesse público. Com isso todos ganham: a sociedade, jornalistas e as próprias empresas de comunicação.
Jogo inesquecível
Alguns leitores têm reclamado de um suposto ‘menosprezo’ a seus times na seção ‘Meu jogo inesquecível’, publicada às quartas-feiras na editoria de Esportes. Acontece que esse é um espaço no qual se escreve uma espécie de artigo ou crônica em que se lembra um jogo marcante para a vida do autor do texto. Normalmente, o jogo a ficar na memória do torcedor é aquele em que seu time tripudiou sobre o adversário. Lembranças boas para uns, ruins para outros. Tenho explicado que a seção não é matéria noticiosa, sob a obrigação do equilíbrio e da busca da objetividade. É a narração de uma lembrança, aguçada pela subjetividade da paixão clubística. A seção não é exclusiva de jornalistas – os leitores também podem colaborar. O editor de Esportes, Paulo Rogério, pede que os leitores se animem a escrever sobre um jogo inesquecível: (meujogo@opovo.com.br).
Ao pé da letra
Leitores protestam devido à mudança no dia da publicação da coluna ‘Ao pé da letra’, assinada pelo professor Pasquale Cipro Neto. Antes na edição de domingo – lugar agora ocupado pela coluna ‘Danuza Leão’ -, ‘Ao pé da letra’ passou a ser publicada às segundas-feiras. Os que reclamam têm assinaturas ‘light’, isto é, recebem o jornal apenas aos sábados e domingos. Os leitores têm razão na queixa: quando assinaram o jornal, levaram no pacote a coluna da qual gostavam – e não é justo perderem-na agora.
Segundo clichê
Pergunta-me um leitor por que determinada notícia está em um exemplar do jornal e em outro não, sendo que as edições são do mesmo dia. Isso acontece quando é lançado o segundo clichê, uma atualização da mesma edição. O segundo clichê é mais comum na edição de domingo, pois o jornal é concluído na manhã do sábado. Quando acontecem eventos importantes na tarde desse dia, uma ou mais notícias são retiradas das páginas, põe-se no lugar outras mais atualizadas, e manda-se as páginas alteradas para reimpressão. Nesse caso, no alto da primeira página, à esquerda, aparecerá um aviso ‘2º clichê’, sinal de uma tiragem atualizada da mesma edição do jornal.’