Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘A essência do jornalismo é a disciplina da verificação’, anotam Bill Kovach e Tom Rosenstiel no livro Os Elementos do Jornalismo, cujo subtítulo O que os Jornalistas Devem Saber e o Público Exigir é um convite à leitura àqueles que se interessam pelo assunto, profissionais da imprensa e leitores. A verificação deve preocupar o jornalista ao abordar um assunto complexo – quando é preciso apurar, ouvir os envolvidos, confrontar versões, compulsar documentos – e, do mesmíssimo modo, para temas aparentemente menos importantes: ao anotar o nome de uma pessoa, ao indicar o número de telefone ou determinado endereço; dia, local e horário de um evento. É uma rotina dura, mas faz parte do trabalho: tudo o que sai no jornal produz conseqüências, portanto não se pode fazê-lo distraidamente.

Selecionei alguns casos, que talvez tenham passado despercebidos aos olhos de muitos leitores, mas provocaram problemas para alguns outros.

Nomes

Em poucos dias, colecionei pelo menos três notícias em que nomes foram grafados de forma errada. Duas das situações foram constrangedoras. Em um dos casos, a pessoa que teve o nome trocado em uma reportagem telefona para se queixar, por ter sido objeto de caçoada de colegas de trabalho, perguntando como o jornal iria reparar o seu prejuízo moral. No outro, a troca de uma letra, transformou um sobrenome em impropério. Por óbvio, deixo de citar o nome dos envolvidos, pois a revelação pública poderia causar novos embaraços.

Números

A nota ‘Dupla Sena acumula e três acertam Quina’ (edição de 23/8, pág. 2, Últimas) traz a seguinte informação: ‘Três apostadores, um do Maranhão, um de São Paulo e um de Tocantins, acertaram as cinco dezenas – 02, 10, 12, 16, 28 e 42 – do concurso 1.642 da Quina e vão receber o prêmio de R$ 95.339,63’. A respeito dela, recebi o seguinte e-mail do leitor José Nilton Mariano Saraiva: ‘Com base na notícia, conferi os diversos cartões da aposta e os joguei no lixo, já que, confiando na informação do jornal, não acertara nenhum número. Posteriormente, acessando o portal da Caixa Econômica Federal, constatei, incrédulo, que no concurso 1.642 da Quina, os números sorteados foram 15, 17, 57, 73, 74, ou seja, nenhum dos números informados pelo jornal. A pergunta que não quer calar: será que entre os diversos cartões que joguei fora, confiando na informação do jornal, teria alguma premiação do terno, quadra, quina?’ (As duas citações ‘confiando nas informações do jornal’ estão em letras maiúsculas na correspondência original.) O que responder para o leitor, além de dizer que ele está com a razão?

Endereço

Recebo a ligação de um leitor dizendo não ter conseguido localizar o endereço da nova Farmácia Popular, inaugurada esta semana. Pela indicação da nota publicada na edição de 24/8 (pág. 13, editoria Ceará), ela deveria estar na rua José Carvalho nº 340, Centro. O leitor diz não ter encontrado nenhuma rua com esse nome no Centro de Fortaleza. Verifiquei o portal do Ministério da Saúde e descobri que o jornal reproduzira o endereço corretamente, mas esqueceu de informar que a rua fica na cidade do Crato, a mais de 500 quilômetros de Fortaleza. A propósito, quem precisar de informações sobre o projeto Farmácia Popular do Brasil, que vende remédios a preço de custo, pode ligar (gratuitamente) para o telefone 0800-611997, do Ministério da Saúde.

Evento

Um leitor, dizendo-se ‘indignado’, reclama que, na edição de 19/8 (sábado) não havia encontrado no jornal nenhuma indicação de onde seria a VII Bienal Internacional do Livro do Ceará, que começara no dia anterior. ‘Nem mesmo no Vida & Arte’, editoria encarregada da cobertura do evento, ressaltou. O leitor disse que ‘ficou sabendo’ que a informação saíra na edição do dia anterior: ‘Mas, e quem não leu o jornal na sexta-feira?’, pergunta, com uma lógica difícil de contestar. A Bienal transcorre no Centro de Convenções e termina hoje.

Telefone

Na edição de domingo, 30/7, o caderno Ciência & Saúde publicou matéria sobre psoríase, apontando o telefone da associação à qual poderiam recorrer os que sofrem da doença. Na segunda-feira, sou informado pela Associação Cearense dos Portadores de Psoríase que o jornal indicara o número de telefone errado; de forma errada também foram anotados os nomes de dois associados ouvidos pela reportagem.

Qualificação

A coluna Sonia Pinheiro (edição de 23/8), publicou a seguinte nota: ‘(E só se fala) que o presidente Lula da Silva quer eleger Ciro Gomes o sucessor de Aldo Rebelo na presidência da CF. Tal notícia, a propósito, foi publicada, domingo, na Folha (jornal Folha de S. Paulo), em matéria do sempre bem informado Kennedy Alencar, um cearense do Crato que é, hoje, um dos mais influentes jornalistas do DF’. O sempre atento leitor Nilton Mariano, já citado acima, desconfiou da naturalidade do jornalista; escreveu para ele, recebendo a simpática resposta: ‘Caro José, eu teria muito orgulho em ter nascido no Crato, mas sou de Belo Horizonte.’

É muito difícil fazer jornalismo sem nenhum tipo de erro, mas tenho observado que os problemas comentados vêm se tornando muito freqüentes no O POVO, demonstrando a necessidade de se apertar os controles.’