Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘Estava preparado para ficar dois anos na função de ombudsman, prazo que se cumpre na data de hoje. Limpava as gavetas, organizava arquivos virtuais, pensava em qual seria o meu próximo destino na Redação do jornal, quando recebi uma ligação do presidente do O Povo, Demócrito Rocha Dummar – a conversa habitual que ele tem com os ombudsmans na conclusão mandato –, adiantando que a proposta seria que eu ficasse mais um ano no cargo. Lembrei que o item 6 do Regimento do Cargo de Ombudsman veda a recondução por mais de dois anos consecutivos; ele respondeu que já estava providenciando a mudança desse artigo do regulamento.

Na conversa que tivemos, disse a ele que a mudança à véspera do fim de meu mandato poderia sugerir casuísmo. O presidente argumentou sentir que a função, depois de 13 anos e oito jornalistas, antes de mim, terem passado por ela, se ‘institucionalizava’; consolidava o reconhecimento dos leitores e superava rejeição inicial dos jornalistas da Redação, possibilitando que as críticas fossem debatidas sem preconceitos, o que, à vista dele, vinha contribuindo para melhorar da qualidade do jornalismo do O Povo, meta que o jornal nunca deixa de perseguir. Portanto, disse, além de a medida não ter sido pedida por mim, não era feita em meu benefício, mas para favorecer o jornal em um setor que ele vê como de extrema importância.

De minha parte, sem nenhum laivo de falsa modéstia, vejo a situação da seguinte maneira: 1) concordo ter contribuído para a consolidação do cargo, principalmente reduzindo as tensões entre os jornalistas e o ombudsman, muitas vezes tendo chegado – anteriormente – ao confronto aberto, situação esta que, felizmente não precisei enfrentar; 2) reconheço dever boa parte da melhor convivência estabelecida com a Redação do jornal a todos os ombudsmans anteriores: houve aprendizado mútuo, de forma que a relação amadureceu. Caso tivesse sido um dos primeiros ombudsmans, teria passado por teste mais duro e, possivelmente, teria errado mais; 3) creio também ter atuado de maneira satisfatória quanto aos leitores, pois recebi pouquíssimas queixas sobre a forma como faço meu trabalho (posso garantir que não passaram de cinco e-mails em tom crítico nesses dois anos); 4) mas isso não constitui vantagem, os ombudsmans, de maneira geral, recebem uma espécie de ‘salvo-conduto’, pois os leitores os vêem como aliados.

No entanto: 1) acho correta a forma como a função instaurou-se no Brasil. Os dois únicos jornais a manter ombudsmans estabelecem mandato com prazo determinado. Na Folha de S. Paulo, o período também é de um ano, com a possibilidade de duas reconduções; 2) os periódicos americanos e europeus mantêm os ombudsmans por tempo indefinido no cargo. Isso, a meu ver, pode levar ao enrijecimento dos comentários, tanto internos como das colunas públicas, correndo o risco de se tornarem repetitivos e monótonos, sem nada acrescentar de novo; 3) por isso, considero importante a alternância, possibilitando que novos olhares se lancem ao jornal; 4) com certeza, há na Redação jornalistas em condições de levar à frente o trabalho e de imprimir-lhe rumo mais criativo.

Porém, com a certeza de que ficarei somente mais este ano na função, atendi aos argumentos do presidente do jornal. Espero que mais essa recondução possa significar que os leitores e os meus colegas jornalistas concordem, pelo menos em parte, com os argumentos positivos sobre o meu trabalho, listados acima.

Posse

A posse do Conselho de Leitores e do ombudsman será amanhã, às 10h30min na sede do jornal. É uma cerimônia simples, à qual os leitores que quiserem comparecer serão bem-vindos.

Aniversário

O Povo completa hoje 79 anos de circulação ininterrupta, desde aquele 7 de janeiro de 1928, quando Demócrito Rocha viu a oportunidade de lançar um novo periódico, pois ‘nunca será demais um novo jornal’ para ‘falar ao povo’, como gravou em seu primeiro editorial. Hoje, este é um dos poucos jornais regionais a se manter sem estar vinculado a uma repetidora de TV Globo. Se fosse só isso, já não seria pouca coisa.

Férias

Após a posse, entro em férias, retornando no dia 31 de janeiro. Durante esse período, as ligações ao ombudsman serão atendidas pelos secretários da Redação: Mirtes e Jonas. Os casos mais urgentes serão levados diretamente aos editores. Os e-mails, responderei na medida do possível.

Balanço

Ao lado, os leitores poderão ver o balanço detalhado dos atendimentos do ombudsman no trimestre outubro, novembro, dezembro e o total consolidado de 2006. Durante o período deste mandato fiz 1.076 atendimentos, número um pouco menor em relação a 2005, com 1.145. As correções que o jornal faz na seção ‘Erramos’ passaram de 567 para 649. A exemplo de 2005, o maior número de contatos com o ombudsman no ano passado foi para fazer críticas e apontar erros, somando 598 atendimentos. Um número significativo de pessoas fala com o ombudsman para fazer comentários e sugerir pautas (239).

Apesar da ligeira queda no atendimento, observei neste mandato a participação mais questionadora dos leitores, principalmente durante o período das eleições, o que era de se esperar. O ano passado, não tenho dúvida, foi um ponto de inflexão no relacionamento entre jornais e leitores; estes passaram a exigir que suas vozes fossem ouvidas, indagando duramente o comportamento olimpiano a que se habituaram os jornalistas. Cabe aos jornalistas terem a exata compreensão desse fenômeno, pois a imprensa será obrigada a trilhar essa vereda sem volta, aberta, principalmente, pelas novas tecnologias de comunicação, ao alcance de um número cada vez maior de pessoas.’