Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘A complexidade cada vez maior dos meios de comunicação tornou praticamente obrigatória a presença do assessor de imprensa nos mais diversos ramos de atividade: desde uma pequena empresa até um grande conglomerado; na prefeitura da cidade de interior ou de uma capital. A necessidade crescente de as fontes primárias da notícia (empresas, governos, igrejas, sindicatos, associações, políticos, artistas) lidarem de forma profissional com o assunto aumenta cada vez mais o campo de atuação desses profissionais. O trabalho dos assessores de imprensa, em resumo, consiste em esquadrinhar os meios de comunicação de forma a manter o assessorado em dia com o noticiário, divulgar para a imprensa as informações de interesse da pessoa física ou jurídica para qual prestam serviço, procurando manter contato regular com os jornalistas.

Legalmente, o cargo de assessor de imprensa só pode ser ocupado por jornalistas profissionais. Apesar disso, o trabalho do assessor e do repórter diferem bastante e, certamente, a incompreensão sobre o papel de cada um está na fonte da maioria dos conflitos que permeiam o relacionamento entre os dois grupos profissionais. Depois de algum tempo ouvindo críticas de jornalistas a assessores de imprensa e vice-versa, resolvi escrever sobre o assunto. Abordo a questão na coluna porque faz parte dos ‘bastidores’ da produção de notícias, algo que penso ser do interesse de todos os leitores.

Críticas x críticas

Um dos assessores com quem falei reclama da dificuldade em passar informações detalhadas ‘notadamente no caso das TVs, por conta do deadline (prazo de conclusão do noticiário) apertado’. Por isso, diz ele, ‘as matérias saem superficiais, sem a devida profundidade; os jornalistas parecem não ler as informações repassadas por escrito’. De fato, os prazos de fechamento dos jornais e dos meios de comunicação eletrônicos são cada vez mais apertados e não há perspectivas de mudança, portanto, ambos os lados têm de procurar fazer o melhor frente a essa realidade. Uns adaptando-se à velocidade imposta pelo modo de produção jornalística, outros fazendo o melhor possível com o tempo e espaço de que dispõem.

Jornalistas dizem existir assessores que querem impor a ‘lógica política’ ou ‘burocrática’ da empresa ou instituição para a qual trabalham. Um exemplo: repórteres dizem que alguns assessores reclamam quando uma informação é publicada antes do ‘anúncio formal’, principalmente quando a notícia apresenta algum aspecto negativo. Se o assessor faz o seu papel quando quer mais tempo para preparar seus argumentos, o jornalista tem a obrigação de publicar o que os outros querem esconder ou atrasar do conhecimento público, com a urgência requerida em cada caso.

Outro assessor reclama da facilidade com que algumas colunas divulgam notas sem confirmar as informações. ‘O colunista se acha superior aos demais jornalistas, sente-se dono do espaço e pensa ter o direito de escrever o que quiser na coluna’. Para ele, em alguns casos, ‘não basta ouvir o outro lado, é preciso confirmar a veracidade da informação’. Ele diz que o colunista não tem o direito de atacar a honra de alguém sob a desculpa de ter dado ao acusado o direito de defesa: ‘Antes de publicar, ele precisa verificar se a informação que lhe foi repassada é verdadeira’. Sobre essas observações, é difícil pôr algum reparo.

‘Alguns assessores querem nos ensinar o que é notícia, insistindo na publicação de algo que pode ser de interesse do assessorado deles, mas é irrelevante do ponto de vista do interesse público; ou ainda querendo impor um determinado viés ao texto de forma que lhe pareça favorável’, me diz um jornalista. Como anotei no início, cada um deve saber o seu papel: o assessor sugere a pauta; o jornalista a aceita ou não. Se for fazê-la, tem o direito (e mais do que isso, a obrigação) de submetê-la a critérios jornalísticos.

Além das questões acima, divulgo duas listas auto-explicativas. Uma de queixa dos assessores de imprensa, outra com reclamação dos jornalistas.

Assessores dizem dos jornalistas

a) ‘Neurose do furo’: jornalistas temem que o concorrente lhes passe a perna, por isso publicam especulações como se fossem notícias confirmadas; b) o repórter tem determinada informação sobre uma empresa ou o governo de manhã; mesmo com o dia inteiro à disposição, telefona à noite, na hora do fechamento, para ouvir o ‘outro lado’, quando é difícil encontrar alguém para falar. Na edição do dia seguinte, a matéria é publicada com a observação: ‘Fulano não foi encontrado para comentar o assunto’; c) quando alguém é denunciado, vira manchete; quando se prova que a acusação é falsa, a informação aparece no pé da página; d) jornalistas têm dificuldade em reconhecer o erro, mesmo quando é notório; e) alguns repórteres pensam que os assessores de imprensa são seus empregados; f) por mais que demonstremos boa vontade e abertura, sempre pensam que estamos escondendo alguma coisa .

Jornalistas dizem dos assessores

a) existem assessores que demonstram preferência por alguns veículos de comunicação, passando somente a eles as informações mais relevantes; b) alguns se irritam quando não se publica alguma matéria sugerida, outros agradecem em excesso quando alguma sugestão é aceita; c) muitos têm pouco conhecimento sobre as rotinas do jornal, não sabem, por exemplo, que o horário de fechamento é um péssimo horário para falar com jornalistas; d) há desinformação ou lentidão nas respostas sobre assuntos que dizem respeito à instituição para o qual trabalham; e) dificultam o acesso ao entrevistado, querendo responder às perguntas que gostaríamos de fazer à fonte da notícia; f) Alguns antipatizam com determinados jornalistas e passam a dificultar-lhe o trabalho; g) encaram qualquer erro ou falha no texto jornalístico como distorção proposital.

Esclarecendo

Todos com quem falei ressaltaram que os problemas levantados são pontuais, não se aplicando generalizadamente a todos jornalistas ou assessores de imprensa.’