Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Plínio Bortolotti

O Povo tem uma característica diferente e positiva em relação à maioria dos jornais, encarando a cobertura de notícias da área policial de forma mais abrangente, tanto é que o jornal não mantém uma editoria exclusiva de ‘Polícia’. A cobertura é diluída no Núcleo de Cotidiano, que se ocupa das notícias relativas a Fortaleza e ao estado. Foi a forma que o jornal encontrou de mostrar que a segurança pública não é um ‘fenômeno meramente policial’, como diz o editor-chefe Erick Guimarães. Para ele, essas notícias têm de ser vistas também em seu aspecto ‘estrutural, político e social’, além de ‘um lado humano doloroso, que tem de ser tratado com sensibilidade’. Para Erick, o fato de não haver uma editoria de Polícia, desobriga o jornal de publicar, diariamente, ‘uma ou duas páginas com notícias de crimes’. Mas ‘o tema segurança pública não é relegado a segundo plano’, diz o editor-chefe, explicando que as informações sobre crimes são hierarquizadas de acordo com a importância delas no conjunto das notícias a serem publicadas.

A série de reportagens que o jornal vem publicando desde segunda-feira a respeito do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), que ficou conhecido como ‘PAC da Segurança’, é um exemplo do esforço do jornal em busca da ampliação do debate em torno do assunto. Com uma ressalva: neste caso o jornal iniciou o debate com um atraso difícil de aceitar em assunto de tal relevância e em tempos que a internet leva a informação – e muitas vezes a análise – aos leitores em tempo real.

O lançamento do Pronasci, indicando as 11 regiões metropolitanas que receberiam as verbas federais, foi divulgado na edição de 21/8 (pág. 12), com o seguinte título: ‘Lula lança plano e ataca críticos por pessimismo’. Na seqüência, o jornal fez uma série de matérias em que o destaque era o fato de Fortaleza não fazer parte das cidades inicialmente beneficiadas com os recursos. Foram ouvidos opositores do governo federal, colunistas fizeram críticas ácidas, e nas rádios, que se pautam pelos jornais impressos, ouviam-se enxurradas de ataques por ter sido o Ceará supostamente preterido na distribuição do dinheiro. Logo de início, escrevi no comentário interno à Redação que o jornal precisava explicitar os critérios utilizados pelo governo federal, para que as críticas tivessem fundamento, pois o que se ouvia e lia estava no nível do jornalismo declaratório, quando não do bate-boca.

Nesta semana, as matérias começaram a deixar mais claro o assunto e ficou-se sabendo que os dados nos quais o governo federal se baseou para selecionar as regiões mais violentas foram fornecidos pelos governos de cada estado. Os números usados foram de 2005, portanto, coletados e informados ao Planalto pelas gestões estaduais anteriores. No caso do Ceará, suspeita-se, conforme matéria publicada na edição de segunda-feira, que a subnotificação e a ‘maquiagem’ dos números pode ter influenciado para que a situação de Fortaleza parecesse menos grave, comparada a de outras regiões metropolitanas que tiveram acesso aos recursos federais. E foi somente na edição de quinta-feira, 15 dias após a publicação da primeira notícia sobre o assunto, que o jornal, com a matéria ‘Dois critérios definiram lista do PAC’ (pág. 6) informou aos leitores quais foram os números levados em conta para a escolha das cidades que receberiam o dinheiro do Pronasci.

Obviamente, mesmo com o esclarecimento da metodologia utilizada para definir as regiões beneficiadas, as críticas ainda poderiam ser feitas. Por exemplo, poder-se-ia cobrar que o governo federal incluísse mais regiões metropolitanas, ou todas as existentes no Brasil – pois a violência disse-mina-se pelo país – ou ainda propondo outros critérios para que se definissem as cidade que teriam direito às verbas. O que é incorreto é dar azo ou deixar que se propaguem informações que reforçam o argumento que Lula, apesar da generosa votação obtida estado, dedicaria certo desprezo às necessidades dos cearenses. Já escrevi diversas vezes que o governo federal tem defeitos suficientes, sendo desnecessário – e inaceitável do ponto de vista jornalístico – acrescentar-lhe outros na base da especulação.

Para Erick Guimarães, apurar uma matéria pode levar certo tempo, o que teria acontecido neste caso, que exigiu análise e investigação. Lendo-se os textos, pode-se concordar em parte com o editor-chefe, mas a publicação dos critérios utilizados pelo governo federal era uma providência que poderia ter sido tomada, sem nenhum esforço, logo na publicação da primeira notícia sobre o assunto. Erick rebate dizendo: ‘O importante é que o jornal entrou no caso para esclarecer e qualificar o debate’. Sem dúvida nenhuma – são muito boas as reportagens que se vem publicando –, mas se houvesse feito antes, teria feito melhor.

Loteria

Com uma freqüência preocupante o jornal erra ao divulgar os números das loterias federais, o que sempre o faz em lugar específico na Página 2. Esta semana, aconteceu de novo, de um modo que seria engraçado, não fosse grave. Um leitor, em texto irônico, enviou a seguinte mensagem por e-mail: ‘Parabéns ao O Povo pela exata, precisa e exclusiva informação que nos transmite na edição de hoje [quinta-feira]. Resultado da Dupla-Sena: 13 – 13 – 13 – 13 – 13 – 13; resultado da quina: 13 – 13- 13 – 13 – 13. Faltou só informar se houve ou não ganhadores, já que os resultados dos sorteios são atípicos’. É uma situação que precisa ser corrigida, pois acarreta sérios problemas às pessoas que confiam no jornal para conferir seus jogos.’