Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Políticos no ‘Paredão’


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


 


POLÍTICA


Fernando de Barros e Silva


‘Big Brother’ eleitoral


‘SÃO PAULO – É preciso confessar logo de início: este colunista nunca acompanhou o ‘Big Brother Brasil’. Não seria capaz de citar o nome ou identificar um único integrante do parque de diversões orwelliano da Rede Globo, atualmente em sua 10ª edição. Ok, ‘cada um na sua’, mas ainda dispomos de maneiras menos ofensivas (e inofensivas) de perder tempo e embromar a vida.


Num país de pouca escola, o ‘BBB’ atua no imaginário popular como veículo de ascensão social e fama instantâneas. Tornou-se uma usina de reciclagem de celebridades para o submundo do showbizz.


À distância, o ‘BBB’ parece um circo behaviorista. Nele, Pedro Bial vai se superando como animador. É uma espécie de tiozinho juvenil, de Orlando Orfei em versão pop. Cada piada infame que sai da sua boca é uma chicotada a estalar na tela.


Mas por que o ‘BBB’ agora? Voltou a circular pela internet uma sugestão atribuída a Rita Lee. Diante da reconhecida inutilidade do programa, a cantora defende que, no lugar dos anônimos, os candidatos à Presidência sejam trancados numa casa para debater seus respectivos programas e ideias para o país.


Segundo a cantora, não seriam permitidos marqueteiros, assessores ou discursos ensaiados. Nus na ‘Casa dos Políticos’, os presidenciáveis acabariam revelando o seu verdadeiro caráter. O público votaria a cada semana, eliminando um deles. No final, o sobrevivente seria nomeado presidente da República.


Trata-se, é óbvio, de um deboche. Bom demais para ser viável. A sugestão, aliás, parece nascer mais da insatisfação com o artificialismo das campanhas do que como simples reação à estupidez do ‘BBB’.


Além de ir contra o jogo de cena da política, o engessamento dos debates, a ditadura das pesquisas e as manobras do marketing, o devaneio de Rita Lee toca ainda em outro ponto. Ele exprime o desejo de submeter os candidatos a situações de desconforto, até o limite da tortura física e/ou psicológica, como se o eleitor devesse extrair a fórceps algo neles oculto ou dissimulado. Não é má metáfora para a democracia.’


 


 


MEMÓRIA


Wadih Damous


É preciso olhar para a frente


‘A SECCIONAL da OAB no Estado do Rio vai lançar nos próximos dias a Campanha pela Memória e pela Verdade, o que inclui a defesa da abertura dos arquivos da repressão política na ditadura militar.


As razões que justificam a campanha são muitas. Há, em primeiro lugar, razões humanitárias. A mais evidente delas diz respeito ao elementar direito das famílias de desaparecidos políticos de dar-lhes uma sepultura.


Aliás, esse direito é recorrente na história da humanidade. Provavelmente, a primeira menção a ele se dá na ‘Ilíada’, de Homero (século 8 a.C.), que nos fala de interrupções nos combates na Guerra de Troia para que os exércitos homenageassem seus mortos e enterrassem seus corpos.


Séculos depois, Sófocles tratou do tema em sua peça ‘Antígona’, encenada na Grécia em 422 a.C., como bem lembrou Marcello Cerqueira em recente artigo na edição de dezembro de 2009 da ‘Folha do IAB’ (Instituto dos Advogados Brasileiros).


Assim, desde que a humanidade se reconhece como tal, é respeitado o direito das famílias de enterrar seus mortos. É o que faz, aliás, Antígona, na citada peça de Sófocles. Ela cavou com as próprias mãos a sepultura do irmão Polinices e pagou com a vida o desafio às ordens de Creonte, rei de Tebas. Polinices fora condenado à morte e a não ter direito a uma sepultura, para que seu corpo ficasse à disposição de cães e aves de rapina. Ele -a exemplo do que se repetiria com outros personagens até nossos tempos- desafiara o déspota de então.


No Brasil, conhecem-se casos de mães que, durante décadas, recusaram-se a mudar de endereço ou a trocar a fechadura da porta de casa, na esperança de que um filho preso um dia reaparecesse.


Sabe-se de muitos natais em que famílias prepararam a ceia deixando uma cadeira vaga na mesa, enquanto esperavam, em vão, o retorno de um ente querido para festejar a data com os seus.


Conhecer o destino dos desaparecidos políticos, saber em que circunstâncias morreram, quem os assassinou e a mando de quem é um direito das famílias. Tanto quanto dar-lhes uma sepultura digna. Tal como quis Antígona para seu irmão Polinices.


Mas não só razões humanitárias exigem a abertura dos arquivos da repressão política.


Os que se opõem a ela e propugnam que se ponha uma pedra sobre o assunto lembram a necessidade de olhar para o futuro, e não para o passado. É argumento de peso. Afinal, o ressentimento é, sempre, mau conselheiro. Na vida pessoal e na política.


Mas justamente a necessidade de construir um futuro democrático é que torna necessário o conhecimento dos horrores acontecidos durante a ditadura. Mesmo que isso signifique submeter a sociedade a um verdadeiro choque e desagradar aos militares.


Arrastar o lixo para baixo do tapete só fará com que ele possa ressurgir mais tarde. Já a luz do Sol sobre o acontecido fará com que se criem anticorpos, impedindo a repetição da barbárie.


O golpe de 1964 é, até hoje, cultuado nos quartéis. Chegou-se ao ponto de, no primeiro governo Lula, um ministro da Defesa demitir-se por não obter apoio do presidente ao questionar uma ordem do dia, lida nos quartéis, de exaltação à ditadura.


Ora, não é assunto exclusivo das Forças Armadas o tipo de formação ministrada aos nossos jovens que se dedicam à carreira militar. Ao contrário, essa questão é de interesse da sociedade. Não é aceitável que novas gerações de militares sejam formadas com mentalidade antidemocrática.


As Forças Armadas devem ser doutrinadas e preparadas para defender a Constituição e o Estado de Direito.


Também para isso é importante a abertura dos arquivos. Ela trará para o centro da reflexão o papel desempenhado pelas Forças Armadas na ditadura e sua herança até hoje.


É mais fácil defender o direito à memória e a abertura dos arquivos da repressão esquivando-se do conflito com as Forças Armadas e afirmando que elas não participaram, como instituição, de torturas e assassinatos.


Mas isso é falso. Ainda que torturadores e assassinos tenham sido ínfima minoria dentre os militares, eles não agiram à revelia do comando.


Suas ações tiveram o aval dos chefes das Forças Armadas e da ditadura.


É por isso que, hoje, o espírito de corpo se faz presente quando se fala em trazer luz sobre o que aconteceu ou em punir executores diretos dos crimes.


Vivemos, então, uma situação ‘sui generis’. Quase 25 anos depois de passarmos a um regime civil, os militares ainda se arvoram no direito de determinar os limites até onde podem ir a democracia e o conhecimento de nossa história recente.


Por isso também, abrir os arquivos é essencial para quem quer construir um Brasil melhor. Isso é o que se recomenda para quem olha para a frente. Daí a Campanha pela Memória e pela Verdade.


WADIH DAMOUS, 53, advogado, é presidente da OAB-RJ.’


 


 


CULTURA


José Luiz Herencia


Política cultural e liberdades individuais


‘EM ARTIGO publicado nesta Folha no último dia 20 (‘Acesso à cultura’, ‘Tendências/Debates’), o coordenador de Fomento e Difusão da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, André Sturm, reproduz um diagnóstico produzido pelo próprio Ministério da Cultura.


Para o MinC, o acesso à produção cultural deve ser uma meta das políticas públicas para o setor. Como Sturm, reconhecemos que os governos federais adotaram como política cultural um único instrumento (que entendemos como parte dela) e transformaram a Lei Rouanet em uma espécie de monólogo da renúncia fiscal.


Não é por outra razão que criamos o projeto de lei que institui o vale-cultura, parte integrante de um conjunto de políticas culturais sem precedentes no país. Ao lado, entre outros, do projeto de modernização da lei federal de fomento e incentivo, o Estado brasileiro está assumindo um novo ciclo de responsabilidades em relação à cultura e às artes no Brasil.


Como esta Folha destacou em editorial recente (Opinião, 28/12/09), a proposta de uma nova lei da cultura está na direção correta, qual seja, a de desenvolver uma verdadeira economia da cultura no país e ‘estimular o investimento capitalista, (…) e não o mero redirecionamento de tributos para o setor’.


Para atender toda a diversidade cultural brasileira, foi preciso, também, diversificar os mecanismos de investimento e apoio.


Se a simples renúncia fiscal é mantida, outras modalidades testadas internacionalmente -como os ‘endowments’, doações incentivadas para fundos permanentes- surgem para garantir que instituições, fundações e equipamentos como museus e centros culturais possam se tornar sustentáveis no Brasil.


E os Ficarts, fundos em que os investidores se tornam sócios de um projeto cultural, ganham agora a atratividade que os fará sair do papel.


Com um orçamento anêmico, somado à ausência -até o início do governo Lula- de parcerias com instituições como IBGE e Ipea para a produção de indicadores sobre o campo cultural, encontramos um ministério à míngua: sem instrumentos de planejamento nem recursos para investir em políticas públicas para o setor.


Como o referido editorial notou, o Fundo Nacional de Cultura é ‘um forte instrumento para fazer política cultural’. Como parte dessa transição, o novo FNC chega fortalecido já em 2010: mais de R$ 800 milhões que serão aplicados diretamente na produção cultural, com bolsas, prêmios e editais para todos os setores, da música às artes visuais, do patrimônio ao teatro.


É nesse cenário de ampla oferta de bens, serviços e conteúdos culturais que o vale-cultura, que já nasce como política de Estado, ganha expressão.


Na razão contrária do que deseja Sturm, o MinC não acredita numa mudança radical de foco da produção para o consumo, mas no investimento equilibrado em todo o sistema cultural, estimulando a um só tempo a democratização do acesso e a promoção da excelência artística. E isso sem tutelar o cidadão, que deve ter garantido seu direito de escolher qual livro, qual disco, qual ingresso adquirir.


Espanta-nos, portanto, que, apesar de sua importância, o programa Vá ao Cinema possua elementos de teor dirigista, impedindo que seus beneficiados assistam, por exemplo, a filmes estrangeiros, como se apenas da produção nacional se formasse um repertório. Para a saúde de nossas políticas públicas, preferimos a preservação das liberdades individuais.


Não há, como no emplasto de Brás Cubas, uma cura para todos os males do mundo. Assim, se o campo cultural é complexo, as políticas culturais precisam avançar em direção à complexidade.


Não é por outra razão que apoiamos importantes iniciativas, como a recuperação da Fundação Bienal de São Paulo, uma das mais importantes instituições brasileiras no mundo (e a realização de sua 29ª edição, que oferecerá para 1 milhão de pessoas acesso gratuito à arte contemporânea), a construção da Biblioteca São Paulo no antigo Carandiru e a Companhia Brasileira de Ópera, que, sob a direção do maestro John Neschling, vai levar o melhor da produção operística para todo o Brasil.


É preciso reconhecer o que é produzido pela sociedade e investir tanto em pontos de cultura (300 em São Paulo só em 2009) quanto em equipamentos culturais de ponta, como o Projeto Brasiliana da USP, que vai disponibilizar para todos a fantástica biblioteca reunida por Guita e José Mindlin.


JOSÉ LUIZ HERENCIA é secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.’


 


 


ATAQUE


Preso confessa que mandou atacar jornal


‘Já condenado por crimes como sequestro e homicídio, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, confessou anteontem, em depoimento na 5ª Vara Criminal de Campinas (SP), ter sido mandante de ataque contra o grupo RAC (Rede Anhanguera de Comunicação), em 21 de janeiro de 2009, quando já estava preso.


Duas granadas foram atiradas contra o prédio do grupo, mas não explodiram. A RAC edita os jornais ‘Correio Popular’, ‘Diário do Povo’ e ‘Notícias Já’, entre outros.


Andinho está preso desde 2001 e é apontado pela Polícia Civil como um dos principais integrantes da facção criminosa PCC.


Ele confessou que o ataque foi ordenado em represália a uma reportagem publicada pela empresa sobre sua vida pessoal. Nos próximos dias, a Justiça decidirá qual pena será aplicada.


Além de Andinho, são réus a mulher dele, uma advogada e outras cinco pessoas -entre elas, os acusados de arremessar os explosivos.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


A favorita?


‘Em destaque nas buscas de Brasil por Yahoo News, a Bloomberg deu que o ‘Eurasia Group vê Rousseff como favorita à eleição’.


A ‘empresa de pesquisa de risco político de Washington’, em relatório ontem, afirma que ‘a eleição certamente promete ser muito competitiva’ e Dilma ‘não é carismática’ como Lula. Mas é ‘a candidata do presidente’ e a vitória será de ‘quem convencer os eleitores que os benefícios dos últimos poucos anos serão mantidos’. Em destaque no iG, ‘uma mosquinha tucana que aparecesse no encontro de empresários do Lide’ com Guido Mantega e Henrique Meirelles, ontem, ‘ficaria preocupada. A fala dos empresários que disputaram o microfone foi marcada pelo ufanismo’.


No Terra, Antonio Lavareda, ‘estrategista de FHC’, avaliou a pesquisa Sensus: ‘O que houve efetivamente foi uma transferência de votos de Ciro Gomes para Dilma’, pois ‘as pessoas tomaram conhecimento de que é a candidata do presidente Lula’.


POR NEGAÇÃO


Na manchete do G1, à tarde, ‘Ciro insiste na candidatura’, pois ‘valoriza o eleitor dando-lhe mais uma alternativa e não aquele voto por negação’. E mais, ‘discordo da avaliação [de Lula e] o trato como líder político e não como mito, santo, inquestionável’.


PLEBISCITO


Na submanchete da Folha Online, ‘Aécio critica plano de fazer eleição plebiscitária’. Diz que a campanha não pode se limitar a comparar Lula e FHC. ‘O momento é outro. Os desafios são outros’, avalia. ‘Acho perigosa essa eleição plebiscitária que querem.’


SHELL E O LOBBY


Os ingleses ‘Telegraph’ e ‘Guardian’, observando que a Shell perdeu há dias o posto de maior empresa europeia de petróleo para a BP, apontam a ‘esperança de promover o etanol nos EUA e na Europa’, com a operação no Brasil.


‘A Shell agora vai fazer lobby junto ao governo dos EUA para reduzir a tarifa sobre a importação’. No ‘Financial Times’, a coluna Lex elogiou o ‘controle conjunto’ sobre ‘o maior produtor de etanol do Brasil’.


Já o ‘Times’ inglês criticou a associação com empresa acusada de trabalho análogo à escravidão.


CORRIDA


A Bloomberg noticia que as operações do ‘bilionário George Soros’ no Brasil em ‘energia renovável’, já com duas usinas, preparam um lançamento de ações, IPO, para financiar uma terceira, de US$ 700 mil, entre outros projetos. E que gigantes como a Bunge ‘também estão se expandindo em etanol’.


ATÉ O IRÃ


Um jornal financeiro do Qatar, ‘Zawaya’, citando a agência Fars, noticiou que ‘o Irã e o Brasil concordaram em produzir biocombustível conjuntamente’. A ‘joint venture’ proposta abrangeria troca de experiências. Nas conversas, outras áreas de cooperação seriam energia e biotecnologia.


UM TESTE PARA O PODER


Com a manchete ‘Uma década no vermelho’ e a submanchete ‘Orçamento de Obama vê anos de déficits, um teste para o poder dos EUA’, além do título interno ‘Grandes déficits podem mudar poder global’, o ‘New York Times’ avisou que ‘os EUA podem começar a sofrer da doença que afetou o Japão na última década’, quando ‘a influência do país no mundo se corroeu’. Exemplifica com uma pergunta do assessor econômico Lawrence Summers: ‘Por quanto tempo o maior devedor do mundo pode ser a maior potência?’.


OBAMA E A BOMBA


Na manchete do Drudge Report, com foto de Obama, ‘Como ele aprendeu a amar a bomba’, trocadilho com o título de ‘Dr. Strangelove’. Linka longa reportagem da AP sobre o orçamento dos EUA, ‘Obama busca dinheiro para desenvolvimento de armas nucleares’.


E OS ASSASSINATOS


Roger Cohen, colunista do ‘NYT’, escreveu ontem que ‘estamos testemunhando o declínio do Ocidente’. E lamentou que, no ‘estado da nação’, Obama só tenha sido mais eloquente nas ações do que nas palavras ao anunciar ‘muito mais assassinatos’ de membros da Al Qaeda.


QUE CRISE?


O site da ‘Economist’ analisou os ‘tapas’ trocados por EUA e China e concluiu que ‘existe menos ‘crise’ do que parece’. Mas acrescentou: ‘Provavelmente’. Por outro lado, a agência Xinhua noticiou ontem que o ‘Brasil planeja elevar relações comerciais com a China’, no segundo encontro da Comissão de Cooperação de Alto Nível, em março. E o ‘Wall Street Journal’ cobria ontem a visita a Pequim do ministro da energia da Venezuela, para ‘negociações sobre petróleo’.’


 


 


MERCADO


‘Avatar’ impulsiona lucro de US$ 254 mi da News Corp.


‘A News Corp., empresa do bilionário Rupert Murdoch que engloba jornais como o ‘Wall Street Journal’ e o ‘Times’ e a rede de TV e o estúdio Fox, teve um lucro de US$ 254 milhões nos últimos três meses do ano passado. Ela perdeu US$ 6,4 bilhões no mesmo período de 2008.


Parte do resultado se deve ao faturamento do filme ‘Avatar’, lançado no fim de 2009 e que, ainda em cartaz, já obteve a maior bilheteria da história do cinema.


A área de jornais da News Corp. teve lucro operacional de US$ 259 milhões, US$ 59 milhões mais que no quarto trimestre de 2008. O crescimento se deve à maior receita com publicidade e à queda nas despesas.’


 


 


TELEVISÃO


Laura Mattos e Clarice Cardoso


Record muda fim de novela e deixa Bela feia


‘O fim de ‘Bela, a Feia’ será diferente do de ‘Betty, la Fea’, novela colombiana fenômeno de audiência que deu origem a várias versões internacionais, entre elas a da Record e o seriado ‘UgglyBetty’, nos EUA.


No original, a protagonista passa por uma transformação visual, torna-se linda e se casa como dono da empresa de moda onde é secretária.


Na Record, Bela (Giselle Itié) vai sofrer um atentado e ser salva por Vera (Sílvia Pfeiffer). A cena vai ao ar na segunda-feira. Mas todos pensarão que ela está morta. Ela então reaparecerá linda, com outra identidade, Valentina Carvalho, e assumirá a presidência da agência de publicidade na qual era secretária.


Emc asa, contudo, volta a ser Bela, a feia. ‘Usa roupas largas, óculos no lugar de lentes de contato e o arquinho no cabelo’, conta a autora da versão brasileira,Gisele Joras.


Ela nega que a mudança tenha relação com a audiência, que subiu nos últimos capítulos, chegando a 13 de média, mas está abaixo da expectativa inicial daRecord. ‘Aceitei fazer a versão com a condição de que teria liberdade de criação. Do contrário, seria apenas a mera tradução do original. Tenho autonomia para fazer a personagem feia ou bonita conforme as conveniências da trama. Achei interessante antecipar a transformação da protagonista, mas sem alterar sua essência.’


A primeira vez que Bela surge bonita é em sonho de Rodrigo (Bruno Ferrari), na próxima terça. A novela acaba em abril.


CARTÃO AMARELO


A disputa entre Globo e Jovem Pan não é restrita à campanha da rádio contra o que chama de ‘devassidão’ da novela das oito. As empresas estão na Justiça por causa do Campeonato Paulista de Futebol. Os repórteres foram proibidos de entrarem campo para entrevistar jogadores porque podem ‘perturbá-los’ e ‘abrir espaços a oportunistas que transmitem publicidade irregular’, segundo a Globo, que detém os direitos de transmissão.


CARTÃO VERMELHO


Os repórteres têm de ficar atrás das placas de anúncios. A Globo diz que a regra é da Federação Paulista de Futebol. A Pan, que fala em ‘censura’, perdeu em primeira instância e recorrerá. Em 2009, seus repórteres podiam entrar no campo amparados por liminar.


TEMAS MALUCOS 1


O Canal Brasil acaba de aprovar o piloto(teste) do programa ‘Campeões de Audiência’, que será apresentado por Michel Melamed. Entre outros trabalhos, o ator interpretou Bentinho na minissérie ‘Capitu’, na Globo, em 2008.A estreia está prevista para abril.


TEMAS MALUCOS 2


Serão produzidos 13 episódios, que terão assuntos curiosos e ‘experimentais’. Os primeiros devem ser ‘Favela Planet’ e ‘Açougues, Arames Farpados e Solos de Bateria’. O primeiro convidado de Melamed será o ator Matheus Nachtergaele. Antonio Fagundes, Luana Piovani, Letícia Sabatella e Lucio Mauro Filho também vão gravar participação.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Estreia do final de ‘Lost’ cai na internet antes de exibição na TV


‘Era óbvio que não daria para segurar. E não deu. Após uma pré-estreia no Havaí do primeiro episódio da sexta e última temporada de ‘Lost’, os fãs começaram a colocar na internet a íntegra, com uma qualidade relativamente aceitável para quem não aguenta esperar.


Nos EUA, a estreia foi ontem à noite. No Brasil, o AXN exibe a première no próximo dia 9.


O barulho de motocicletas e de carros de polícia invadem a projeção de vez em quando, tornando impossível escutar o diálogo. Também dá para ouvir ao fundo os espectadores gritando quando aparece alguma cena mais importante.


Se você não quiser saber nada com antecedência, melhor guardar este texto para ler depois de ver o capítulo.


A rede ABC, detentora dos direitos da série, já havia vazado um trecho propositalmente na semana passada. Já o YouTube exibia outra sequência mostrando o que aconteceu após a explosão da bomba.


É essa a única resposta que o primeiro episódio traz. Duas realidades vão correr em paralelo: o avião pousa em Los Angeles sem maiores transtornos e nenhuma lembrança do acidente anterior; e os sobreviventes da queda do Oceanic 815 tentam salvar Sayid e Juliet, que estão feridos gravemente.


Locke, que não é mais Locke, está mais forte e decidido a fazer algo misterioso e urgente.


Aliás, mais do que responder, o episódio vai levantar novas perguntas: por que ‘o novo John Locke’ corta um pedaço de tapeçaria no templo? Ele é o monstro da fumaça? Como unir as duas realidades?


Apesar de morto, Jacob também reaparece para Hurley. Afinal, no passado ainda não morreu. Mesmo transtornado, direciona os bonzinhos para o templo. Poderia mudar o futuro? Tudo é possível. E esta estreia mostra que as respostas não serão menos complicadas.


LOST – 6ª TEMPORADA


Quando: dia 9, às 21h, no AXN


Classificação: 16 anos’


 


 


TECNOLOGIA


Daniela Arrais


Lançado em festa, iPad vira alvo de crítica e piada


‘Antes de anunciar o iPad, Steve Jobs afirmou que o aparelho seria o mais inovador que a Apple produziu até hoje. A expectativa dos fanáticos e do mercado de tecnologia foi às alturas. Mas bastou que o executivo-chefe da empresa anunciasse na quarta-feira passada seu aguardado tablet para que começassem a chover críticas.


Com tela de 9,7 polegas sensível ao toque , bateria prometida para durar dez horas, conexões Wi-Fi, 3G e Bluetooth, o iPad permite ver filmes, ouvir músicas e navegar na internet. Lembra um iPod Touch gigante -ou até um iPhone-, mas peca, entre outras coisas, por não ter câmera nem entrada USB.


Durante a apresentação do iPad, em San Francisco, Steve Jobs mostrou como o dispositivo é funcional na hora de ler jornais e revistas. A expectativa do mercado editorial é que o iPad seja uma espécie de tábua de salvação para conglomerados de mídia, que até agora não encontraram um maneira eficiente de lucrar com conteúdo on-line.


Diógenes Muniz, editor de multimídia da Folha Online, fez uma análise crítica sobre o iPad. ‘Ele não tem câmera, tampouco entrada USB. Não roda páginas em flash. Executa só uma tarefa por vez. Embora seja um portátil, não vem com GPS. A não ser que você use macacão, não entrará no seu bolso. A descrição cabe como uma luva no Macintosh Portable, primeira tentativa da Apple em criar um ‘minicomputador’ -em 1989. Ou seja, legítima tecnologia pré-queda do Muro de Berlim.’


Leia o texto completo em bit.ly/ipaddiogenes.


O ReadWriteWeb, site especializado em tecnologia, enumerou cinco razões pelas quais os usuários devem esperar para comprar o iPad.


Os próximos modelos devem chegar às lojas com câmera, recursos para fazer ligações, outros para fazer anotações em livros eletrônicos e ainda devem permitir desempenhar várias atividades ao mesmo tempo, o que não é possível fazer na versão anunciada.


Já o Jezebel aproveitou o lançamento para fazer piadas com o nome do dispositivo. Em inglês, ‘pad’ é usado para se referir a absorventes. Leia, em inglês, em bit.ly/ipadpiadas.


Empresas aproveitaram o lançamento do iPad para anunciar novidades. A Digital Playground, que produz conteúdo adulto, anunciou o primeiro filme pornô para iPad. ‘Usuários poderão aproveitar agora a experiência do toque manual a partir da tela de dez polegadas, melhor do que assistir nas telas do iPhone e do iPod’, disse a empresa.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


 


INTERNET


Google usa outdoors para anunciar Chrome


‘Numa ação incomum, o Google está fazendo anúncios na mídia convencional para promover o seu navegador Chrome na Europa, antes de uma mudança regulatória que tornará mais fácil para os consumidores trocar de navegador. A campanha usa a mídia impressa e outdoors nas ruas e estações de metrô de Londres, Paris e Amsterdã.’


 


 


CARNAVAL


Roberta Pennafort


Músicas fazem piada com notícias do ano


‘O pré-sal, o ‘mensalão do DEM’, o vestido de Geisy, o Hino Nacional (mal) cantado por Vanusa… Alguns dos assuntos mais comentados de 2009 continuam na boca do povo neste carnaval, nos sambas dos blocos de rua cariocas. A menos de duas semanas do início oficial da folia, milhares de foliões já estão pulando e cantando no Rio – só no último fim de semana, entre ensaios e desfiles, foram mais de 15 blocos, que atraíram cerca de 50 mil pessoas.


O Imprensa Que Eu Gamo, bloco de Laranjeiras fundado por jornalistas há 15 anos, saiu no sábado à tarde, com um samba que falou sobre a censura ao Estado (que completa hoje 187 dias), a lei antifumo, o fechamento da boate Help!, a morte de Michael Jackson, os comentários infelizes de Boris Casoy sobre garis, vazados na internet, além do vestido que Geisy Arruda usou na Uniban, em São Paulo, e o hino cantado errado por Vanusa.


O sábado foi animado também em Ipanema. A tradicional Banda de Ipanema, que neste carnaval homenageia Oscar Niemeyer, ganhou o aval do arquiteto de 102 anos, cujo traço ilustra sua camiseta oficial. O domingo foi agitado em vários pontos da cidade.


Nem todos os blocos têm samba próprio. Há os que preferem músicas já conhecidas, como as marchinhas carnavalescas, caso da Banda de Ipanema. Além de Niemeyer, outros homenageados deste ano são os compositores Noel Rosa, pelo Simpatia É Quase Amor, e Moacyr Luz, pelo Nem Muda Nem Sai De Cima, do qual ele é fundador. ‘Com que roupa eu vou? / Hoje eu resolvo este dilema/ Com que roupa eu vou?/ Vou de amarelo e lilás para Ipanema’, diz o samba do Simpatia, que desfila em Ipanema. ‘Eu já morri de rir/ De tudo que vivi/ Nos botequins mais vagabundos/ Me embriaguei demais’, brinca o Bloco da Muda, na Tijuca.


O Suvaco do Cristo, do Jardim Botânico, fala de seus 25 carnavais, enquanto o Cutucano Atrás, do Leme, em seu quinto desfile, viaja para o Norte do País, num samba que mistura Fafá de Belém, a banda Calypso e fauna amazônica. O Barbas, que sai em Botafogo, escolheu dois sambas, ambos sobre o pré-sal. ‘O Barbas faz a festa e anuncia/ Achamos chope na camada do pré-sal/ Bora chope, tira chope/ Nunca acaba a saideira/ Bota a sonda lá no fundo/ Vou fincar minha bandeira’, debocha uma das letras.


A prefeitura promete que este será o carnaval de rua mais organizado da história, e os efeitos de suas novas normas (cadastro de todos os blocos, com horários rígidos para começo e dispersão; ambulantes cadastrados e uniformizados) já estão sendo sentidos pelos frequentadores, que, ao menos neste pré-carnaval, elogiam as medidas.


Estima-se que 2,5 milhões de pessoas participem dos blocos, entre cariocas e turistas. A urina nas calçadas é um de seus efeitos colaterais. Mesmo com o número maior de banheiros químicos e com a instalação de faixas como ‘Segura o xixi que o banheiro é logo ali’, homens e mulheres foram flagrados neste fim de semana urinando na rua – por vezes, ao lado dos banheiros.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Donos do controle


‘O troféu do primeiro lugar na TV paga em 2009 trocou de mãos, mas segue na mesma seara: infantil. O Estado teve acesso à medição nacional do Ibope na TV por assinatura no ano passado e o canal mais assistido foi o Discovery Kids, terceiro lugar em audiência em 2008. Também voltado para crianças, o Disney Channel, campeão de audiência em 2008, caiu para o 4º lugar em 2009. O Cartoon Network subiu de 4º para o 3º lugar em ibope enquanto o Nickelodeon saiu da 15ª posição para integrar o top 10 em audiência, no 10º lugar.


No meio da guerra dos desenhos animados, o futebol continua defendendo o seu. O Sportv manteve o segundo lugar em audiência em 2009. O canal de notícias Globo News subiu uma posição, roubando o 5º lugar do TNT.


O canal Futura impressiona pelo seu crescimento: subiu do 17º lugar para o 14º em ibope.


Os canais de filmes perderam audiência em 2009. Dos Telecines, o único que manteve a mesma posição de 2008 foi o Premium, 16º no ranking. A HBO despencou de 19º para 25º lugar, assim como o Max Prime e o Cinemax que perderam mais de quatro posições no ranking.’


 


 


Entrelinhas


‘O ‘novo Tirso’. É assim que o chorão Eliéser vem sendo chamado por quem curte, ou não, o BBB 10, da Globo.


Para quem não se lembra – o que não é muito raro no caso de ex-BBBs -, Tirso era um participante do BBB 4 que vivia sendo espezinhado por sua namorada no reality, Manuela.


CQC e Pânico quase anteciparam a volta das férias. Depois de Vanusa, Fafá de Belém errou o Hino Nacional. Foi em um evento no Mato Grosso, e a cantora alegou estar muito emocionada.


Bizarros os merchandisings de sabão em pó no pay-per-view do BBB 10. A caixa do produto ganha um close desnecessário toda vez que alguém vai lavar roupa. Parece The Truman Show.


Operação de Risco, que estreou anteontem na RedeTV!, registrou média de 6 pontos de ibope e empatou com o SBT, em terceiro lugar no horário.


O humorista Marcos Veras, que vive o personagem Frescone no Zorra Total, é o mais novo contratado da Globo.


Mineira de carteirinha, Cynthia Falabella, irmã de Débora Falabella, treinou o sotaque e os maneirismos do elenco do filme Chico Xavier, dirigido por Daniel Filho. A atriz participa do elenco como professora do médium.


Corrigindo: a UEFA Euro, que o Sportv vai transmitir, será em 2012.’


 


 


LITERATURA


Katie Zezima, The New York Times


A batcaverna de Salinger


‘Seu personagem mais famoso, Holden Caulfield, disse que é impossível encontrar um lugar ‘agradável e de muita paz’, mas parece que J.D. Salinger descobriu algo muito próximo nos bosques desta minúscula cidadezinha. Aqui, Salinger era apenas Jerry, um homem tranquilo que chegava cedo ao jantar da igreja, cumprimentava com a cabeça enquanto comprava um jornal no armazém e, certa vez, deixou um bilhete agradecendo aos bombeiros que apagaram um incêndio na sua casa, ajudando-o a salvar seus papéis e manuscritos.


Apesar da fama, Salinger ‘não era um recluso’, segundo Nancy Norwalk, bibliotecária da Philip Read Memorial Library de Plainfield, que Salinger costumava frequentar. ‘Ele era uma pessoa da cidade.’ E na semana passada, depois da sua morte, os vizinhos não falaram dele, obedecendo ao código do lugar. ‘Ninguém queria invadir sua privacidade, e todos a preservavam – do contrário ele não teria permanecido aqui todos esses anos’, comentou Sherry Boudro, da vizinha Windsor, Vermont, cujo pai, Paul Sayah, foi amigo de Salinger na década de 70. ‘A comunidade o via como uma pessoa, não apenas como o autor de O Apanhador no Campo de Centeio. Ela o respeitava. Ele era um indivíduo que só queria viver sua vida.’


Os curiosos costumavam chegar a Cornish perguntando como chegar à casa de Salinger. Em vez de encontrar a casa, os intrusos iam parar às vezes no meio do mato. Dependendo da arrogância dos estranhos, estes poderiam ir parar bem mais longe, conta Mike Ackerman, proprietário da Cornish General Store.


‘Salinger era como o ícone do Batman. Todos sabem que Batman existe, e todos sabem que existe uma batcaverna, mas ninguém revela onde ela está.’ Cornish, uma cidadezinha com cerca de 1.700 habitantes à margem do Rio Connecticut, tem dois armazéns, uma agência dos Correios, uma igreja e quilômetros de bosques de pinheiros, carvalhos, campos cultivados e colinas a perder de vista. O lugar sempre foi um refúgio de artistas e escritores durante o verão, um esconderijo no meio dos bosques para os amantes da solidão.


Parece que Salinger adorava este lugar. Até poucos anos atrás, votava nas eleições, participava das reuniões na Escola Elementar de Cornish e todos os dias fazia uma visita ao Plainfield General Store antes do fechamento. Muitas vezes era visto no supermercado Price Chopper em Windsor, que é separada de Cornish por uma ponte coberta e agora pelo rio coberto de gelo, e costumava almoçar sozinho no Windsor Diner.


Dizem também que Salinger ia à biblioteca do Dartmouth College e, vez por outra, participava de festas na casa dos vizinhos. Na década de 50, Salinger gostava de sair com os estudantes do Colégio Windsor, contam os habitantes, reunindo-se com eles no Nap’s Lunch, uma lanchonete.


Salinger e a mulher, Colleen O’Neill, eram ‘muito generosos’ com a cidadezinha de Cornish, disse Keith L. Jones, vereador e proprietário da Cornish Automotive. Colleen, que se casou com Salinger no fim dos anos 80, é uma pessoa de qualidades excepcionais e participa ativamente da vida da comunidade. É também uma defensora do meio ambiente: adquiriu lotes de terra ameaçados pelas incorporadoras por toda a região. Em meados do ano passado, preservou um velho celeiro da propriedade do casal, que dá para o Monte Ascutney e de onde se descortina a paisagem do Vermont.


‘Ela dizia: ‘Jerry quer que eu ponha abaixo o celeiro. Mas quero conservá-lo’, conta Taylor. Nos últimos anos, Salinger saía pouco de casa, mas ‘adorava o jantar da igreja’, diz Jones.


O escritor era um dos frequentadores mais assíduos dos almoços com rosbife de US$ 12, da Primeira Igreja Congregacional de Hartland, Vermont. Costumava chegar antes do horário, e matava o tempo escrevendo num caderninho de espiral, diz Jeannie Frazer, que é membro da Igreja. Salinger usava quase sempre calça de veludo cotelê e uma malha, e não abria a boca. Sentava-se na cabeceira da mesa, perto do lugar onde as tortas ficavam expostas.


Compareceu ao jantar costumeiro pela última vez em dezembro, e Colleen buscou a comida nos dois últimos sábados. Salinger era um dos poucos frequentadores que davam alguns trocados às crianças. ‘Nem todos dão uma gorjeta’, conta Stuart Farnham, cujo filho uma vez recebeu uma gorjeta de US$ 2 do escritor.


Merilyn Bourne, presidente da Câmara dos Vereadores de Cornish, comprou uma casa da ex-mulher de Salinger na década de 80. A casa tinha um túnel que levava da garagem até o edifício principal, e cuja finalidade era preservar a sua privacidade. Bourne contou que, um dia, logo depois que comprou a casa, estava consertando um cano furado na cozinha quando ouviu um vozeirão perguntar, ‘Quem está aqui?’, no outro cômodo. Era Salinger, que queria saber quem estava lá. Depois de ouvir a explicação, foi embora e os dois nunca mais voltaram a se falar.


Anos mais tarde, Bourne se mudou para outro imóvel mais perto de Salinger. Ele costumava parar em seu Toyota Land Cruiser bege para conversar com os filhos de Bourne, que brincavam na frente da casa. Fazia perguntas sobre a escola, os brinquedos. No inverno, as crianças batiam à porta de Salinger pedindo para escorregar de trenó na colina ao lado da sua casa, e ele sempre deixava. ‘Compreendo por que, depois de ser perseguido por tantos anos, ele achava os adultos suspeitos e as crianças não’, diz Bourne. Peter Burling, que vive na cidadezinha e foi senador estadual, viveu perto da casa de Salinger e lembra dele como um vizinho comunicativo, que sempre cumprimentava as pessoas.


Anos atrás, Burling pintou de vermelho o poste da parada de ônibus no pé da colina para o filho. Os sites ensinavam às pessoas que procuravam a casa de Salinger para virar na parada. Mais tarde, Burling a vendeu para Christian Karl Gerhartsreiter, um alemão que se dizia parente dos Rockefeller e mais tarde foi condenado pelo sequestro de um filho. Um dia, um visitante curioso acabou na casa de Gerhartsreiter, lembra Burling. ‘As pessoas viravam e iam até a sua casa, pedindo para conhecer Salinger.’


O autor não aprovava todos os costumes e o estilo de vida da Nova Inglaterra. Há gerações, todos os anos, estas cidadezinhas nomeiam numa reunião na prefeitura um apanhador honorário de porcos – uma pessoa que consegue apanhar um animal em fuga. Em Cornish, por brincadeira, todos os anos eram nomeados recém-casados. Na década de 50, Salinger e sua primeira esposa, Claire, receberam o título honorífico, conta Taylor. ‘Mas, pelo que sei, ele não gostou muito.’ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA’


 


 


 


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