Na semana passada, o Washington Post publicou matéria segundo a qual o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, teria dado autorização para abater um pequeno avião não identificado que sobrevoava Washington. Escrita pelos repórteres Spencer S. Hsu e John Mintz, baseava-se em duas fontes anônimas que teriam ligação com o caso, corroboradas por uma terceira. O Pentágono foi consultado antes da publicação e não deu resposta clara a respeito. Somente depois que a notícia saiu, Rumsfeld a desmentiu.
Com o caso da reportagem da Newsweek sobre o desrespeito ao Corão por parte de soldados americanos na base de Guantánamo, ocorreu algo parecido. A revista consultou um porta-voz militar e um alto funcionário do departamento de Defesa, e nenhum dos dois desmentiu as denúncias mais graves, que posteriormente seriam refutadas oficialmente, forçando a publicação a se retratar (antes, é claro, de vir à tona o documento que confirmaria a pratica de abusos). É verdade que em ambas as situações – da Newsweek e do Post – os representantes do governo tiveram poucas horas para preparar uma resposta, o que não é muito adequado.
O ombudsman do Post, Michael Getler, no entanto, em sua coluna de 12/6/05, conta que quando cobria política, nos anos 60 e 70, os funcionários sempre davam um jeito de avisar os jornalistas para que tivessem cuidado com determinado aspecto de uma reportagem, mesmo que não indicassem especificamente qual era sua falha. Hoje, parece que há uma predisposição a deixar que a imprensa publique o que quiser, para que depois se desminta. Obviamente a mídia comete erros por si própria, mas há elementos que levam a crer que integrantes do governo não estão muito preocupados em prevenir que se publique informações equivocadas, talvez porque seja de seu interesse que certos assuntos ganhem atenção em detrimento de outros. No fim, o maior prejudicado neste jogo é o público.