Portal Imprensa, 28/03 Luiz Gustavo Pacete Projeto de apuração coletiva reúne jornalistas de 11 países da América Latina O Conselho de Redação da Colômbia (CdR), entidade que atua em prol do jornalismo investigativo no país, publicou na semana passada matéria feita por um grupo de 18 jornalistas representando onze nacionalidades. A iniciativa pretende estimular a apuração coletiva e o jornalismo independente e investigativo na América Latina. A reportagem, intitulada ‘Os laços de um gigante verde‘, foi supervisionada pela repórter costarriquenha Giannina Segnini e apurada por jornalistas da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e Venezuela. O projeto foi desenvolvido por meio da plataforma do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e o esforço conjunto de sete entidades. ‘A iniciativa une a vontade de diversas organizações de jornalistas independentes de trabalhar com projetos coletivos’, informou o Centro Knight. A ideia é que jornalistas de diversos países latinos escrevam, juntos, grandes reportagens sobre temas relevantes para toda a região. Mauri König, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e repórter do jornal Gazeta do Povo de Curitiba (PR), esteve presente no congresso em Bogotá que deu origem ao projeto, em maio de 2010. ‘Representantes de várias entidades deram início a um trabalho que trata de temas relacionados à América Latina sem linha política ou ideológica’, diz ele. No Brasil, a apuração foi feita pelo jornalista Aguirre Peixoto, do jornal A Tarde. Entre as entidades que apóiam o projeto está a Abraji, o Centro de Jornalismo Investigativo do Chile (Cliper), a revista mexicana Emeequis, o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), o Fórum de Jornalistas do Paraguai (Fopep), o Instituto de Imprensa Sociedade (IPYS Venezuela) e a Fundação para o novo jornalismo Ibero-Americano (FNPI-Colômbia). A matéria de estreia do grupo aponta que a América Latina está perdendo oportunidade de conservar suas florestas por conta da burocracia. Outro ponto de destaque da investigação está relacionado ao cumprimento de normas do Protocolo de Kyoto. ‘Atualmente só existem 15 iniciativas de reflorestamento da região cadastradas no Protocolo de Kyoto’, diz um trecho da reportagem. Pautas e relevância O tema ‘amazônia’ foi o primeiro a ser escolhido pelo projeto por causa da importância que tem para a região. König ressalta que o conteúdo gerado é livre e pode ser publicado por qualquer instituição ou veículo. ‘A ideia é difundir esse material que não é propriedade dos jornalistas, mas da sociedade e deve alcançar o maior número possível de leitores’, diz o jornalista. Os próximos temas, que serão desenvolvidos de acordo com o mesmo modelo, são: agroquímicos e pesticidas, o negócio da água engarrafada, o comportamento ético das empresas ao norte do Equador, além de energias e relação com os vizinhos. A jornalista Ana Carolina Amaral, repórter da revista Envolverde, destaca que este tipo de iniciativa tira o tema ambiental do desprezo das redações. ‘A cobertura de meio ambiente sempre andou pelos guetos das grandes redações e entre os motivos não estão só os interesses econômicos e políticos que jogam contra a consciência ambiental, mas também a falta de equipes aptas para essa cobertura’, avalia. Ana destaca também que ‘meio ambiente não pode ser tratado com superficialidade, isso requer um olhar mais apurado do repórter: um olhar transversal que enxergue a insustentabilidade do nosso sistema e questione as alternativas disponíveis’, comenta. Novos modelos No Brasil, iniciativas relacionadas ao jornalismo investigativo também estão em evidência. Conforme adiantou o Portal IMPRENSA, a jornalista Natalia Viana, representante do WikiLeaks no país, e as jornalistas Marina Amaral e Tatiana Merlino vão inaugurar em abril a agência de jornalismo investigativo Pública. O objetivo é realizar reportagens de fôlego em parceria com veículos e jornalistas do mundo todo. Milena Serro, jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Trata Brasil, chama a atenção para o papel de novos modelos de apuração e produção jornalística na cobertura ambiental, principalmente na fiscalização do poder público. Entre as ações do instituto está o monitoramento das obras do PAC. Uma das iniciativas foi levantar o grau de conhecimento da população sobre os temas relacionados e o que elas sabem sobre o andamento das obras públicas. ‘Fizemos nas cidades com mais de 500 mil habitantes um monitoramento das obras do PAC. Muitas estão paralisadas, outras sequer foram iniciadas’, destaca Milena. Em 2008, o instituto divulgou pesquisa em que identifica 31% da população desconhecem o que é saneamento, e somente 3% relaciona o tema à saúde. ‘A única forma de disseminar o assunto é por meio dos jornalistas aptos a investigá-los’.