Na semana passada, o Washington Post publicou dois textos muito importantes, segundo seu ombudsman, Michael Getler [29/2/04]. O primeiro é uma série de duas matérias de Steve Coll, editor-administrativo do jornal, sobre a investigação que a CIA fez de Osama bin Laden antes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O segundo, distribuído internamente, é a nova política de uso de fontes anônimas que os repórteres do diário devem seguir. Getler coloca os dois documentos lado a lado para refletir sobre a citação de entrevistados não-identificados.
Após o escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair no New York Times, vários jornais americanos têm revisto seus procedimentos internos. O Post também resolveu fazer isso, porque os leitores têm exigido mais detalhes sobre as fontes das matérias. O diário sempre teve como norma a cautela com citações anônimas. Mas, dependendo da editoria, ela não era aplicada com tanto rigor. Os repórteres que cobrem política, por exemplo, já estão habituados a detalhar menos de onde vêm as informações que estão publicando, e será penoso acostumá-los a trabalhar de forma diferente. Mas é uma briga que vale ser comprada.
Nesse contexto, de forma aparentemente contraditória, é publicada a série de Coll, que faz um relato fascinante sobre esforço da CIA para encontrar bin Laden, sem mencionar o nome de quase nenhuma fonte. ‘É o que alguns chamam de jornalismo ‘confie em mim’’, brinca Getler, sem desmerecer o trabalho do autor, que se baseou em dezenas de entrevistas ‘em off‘ para tirar suas conclusões. Para casos como esse, a nova política de confidencialidade do Post prevê uma brecha. ‘Entendo que há certos assuntos, especialmente segurança nacional, em que os informantes simplesmente não se deixam identificar’, conclui o ombudsman.