O tema da coluna de domingo [10/4] do editor–público do New York Times foi o acordo feito entre o jornal e a Universidade Colúmbia. Não poderia ser diferente. A notícia de que um dos mais importantes jornais dos EUA teria concordado em não procurar outras fontes em troca de informação privilegiada causou polêmica na imprensa americana.
Em breves linhas, o caso se deu da seguinte forma: para divulgar um relatório sobre acusações de anti-semitismo sofridas por professores, a universidade ofereceu ao Times acesso antecipado ao documento. Em troca, a repórter do jornal não deveria procurar outras fontes envolvidas – os estudantes responsáveis pelas acusações. Trato feito, o Times publicou a matéria, com exclusividade, na primeira página. A reação dos alunos foi publicada no dia seguinte, mas longe do destaque que recebeu a primeira versão da história.
O esquema entre as duas instituições foi revelado pelo jornal The New York Sun, e o Times admitiu o acordo em um editorial, na semana passada. Nele, diz que a repórter e seus editores violaram a política interna do jornal, mas justifica o erro afirmando que eles teriam simplesmente ‘esquecido’ de segui-la.
Obsessão pelo furo
Em seu texto, Daniel Okrent busca se deter na questão jornalística; diz que deixa para os professores e alunos de Colúmbia o julgamento de sua estratégia de imprensa. Ainda assim, opina sobre a atitude da universidade: ‘Colúmbia quis controlar como a notícia do relatório seria publicada’.
O ombudsman afirma que, provavelmente, a matéria sobre a universidade teria ganhado destaque de qualquer maneira, mas o fato de contar com informações exclusivas garantiu seu espaço na primeira página. ‘A vontade de ser o primeiro, vencer a competição, fazer com que os outros jornais tenham que dizer ‘como noticiado ontem pelo New York Times’ coloca o jornal em uma posição de destaque, motiva seus jornalistas e o leva a ganhar prêmios. E a ser manipulado também.’, diz ele.
Okrent não se surpreende com a atitude do Times. ‘Eu gostaria de poder dizer que o caso de Colúmbia foi uma aberração. Gostaria também de provar que não foi’, diz. A obsessão pelo furo parece, por vezes, enlouquecer repórteres e editores. Mas estes mesmos profissionais que chegam a fazer acordos com fontes não anunciam que o fazem.
Competição acirrada
O ombudsman dá dois exemplos que ilustram como a pressa, no jornalismo, é vista muitas vezes como característica essencial que separa os vencedores dos perdedores:
Em março de 2004, quando o jornal noticiou no topo da primeira página o horror do ataque terrorista que matou 191 pessoas em Madri, posicionou logo abaixo uma matéria sobre o comércio de cadáveres para pesquisas científicas. Muitos leitores consideraram falta de respeito a publicação daquela matéria naquele dia específico. Perguntado pelo ombudsman porque o artigo não poderia ter sido segurado por um ou dois dias, o editor responsável respondeu que havia um boato de que o Los Angeles Times estaria preparando a mesma história para breve.
Em junho do ano passado, quando do lançamento da gigantesca biografia de Bill Clinton, uma crítica do livro foi parar na primeira página. Na ocasião, Okrent chegou a criticar o destaque que recebeu o texto opinativo, mas, hoje, acredita ter feito a crítica errada: ‘o estranho foi a publicação de uma resenha de um livro de 957 páginas apenas 24 horas depois de o exemplar ter sido recebido pelo jornalista’.
Mas o ombudsman alerta para alguns sinais que podem ser observados pelos leitores. Deve-se desconfiar de matérias com as expressões ‘que será anunciado amanhã’, ‘obtido pelo Times e com divulgação prevista para amanhã’, ou com qualquer outra junção de palavras que sugira que determinada informação está apenas no Times, e nenhum outro jornal a terá, pelo menos até o dia seguinte. Artigos em que as únicas pessoas citadas são as interessadas na divulgação da notícia também são suspeitas. Se encontrar casos como estes, ‘desconfie’, diz Okrent, ‘e fique furioso, também. Você merece melhor jornalismo do que esse’.
RODAPÉ