No dia 12/9, um artigo da Associated Press publicado no New York Times contava que o Gabinete de Recenseamento dos EUA havia cortado seus laços com a organização comunitária Acorn, que promove ações antipobreza e foi uma das mais ativas na promoção da campanha de Barack Obama para a presidência americana. Mas a matéria deixou de mencionar – ressalta o ombudsman Clark Hoyt em sua coluna de domingo [27/9/09] – um vídeo feito por dois jovens ativistas conservadores mostrando um dos funcionários da Acorn dando conselhos empresariais sobre como abrir um bordel, evitar detenções e burlar o pagamento de impostos.
Por dias, o vídeo foi divulgado por sites e blogs conservadores, e o NYTimes permaneceu em silêncio. Sua demora em tratar do caso sugeriu que o diário teria, no mínimo, problemas em lidar com o escândalo trazido à tona por programas de rádio, TV a cabo e blogs de direita. Em alguns casos, há falta de dados concretos, mas, em outros, é importante que o NYTimes esteja alerta para não correr o risco de ser acusado de partidarismo, alerta o ombudsman.
Alguns editores alegaram que não estavam cientes do vídeo, que foi exibido pela Fox News e postado no YouTube e no site conservador BigGovernment. Quando o Senado votou por cortar toda a ajuda financeira federal à Acorn, não houve uma palavra sobre isto no site ou no jornal. Quando o conselho da cidade de Nova York optou por congelar o financiamento à Acorn e o procurador do Brooklyn abriu uma investigação criminal, o jornalão também não publicou nada. Finalmente, no dia 16/9, quase uma semana depois da divulgação do primeiro vídeo, o NYTimes publicou um artigo afirmando que conservadores, com o objetivo de ‘enfraquecer o governo do presidente Barack Obama’, haviam atacado seus aliados de esquerda. Ao focar no lado político da questão, o artigo irritou ainda mais os leitores.
Apuração
Na opinião do ombudsman, o diário enfatizou demais a política e errou ao não questionar o comportamento da organização. O NYTimes entrevistou Bertha Lewis, executiva-chefe da Acorn, que contou que os ativistas James O’Keefe e Hannah Giles, disfarçados de cafetão e prostituta, passaram meses visitando escritórios da Acorn em San Diego, Los Angeles, Miami e Filadélfia antes de obter as respostas que queriam. Entre a entrevista com ela e a publicação da matéria, um novo vídeo surgiu, mostrando um funcionário do escritório da Acorn no Brooklyn aconselhando Hannah sobre como esconder o dinheiro obtido com prostituição.
Alguns leitores viram um esforço deliberado do jornal para ajudar Bertha a não se envolver no escândalo. O repórter Scott Shane disse que não conseguiu falar com ela após a divulgação do novo vídeo e achou que incluir a cidade de Nova York na matéria era injusto, pois ela não a havia mencionado. Na opinião de Hoyt, o caso ocorrido em Nova York deveria ter sido divulgado.
Para críticos conservadores, O’Keefe e Hannah fizeram o que a grande mídia deveria ter feito – investigado a Acorn. A maior parte das organizações de notícias, entretanto, considera a tática usada por eles antiética. O NYTimes, por exemplo, proíbe repórteres de trabalhar disfarçados, fingindo ser outras pessoas. Segundo Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para Excelência no Jornalismo, conservadores que acusam o NYTimes de não ser crítico aos democratas esquecem que o jornal publicou furos sobre as finanças do deputado democrata Charles Rangel e sobre a contratação de uma prostituta pelo então governador de Nova York, o também democrata Eliot Spitzer.