O editor do New York Times [10/10/04], Daniel Okrent, tem sido bombardeado por cartas de leitores elogiando e, principalmente, reclamando da cobertura da campanha para a eleição presidencial americana. Chegam várias mensagens afirmando que o jornal é tendencioso em favor de John Kerry e outras acusando o diário de favorecer George W. Bush. Okrent afirma que votará em Kerry e que, por isso, tem feito um esforço extra para dar atenção às reclamações dos republicanos, como forma de contrabalançar sua preferência pessoal. ‘Eu não aceito o argumento que um par de editores do Times usa de que, como as acusações de parcialidade vêm de liberais e conservadores, o jornal deve estar fazendo as coisas da forma certa. Isso faz tanto sentido quanto dizer que um homem que tem um pé sobre um bloco de gelo e outro num recipiente com carvão em brasa deve estar se sentindo bem’, escreve o editor público, explicando que tem muitas críticas a fazer sobre a cobertura eleitoral do diário, como, por exemplo, o excessivo espaço concedido a especulações de bastidores com origem duvidosa, que mais servem para confundir que para esclarecer o eleitor.
No entanto, na visão de Okrent, está bem claro que o Times não está sendo sistematicamente parcial com relação a nenhum dos dois candidatos. Se numa ocasião certa matéria privilegia Kerry, em outra o beneficiado pode ser Bush. Acontece que muitos leitores não percebem isto porque atentam apenas para as notícias que prejudicam o seu candidato. Foi o caso da leitora Sherrie Sutton, eleitora de Bush, que escreveu para o ombudsman reclamando que o diário estaria utilizando o termo ‘ataque’ apenas quando republicanos criticam democratas. Okrent pediu a seu assistente que pesquisasse se isso era verdade. A conclusão foi que, no último ano, a expressão havia sido utilizada 12 vezes para os republicanos e 22 vezes para os democratas. ‘As estatísticas não mentem e vocês as têm. Interessante que, face aos fatos, ainda assim eu me sentia insatisfeita com a cobertura balanceada do New York Times’, respondeu Sherrie, ao ser confrontada com os números.
Okrent observa que, ao apontar que os leitores por vezes se equivocam, não quer desestimular sua participação. No entanto, destaca que, no calor da disputa política, há gente ultrapassando os limites do aceitável. É o caso de Steve Schwenk, um leitor de San Francisco que apóia Kerry, que escreveu para o repórter político Adam Nagourney dizendo que espera que o filho do correspondente ‘tenha sua cabeça arrancada numa guerra republicana’ porque o jornalista escreveu algo que, para ele, pareceu favorável a Bush. Profissionais mulheres também têm recebido muitos insultos sexuais e a esquerda, por enquanto, tem sido a campeã da falta de educação. O editor público afirma que os blogues políticos que incentivam esse tipo de ação deveriam recomendar a seus leitores que façam suas agressivas críticas publicamente, o que muitos deles provavelmente não terão coragem de fazer.