Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Regina Lima

 

De janeiro a junho desse ano, a Ouvidoria recebeu 20 manifestações de leitores que reclamaram, em diferentes momentos e sobre diversas temáticas, da linha editorial da Agência Brasil (ABr). O caso mais recente foi do leitor José Marcelo Torres Batista que fez, no dia 28 de junho, algumas considerações sobre a linha editorial da página da ABr. “Sou jornalista, cidadão e leitor. Tenho a página da Agência Brasil como uma das favoritas na internet e a acesso de segunda a sexta. Ao ler as manchetes diárias do site, nós, leitores, acabamos lendo praticamente as mesmas matérias e talvez as mesmas manchetes da imprensa comercial, privada. Se for para fazer o que a imprensa comercial (privada) faz, é melhor não ter a Agência Brasil, que deveria ter, de fato, um viés de comunicação pública. (…) Sua condição de existência é fornecer a informação pública, o que a mídia comercial não fornece (por má vontade ou por interesse em ocultar). Sou defensor da existência da EBC, da TV Brasil, da Agência Brasil e da Voz do Brasil, mas é preciso fazer outro tipo de comunicação.”

A Diretoria de Jornalismo respondeu agradecendo a participação do leitor e enfatizando a importância de sua colaboração, ao mesmo tempo em que esclarece: “O jornalismo da EBC é responsável pela Agência Brasil, pelo jornalismo da TV Brasil e pelo jornalismo nacional das oito emissoras que fazem parte da empresa. Temos por princípio manter o leitor, o telespectador e o ouvinte sempre bem informados do que acontece no Brasil e no mundo, além de oferecer a eles acesso a notícias que outros veículos não divulgam. As manchetes da Agência Brasil mostram o que está acontecendo de mais importante no dia, além de notícias que não são cobertas por outras agências. O mesmo ocorre nos radiojornais e telejornais produzidos por nós. Fazemos jornalismo, sempre com o foco na correção e complementaridade.

Desde que a EBC foi criada, em 2007, é isto que buscamos todos os dias: informar a população sobre temas que os demais veículos não cobrem. Vários temas sobre direitos humanos, que mostram a diversidade social, cultural e étnica do Brasil, assuntos esquecidos pela mídia, são retratados pela EBC. Um entre as centenas de exemplos que poderíamos mostrar é uma reportagem com as vítimas do erro da imprensa no caso Escola Base em São Paulo.

Além disso, tentamos dar uma cobertura diferenciada aos assuntos jornalísticos que são cobertos por todos. O jornalismo da EBC tem por princípio a imparcialidade, a pluralidade de ideias e fontes de informação. Ouvimos sempre todos os lados da notícia, sem preconceitos ou direcionamentos. Vale aqui ressaltar a cobertura feita pela EBC no Rio+20. Durante os dias de discussão foram produzidas mais de 400 reportagens e 200 fotos para a Agência Brasil. A TV Brasil também cobriu de forma diferenciada o evento. De 11 a 22 de junho, o telejornal local Repórter Rio, virou nacional, com o nome de Repórter Rio+20, e a edição noturna do Repórter Brasil foi apresentada de um estúdio especial no Riocentro. Durantes esses dias, demos bastante ênfase ao que acontecia na Cúpula dos Povos. Este ano também realizamos uma cobertura especial no Fórum Social Temático, que aconteceu em janeiro em Porto Alegre. Deve-se lembrar também da cobertura diferenciada que a Agência Brasil faz de temas como Consciência Negra e Educação, tendo vencido alguns prêmios de jornalismo nestas áreas.

A Agência Brasil tem hoje repórteres no Distrito Federal, Rio de Janeiro, em São Paulo e Curitiba. Por sermos uma empresa pública, com restrições orçamentárias, não é possível manter correspondentes em todos os pontos do país. Mas suprimos esta deficiência com apurações por telefone e outros meios e, quando o caso requer, enviamos repórteres e fotógrafos para outros locais, como aconteceu recentemente no Paraguai e na greve dos policiais do Ceará. A TV Brasil tem redações no Distrito Federal, Rio de Janeiro, em São Paulo e no Maranhão e tem parcerias com 13 emissoras públicas de todo o país, dentre elas a TV Universitária de Roraima, a TVE do Rio Grande do Sul, a TV Aldeia do Acre e a TV Educativa do Espírito Santo. Do mesmo modo que os repórteres da Agência, as equipes da TV Brasil também viajam pelo Brasil em busca de notícias, como no caso da cobertura da seca do semiárido, que rendeu uma série de reportagens veiculadas nos telejornais.”

Para finalizar, A Diretoria de Jornalismo da EBC chama a atenção: “O Brasil que ninguém mostra também é tema dos nossos programas especiais. O programa Caminhos da Reportagem este ano, por exemplo, produziu programas sobre a vida dos que dependem dos lixões e sobre as populações quilombolas. Também são produzidos programas que debatem políticas públicas (Brasilianas.org) e que fazem uma (auto) crítica sobre a cobertura da imprensa e a programação de TV (Observatório da Imprensa e Ver TV).”

Em complemento à resposta da Diretoria de Jornalismo, a Ouvidoria gostaria de citar também um instrumento que, a nosso ver, pode responder a esta e a outras manifestações que nos chegaram: o recém-criado Manual de Jornalismo da EBC, que entrou em vigor no dia 2 de junho, de acordo com a resolução publicada pelo Conselho Curador. Dentro da EBC, o Conselho é o setor responsável pela deliberação e aplicação da linha editorial de produção e programação proposta pela Diretoria Executiva da empresa.

O novo manual, além de procurar reforçar os princípios básicos do jornalismo praticado pelos veículos que compõem a empresa, que tem o compromisso de se colocar a serviço do direito dos cidadãos, ressalta ainda a importância da edição como ponto de convergência dos esforços de produção. Dentre tantas alternativas de enfoque que existem em cada matéria, o jornalista da EBC deve rejeitar o automatismo das edições convencionais e fazer escolhas de acordo com os interesses do cidadão. Sem desprezar ou conflitar interesses legítimos de segmentos específicos, o editor adota o interesse do cidadão como o principal na hierarquia de uma matéria.

Para que isso aconteça, o manual orienta o jornalista da EBC a se colocar no lugar do cidadão em cada matéria, cada entrevista, cada programa que faz. A perguntar-se: “Como nosso ouvinte, telespectador e internauta estão recebendo nossa informação? Está sendo útil ou significativo para sua vida? Estamos fazendo as pontes corretas ente a notícia e a vida das pessoas?” Essas são algumas perguntas que ajudam a descobrir se o jornalismo da EBC tem, de fato, foco no cidadão. Ao se constituir em alternativa para o cidadão, dedica atenção aos fatos habitualmente ausentes na mídia.

Do ponto de vista teórico, o novo Manual de Jornalismo não deixa dúvidas quanto aos conceitos que norteiam os fundamentos, princípios e valores que devem reger o jornalismo público. Resta agora o exercício prático de sua aplicação, por meio do qual se poderá responder se os veículos da EBC têm condições de fornecer espaços e meios para o debate público acerca de temas de relevância local, regional, nacional e internacional, assegurada a expressão de ideias, opiniões e pontos de vista divergentes, como prevê o próprio manual. Ou mesmo de constituir-se em alternativa para o cidadão, na medida em que deve dedicar atenção aos fatos habitualmente ausentes na mídia, com enfoques diferenciados e/ou complementares, os quais têm sido um dos principais questionamentos feitos pelos leitores.

Para isso, é muito importante que os jornalistas, comunicadores e todos aqueles que atuam no processo da informação que a empresa oferta ao público tenham o compromisso não somente de conhecer, mas, sobretudo, de aplicar no trabalho cotidiano da produção de notícia os princípios descritos no manual. Ao mesmo tempo, chama-se a atenção para a importância dos espaços disponibilizados pela empresa para as manifestações dos cidadãos, como a Ouvidoria, que foi, por exemplo, um setor fundamental no processo de decisão da empresa em discutir e elaborar o Manual de Jornalismo. Decisão provocada justamente a partir da manifestação de um leitor da Agência Brasil, feita à Ouvidoria.

Até a próxima semana.