O ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, abordou em sua coluna de domingo [19/10/08] um artigo sobre o conteúdo e o estilo dos discursos da candidata republicana à vice-presidência americana, Sarah Palin. A matéria, que começava com a frase ‘A governadora Sarah Palin ama os EUA. Ela realmente ama’, gerou uma enxurrada de críticas de leitores. Para Hoyt, já nesta primeira frase, o texto soou sarcástico. No entanto, nem todos os leitores viram desta maneira e muitos acharam que o repórter Patrick Healy focou no fato de Sarah ser uma candidata que ‘gera um enorme furor nos eventos’ e que o diário (liberal) estava sendo tendencioso a favor da governadora do Alasca.
Healy afirma que não teve a intenção nem de elogiar Sarah, nem de menosprezá-la. Depois de passar dois dias com ela, ouvindo seus discursos e declarações e entrevistando estrategistas republicanos, ele diz que tentou escrever sobre o tom e o conteúdo da campanha – que tem como foco o patriotismo e não os planos de governo.
Direita
A acusação de parcialidade republicana é novidade para o NYTimes. Ainda que o jornalão – por meio do ombudsman – receba muitas mensagens críticas a sua cobertura política, a maior parte das reclamações vem da direita. ‘É tão óbvio ver quem o NYTimes está apoiando para a presidência’, escreveu a leitora Cheryl Page, na última semana. ‘Como é triste um jornal que não divulga os fatos, mas sim publica suas opiniões’.
Hoyt até concorda que a maior parte dos colunistas do diário parece favorável ao democrata Barack Obama. Mas, com exceção das páginas editoriais, o restante do jornal funciona de maneira diferente. ‘Nossa responsabilidade, como jornalistas do NYTimes, é deixar de lado nossas opiniões pessoais e ter uma aproximação com a notícia de modo aberto e cético, e apresentar os fatos aos leitores para que eles decidam eles próprios o que pensar’, diz o editor-executivo Bill Keller.
Mídia hostil
Richard Stevenson, editor encarregado da cobertura política, afirma que repórteres e editores sabem que estão sob constante vigilância dos leitores e críticos. É importante ressaltar, no entanto, que ninguém é completamente objetivo, lembra o ombudsman. Ao conversar com um grupo de leitores, Hoyt perguntou se achavam que o NYTimes era um jornal tendencioso – mais da metade respondeu que sim. Para um dos homens no grupo, que se disse republicano, o diário sempre publica escândalos envolvendo os republicanos e não dá importância àqueles envolvendo os democratas.
Acadêmicos afirmam que pessoas tão ligadas emocionalmente a determinado tema sofrem da síndrome da ‘mídia hostil’, pois sempre vêem a atuação da imprensa como hostil àquilo que acreditam. Na opinião de Andrew Cline, professor de jornalismo da Universidade do Estado do Missouri, é impossível para um repórter, em um único artigo, ‘cobrir uma situação de maneira que todos os envolvidos se percebam do modo como se vêem’.
Na cobertura política, as acusações feitas por leitores são sempre parecidas: um repórter ou uma publicação que expressariam certa tendência ideológica. Cline alega, no entanto, que jornalistas seguem uma série de tendências profissionais que não têm nada a ver com política: eles gostam, por exemplo, de conflitos e dão preferência às novidades.