‘Anuncia-se uma remodelação do Público, alegadamente em consequência da análise dos resultados do jornal por parte da administração da empresa.
Ou seja, está em causa a estrutura editorial do Público.
Ou seja, está em causa um ‘contrato’ de confiança estabelecido entre um projecto e uma prática editoriais e aqueles que o justificaram, justificam e justificarão, os que compram e lêem o Público.
O Provedor dos Leitores é, por definição – pelo menos, também – um intermediário entre o Jornal e o seu público.
Sem pôr em causa a legitimidade da intervenção da administração da empresa proprietária do Público em termos de ponderação dos referidos resultados e de resposta estratégica a eventuais resultados menos positivos, pergunto se não seria interessante que o Provedor abrisse um debate entre os leitores, com a participação dos responsáveis editoriais, e até eventualmente da própria direcção empresarial, sobre a estrutura, o desempenho, o futuro do Público?
Naturalmente, no quadro da revolução e da crise que a imprensa mundialmente experimenta’, sugere o ‘leitor de sempre’ Artur Portela, de Lisboa.
‘Esperemos, muito sinceramente, que as alterações sejam só para aumentar vendas e eventualmente publicidade, mas mantendo sempre a qualidade, a que nos habituou. Porque se o Público, é um jornal feito para dar lucro, mais que merecido e devido à SONAE, e está totalmente fora de questão que assim não deva ser, também seria pena, poder perder toda a qualidade que tem, e tal espaço que ganhou ao longo destes anos. Eventualmente se assim for, talvez até aumente as tiragens diárias, talvez venda mais, mas vai deixar de ser lido por muitos dos actuais leitores que o têm como referência. (…)
O Público, merece ser sempre o Público, pela referência qualitativa, informativa e até formativa que tem tido, e é isso que se espera, ou melhor é nesse campo que se presume que venha a aposta de vender mais, de vender qualidade, de não perder referências, que é algo que está a acontecer em demasiadas áreas, e é muito mau, porque o país, tem que se virar em todas as áreas para a qualidade tem que saber fazer muito bem, e não olhar só para a quantidade, somos demasiado pequenos para irmos em frente se não o fizermos muito bem, e com muita qualidade.
Esperemos que o Público seja sempre o que ainda hoje é, e se não for possível revelar tudo, começar a dar-nos algumas ‘dicas’ do que vai ser amanhã (…)’, propõe Augusto Küttner de Magalhães, do Porto.
‘Encaminho-lhe nesta mensagem electrónica uma outra que enviei ao director do jornal no dia 17 de Setembro. Nessa data solicitei a José Manuel Fernandes que publicasse nas cartas do leitor o texto que anexo.
Desta feita, não venho solicitar-lhe que interceda junto do director para a sua publicação nem venho protestar contra a não publicação. Venho apenas reflectir sobre a situação que se vive nesse jornal, com o anúncio de uma reformulação editorial e gráfica profundas e de despedimento de profissionais.
Para debater este tema, anexo a minha mensagem ao director pelo seguinte: – Apesar de o meu texto ser anterior ao mais recente anúncio de reestruturação, faz críticas a processos semelhantes ao que se vive actualmente no Público. E a minha interpretação é a de que não foi publicado por isso mesmo. Alicerço esta minha convicção no facto de o Público ter vindo a ocultar dos seus leitores aquilo que tem em preparação. Assim, envio-lhe este texto porque lamento a forma como o Público tem silenciado aquilo que se passa dentro das suas portas. Pode mesmo dizer-se que os leitores do Público são os menos e pior informados acerca das transformações que o seu jornal irá sofrer. Diz José Manuel Fernandes, em declarações a outras publicações, que as mudanças pretendem ir de encontro aos desejos dos leitores do jornal. Mas que desejos são esses? Como podem os leitores do jornal expressar as suas opiniões? Não seria mais correcto noticiar o que se passa, quais os caminhos que se querem trilhar e abrir as páginas aos contributos, opiniões, sugestões e críticas dos leitores? Venho, assim, apelar ao provedor para que interceda junto da direcção do jornal de modo a que os leitores possam ser parte activa na remodelação em curso’ escreve José Carlos Gomes, ‘licenciado em Comunicação Social, jornalista desempregado e actual assistente numa loja de telemóveis’.
Eis a carta enviada ao director: ‘(…) Onde os jornais podem ganhar é no aprofundamento. Para isso tem de haver investimento. Em qualidade e em quantidade. É preciso abrir mais vagas nos jornais, de modo a que os mais novos possam escrever as notícias e os jornalistas seniores fiquem libertos dessa tarefa para a investigação e para a contextualização. Ao contrário do que tem sido a norma, é preciso mais e melhor texto. É certo que o ritmo do dia-a-dia não permite que todas as pessoas leiam o jornal de fio a pavio. Mas não é isso que se pretende. Todos os dias há assuntos com peso social e com atractividade para vários públicos, assim sejam bem trabalhados. Um leitor pode ser seduzido e fidelizado por um jornal porque sabe que ocorreu determinado acontecimento e que o seu jornal irá contextualizá-lo e fornecer-lhes dados e opiniões que televisões, rádios e internet não lhe deram. Mas para isto, repito, é preciso recursos humanos capazes. Talvez não fosse má ideia acabar com as cunhas e começar a recrutar os melhores. Não sei se haverá área tão fechada em Portugal como o jornalismo. Desconfio que não existe outra actividade profissional onde a competência e a formação contem tão pouco e na qual os conhecimentos e o ‘amiguismo’ sejam tão determinantes. Basta fazermos um exercício: quantos dos melhores alunos dos cursos superiores de comunicação conseguem um simples estágio num jornal? Compare-se com o número de familiares e amigos de jornalistas no activo que conseguem colocação e percebe-se que o mal vem da base. Em suma, a imprensa só terá futuro investindo na qualidade e nas suas especificidades. Reduzir a mancha de texto, aumentar a cor e as imagens não é o caminho. Assim como não é caminho, pelo contrário, é quase suicídio, banalizar o produto jornal, fazendo dele veículo para a venda e/ou a oferta de pulseiras, talheres, louças e outras coisas que tal. Um jornal é informação, conhecimento, cultura, mas também entretenimento. Doses equilibradas de livros, discos e DVD podem ser uma maneira de complementar o jornal. Mas convém sempre que se venda o conteúdo da publicação e não que se tente impingir os jornais juntamente com outros produtos. A forma como se têm feito campanhas em Portugal é mais ou menos como dizer: ‘isto, como jornal, não vale nada, mas se queres um talher com banho de ouro ou um DVD da moda, tens de levar com o nosso pasquim’. Assim não vamos lá’, conclui o leitor de Ermesinde.
Pedi um esclarecimento ao director.
‘1. O Público não tem ocultado dos seus leitores as mudanças que tem em preparação. Anunciou-as e definiu as linhas mestras do que deverá ser o novo jornal, designadamente num editorial.
2. O Público avalia regularmente o grau de satisfação dos seus leitores através de sondagens e de estudos qualitativos em que especialistas conversam com leitores do jornal de forma mais aprofundada sobre as suas impressões, as suas preferências, as suas necessidades e as suas críticas. Essas metodologias são mais rigorosas do que consultas ad-hoc como as que poderíamos realizar, por exemplo, tendo por base o nosso site na internet. Para além disso reunimos e analisamos a muita correspondência que recebemos e que constitui sempre um barómetro do estado de espírito dos leitores relativamente ao seu jornal.
3. Os leitores do Público sempre puderam expressar as suas opiniões e sempre abrimos a nossa página de cartas a elogios e a críticas.
Podem escrever ao director, tal como podem escrever ao Provedor, o que de resto fazem com estimulante frequência e qualidade. Não estamos nem estaremos fechados a sugestões, e muitas das que recebemos nos últimos meses de muitos leitores foram consideradas na reflexão interna.
4. O processo de reinvenção do Público foi passando por diferentes fases de maturação.
Há muitas ideias que ainda estão a ser testadas internamente ou através da consulta, realizada de forma profissional e representativa, aos nossos leitores. Vamos revelar gradualmente algumas das opções que tomarmos, mas haverá sempre surpresas que guardaremos para a altura do lançamento do jornal renovado. Não podemos especular, como têm feito alguns dos nossos concorrentes, antes dar informação segura e rigorosa, pelo que se outros desejam queimar etapas mesmo publicando imprecisões ou mesmo inverdades, a nossa relação com os leitores exige que, quando dermos notícias mais concretas sobre as novidades elas reflictam exactamente aquilo em que estamos a pensar e que podemos partilhar com todos.
5. Em síntese: as nossas páginas, o nosso site e o blogue do Provedor sempre estiveram abertos às sugestões ou às críticas dos nossos leitores; já estamos a consultar os leitores, mas utilizando métodos fiáveis, como as sondagens, e não métodos que podem ser divertidos mas não são científicos, como o tipo de consultas que realizamos habitualmente no nosso site; queremos ouvir a opinião dos leitores mas também desejamos surpreendê-los.
Aplaudimos a vontade manifestada por muitos leitores de expressarem as suas opiniões e continuaremos a acolhê-las, estimulando, como fazemos noutros domínios, a troca de pontos de vista divergentes. Pelo lado do Público, vamos dar mais notícias em breve. Aos leitores estão abertos todos os canais de sempre. E o Provedor também se disponibilizou, para no blogue ou na sua coluna semanal, mediar ou animar essa troca de ideias’, respondeu José Manuel Fernandes.
O provedor só pode estar disponível para mediar ou animar o diálogo entre os leitores e a Direcção sobre a remodelação anunciada. É a identidade (ou a integridade) de um projecto editorial e um contrato moral que estão, hoje, em causa. O provedor não tem competência para se pronunciar sobre as mudanças (?), mas não pode ignorar as dúvidas, as apreensões e as perguntas dos leitores.’