A crise econômica forçou diversas organizações de mídia a tomar decisões difíceis sobre seu conteúdo. Algumas seções do Washington Post não existem mais ou tiveram seu tamanho reduzido. Mais mudanças estão a caminho. Ao longo do próximo ano, o diário poderá vivenciar sua maior transformação desde que ganhou destaque, nos anos 70.
A questão é delicada, como expõe o ombudsman Andrew Alexander em sua coluna dominical [8/3/09]. Executivos do Post sabem que até as menores alterações podem prejudicar a relação com leitores fiéis – muitos deles, mais velhos. Ao mesmo tempo, têm a preocupação de conquistar leitores mais jovens. Neste ponto, surge a questão: a seção infantil KidsPost deveria ser eliminada?
Criada há nove anos, a seção foi copiada por muitos jornais americanos. De segunda a quinta-feira, nas versões impressa e online, suas matérias, gráficos e fotos têm como público crianças de sete a 12 anos. À primeira vista, é plausível pensar em acabar com o KidsPost. As crianças de hoje, afinal, gostam mais da internet do que de ler jornais. O espaço ocupado pela seção é um dos mais nobres do Post, em que anúncios de meia página podem valer US$ 40 mil e os de página inteira, US$ 100 mil.
Sem garantia
O editor-executivo Marcus Brauchli revelou ao ombudsman que a seção está ‘segura’ no momento, mas não há garantias para o futuro. É certo que pais valorizam muito o KidsPost, assim como as crianças. ‘Não há dúvida de que parte do valor da seção é permitir que o Post seja visto como um parceiro para os pais’, opina Tracy Grant, que edita o KidsPost. ‘É algo que ajuda os jovens a se conectarem com jornais’, observa Brauchli.
Em uma pesquisa do diário com mais de 400 pais de filhos de 5 a 13 anos, realizada há dois anos, 57% dos entrevistados afirmaram que o KidsPost era a seção favorita de seus filhos. A mesma pesquisa ainda mostrou que pais que lêem o Post tendem a ter filhos que lêem o jornal. ‘Há evidências de que, se as pessoas lêem jornais na adolescência, elas se tornam leitores de jornais por toda a vida’, afirma Michael P. Smith, diretor-executivo do Media Management Center da Universidade de Northwestern.
Investimento
Para isso, o produto tem que conquistar dos muito pequenos aos maiores – tarefa hercúlea para pouca equipe e espaço limitado; hoje, o KidsPost ocupa metade de uma página na maior parte dos dias. Em 2007, a seção contava com cinco funcionários em tempo integral; hoje, conta apenas com Tracy – que também edita outra seção – e profissionais que dividem seu tempo com outras tarefas. Na internet, a seção não anda muito bem, com número modesto de visitantes. Para ter mais acessos, seria necessário conteúdo novo e não apenas a replicação do impresso. Jovens vão à rede para conteúdo interativo, jogos, música e vídeos – o que requer uma equipe maior.
Na opinião de Alexander, a solução para conquistar o público infanto-juvenil seria desenvolver uma estratégia para a produção de conteúdo específico para este público. Não há um plano que pense desde o jardim de infância até a faculdade. Além disso, seria importante investir no meio online com conteúdo específico. O problema é que isto requer dinheiro em um momento em que ele é escasso. Mas, se for levado em consideração que seria uma preparação para os futuros leitores, é um investimento que vale a pena ser feito, defende o ombudsman.