Em artigo de 16/5/04, o ombudsman do Washington Post, Michael Getler, relembra que, em sua coluna anterior, havia mencionado a insatisfação de leitores com a publicação de fotos dos abusos cometidos por soldados americanos contra prisioneiros americanos. Na ocasião, ele defendeu a divulgação de algumas das imagens porque ‘a realidade da guerra, em todos os seu aspectos, precisa ser reportada e fotografada’. Muitos leitores enxergaram a publicação como uma evidência da oposição do jornal ao presidente George W. Bush.
Em seguida, veio à tona o vídeo da execução do americano Nicholas Berg por rebeldes iraquianos. ‘Se você acredita que publicar fotos sensacionais de abusos é salutar porque mostra a ‘realidade’ da guerra, então espero que seu jornal traga fotos dos ‘jihadistas’ assassinos segurando a cabeça cortada de Nick Berg. Como você pode fazer uma distinção?’, desafiou um leitor.
Getler responde que, antes de qualquer coisa, não tem poder algum sobre o que sai no Post. O editor-executivo Leonard Downie Jr., no entanto, tem seus argumentos: ‘Na minha visão, seriam bastante ofensivo a muitos de nossos leitores e insensível com a família de Berg publicar fotos da decapitação em si. Simplesmente não se compara às fotografias selecionadas de abusos que publicamos. De fato, nós não evitamos usar diversas fotos, incluindo uma em que um dos policiais militares posava em um necrotério ao lado de um corpo de um soldado iraquiano morto’.
Getler complementa que nenhum grande veículo dos EUA mostrou a decapitação completa e que o texto da matéria do Post explicava exatamente o que havia ocorrido. O ombudsman acredita que o que importa para os americanos é o que os americanos fazem. ‘O valor de milhares de soldados dos EUA foi bem reportado e fotografado. As imagens dos custos, em fatalidades e acidentes que mudam vidas, têm sido muito menos registradas. E um choque como o escândalo do abuso de prisioneiros não era imaginável até agora’. Com relação ao caso de Berg, Getler admite que seria razoável o jornal ter colocado o vídeo na íntegra em seu sítio de internet, publicando uma remissão na edição impressa. Isso daria aos interessados a opção de ver tudo que aconteceu.