A ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, escreveu em sua coluna de domingo [8/10/06] sobre dois fatos criticados pelos leitores ao longo da semana: o lançamento do livro Estado de negação, do jornalista Bob Woodward, sobre supostos erros e mentiras da Casa Branca na guerra do Iraque, e o escândalo sexual envolvendo o ex-deputado republicano Mark Foley, acusado de enviar mensagens eletrônicas de conteúdo sexual para estagiários adolescentes da Câmara dos Deputados. Os leitores não questionam exatamente a publicação de livros de autoria de jornalistas ou a cobertura de escândalos envolvendo figuras políticas, e sim o momento em que são feitas estas divulgações: a poucas semanas das eleições legislativas nos EUA.
Sobre o livro de Woodward, a leitora Laura Pratt foi uma das que levantaram a hipótese de ser “imoral” que jornalistas escrevam sobre acusações e denúncias ao governo às vésperas das eleições, em vez de se focarem em fatos concretos. Já sobre o escândalo sexual, leitores questionaram se a equipe do Post tinha o objetivo, com o tom de sua cobertura, de prejudicar a atuação republicana na Câmara dos Deputados.
Em relação ao caso Foley, Deborah alega que os repórteres agiriam da mesma maneira se o caso envolvesse um democrata. “Não importam as opiniões políticas dos repórteres: uma grande matéria tem de ser divulgada”, afirma a ombudsman, lembrando que o jornal também cobriu o escândalo Clinton-Lewinsky. Segundo ela, os repórteres políticos e os que cobrem a Câmara têm feito um bom trabalho ao cobrir o caso Foley.
A ombudsman diz que o livro de Woodward e mais outros três de autoria de jornalistas do Post tiveram críticas publicadas no jornal, mas foram escritos quando os repórteres estavam em períodos de licença não-remunerada. Diante das críticas de que Woodward priorizaria acusações bombásticas em detrimento de fatos, o editor-executivo do Post, Leonard Downie Jr., observa que o jornalista entrevista suas fontes a fundo. Apenas com o ex-chefe de gabinete da Casa Branca, Andrew Card, Woodward teria reunido 207 páginas de transcrição de cinco entrevistas realizadas em sete horas, conta Downie Jr.
Deborah avalia que Woodward tem uma forte ligação com o jornal – originalmente por ter investigado na década de 70, ao lado do também jornalista Carl Bernstein, as acusações que levaram à renúncia do então presidente Richard Nixon, no escândalo Watergate. “Woodward é o jornalista mais famoso do Post. Ele diz que ama o Post e não quer sair do diário. E ele afirma que é o repórter que recebe o menor salário da redação”, conta Deborah.