O estudante de jornalismo da Universidade de Nova York Jason Williams escreveu uma tese de mestrado sobre o uso de fontes anônimas no New York Times. Em dezembro do ano passado, concluiu que o diário trazia, em média, 36 personagens não-identificados por dia. Cerca de 40% dos artigos assinados da seção A do jornal tinham esse tipo de fonte. Em fevereiro, foi instituída uma nova política na redação para reduzir esse tipo de referência.
O ombudsman do Times, Daniel Okrent, pediu a ajuda de Williams para verificar se algo havia mudado desde então e a conclusão foi que não. Em sua coluna de 13/6/04, o editor público explica que os jornalistas muitas vezes não têm de usar fontes anônimas. É comum, em certas esferas, como a da diplomacia ou da segurança nacional, que os entrevistados não queiram ser identificados.
No entanto, também ocorrem exageros no uso de citações sem atribuição de autoria. Recentemente, por exemplo, o Times as usou para revelar que Barbra Streisand gosta que pétalas de rosa sejam espalhadas pelos banheiros dos hotéis por onde passa. Que impressão o leitor tem disso? Qual a credibilidade de uma informação como essa?
Há casos em que funcionários do governo reúnem dezenas de jornalistas para dar informações, mas pedem que seus nomes não sejam citados. Assim, os repórteres, seus editores e o governo sabem quem afirmou o que saiu no jornal. O único que não fica sabendo é o leitor, do qual tanto a imprensa como o governo se dizem representantes.
Durante o mandato de Bill Clinton, o editor do Times em Washington, Andrew Rosenthal, determinou que todas as citações deste tipo de coletiva ‘secreta’ teriam de ser identificadas. Caso realmente não fosse possível, seria necessário que o autor das afirmações explicasse o motivo pelo qual não queria ver seu nome no jornal. Se não obtivesse uma resposta satisfatória, o repórter deveria se retirar da coletiva. A tática não deu certo. Segundo Rosenthal, seus jornalistas do Times eram ridicularizados pelos colegas, que podiam publicar o que quisessem, sem atribuição.
O fato é que as fontes se acostumaram a, ficando incógnitas, não se responsabilizarem pelo que dizem. Okrent acredita que o jornal deveria explicar essa regra do jogo aos leitores. E propõe um novo trato entre jornalistas e fontes, que pelo menos aumentaria a correção das notícias publicadas: caso o informante mentisse, sua identidade seria revelada. Assim, ele sentiria ao menos um pouco da responsabilidade pelo que afirma.
Finalmente, o editor público questiona a finalidade do uso de citações anônimas em geral. Afinal, para que elas servem? ‘Suas palavras ganham credibilidade só porque são cercadas por aspas?’, pergunta. Os repórteres poderiam reproduzir todas as informações que consideram confiáveis sem citar que ‘um funcionário do governo’ ou ‘um congressista’ foi quem as deu, já que isso pouco esclarece, e assumirem eles mesmos o que escrevem.