Quando assumi o cargo de ombudsman, em abril, eu me propus a buscar o ‘leitor real’, aquele que não costuma escrever para jornal porque, embora tenha críticas, não encontra tempo de encaminhá-las.
Sem desmerecer os que ajudam o trabalho do ombudsman diariamente, considero importante dar espaço ao leitor silencioso. Com a ajuda de Anna Carolina Cardoso e Nádia Guerlenda Cabral, entrevistamos 142 pessoas, sorteadas entre os assinantes. Elas comentavam as notícias do dia e faziam sugestões, repassadas à Redação na crítica interna -relatório diário em que o ombudsman avalia a edição.
Não há valor estatístico nesse levantamento caseiro, mas algumas demandas foram recorrentes. As mais relevantes estão a seguir, organizadas em uma lista de pedidos para a Folha em 2011.
Valorização dos colunistas
O grande time de colaboradores é o que mais chama a atenção dos leitores. Todo o mundo tem os seus favoritos e os ‘desafetos’, mas a diversidade é sempre elogiada. ‘O aumento de colunistas foi bom, deu uma variada, saiu um pouco do tradicional. Gosto do Fabio Barbosa, Nizan Guanaes, Gustavo Cerbasi.
Não gostei tanto que o Palocci tenha entrado nem que o Sarney continue a escrever’. (Vinicius Ceschin, 28, analista sênior de marketing)
Profundidade
Quem opta por se informar pelo jornal não perdoa textos rasos, que não contextualizam ou não questionam duramente as autoridades. ‘Precisa pegar o cerne de cada questão, aprofundar e dizer por que as coisas dão errado. Tem que dar algo diferente do on-line. Perguntar mais porquês e relatar menos. A dificuldade do jornal hoje está entre equilibrar uma cobertura não muito densa e não muito rasa.’ (Antonio Matias Ferreira Junior, 43, administrador de empresas)
Isenção política
Muitos leitores reivindicam que o jornal volte a um equilíbrio político que julgam ter sido afetado durante a cobertura eleitoral. ‘Gostaria que a Folha fosse menos tendenciosa nas próximas eleições. Várias manchetes falando do Lula, da Dilma, e nada do Serra. Quando faltavam 20 dias para o pleito, melhorou, mas ficou marcada essa postura.’ (Adriana de Paula Rosa, 49, professora)
Mais análises
Há uma aprovação geral aos textos de especialistas, desde que ajudem a entender o factual sem emitir opinião. ‘O aumento das análises que acompanham as matérias é um ponto forte do jornal.’ (Ricardo de Toledo Soares, 45, bancário)
Tem que ser didático
Nada frustra mais o leitor do que atravessar um longo texto e concluir que não entendeu direito o noticiado. ‘Há situações em que a reportagem não explica a questão para o leigo, principalmente temas processuais, o que é um mandado de segurança, uma antecipação de tutela… Esses termos do juridiquês poderiam ser mais bem explicados.’ (Otávio Pinto e Silva, 46, professor de direito da USP)
Muita saúde
Homens e mulheres se interessam por doenças, bem-estar, dietas e exercícios. ‘Sempre recorto as matérias de Saúde e levo para os médicos. Minha família usa, porque os assuntos vão do deficit de aprendizado à morte.’ (Vitória Bergamasco, 66, professora aposentada)
Mais notas curtas
Há uma predileção por colunas que informam em poucas linhas, sem enrolação. FolhaCorrida, painel político e Mônica Bergamo estão entre os preferidos. ‘Ajuda muito quando não dá tempo de ler o jornal todo.’ (Fernando De Angelis Neto, 75, agrimensor)
Menos propaganda
Esse ponto é quase unanimidade entre os leitores. ‘A publicidade não pode ser mais importante que a notícia. As sobrecapas são horríveis! O primeiro caderno vem com páginas demais de anúncios.’ (Darlene Dias Silva, 49, assistente social)
Mais opinião de leitor
O painel da página 3 é muito citado. ‘Gosto de comparar minha opinião com a dos outros, para ver se algum comentário bate. Vibro quando isso acontece.’ (Anna Paula Marinelli, 41, empresária)