Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Suzana Singer

‘Que ninguém se engane com as versões ‘Dilminha e Serrinha Paz e Amor’. Com os dois presidenciáveis empatados, o clima é de guerra eleitoral, mesmo faltando mais de cem dias para o primeiro turno.

Nesse terreno movediço que é uma cobertura eleitoral, não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. Desde sábado retrasado, a Folha vem batendo forte no partido do presidente. No Dia dos Namorados, o jornal manchetou que dossiê feito pelo PT tem dados sigilosos de um dirigente tucano.

Para quem não seguiu esse noticiário, um resumo rápido: a revista ‘Veja’ revelou que pessoas da campanha petista reuniram-se com arapongas em Brasília. Um deles, um delegado aposentado da Polícia Federal, conta que pediram que levantasse ‘tudo’ sobre José Serra, mas ele teria recusado.

Esse grupo de ‘inteligência’ já teria dois dossiês sobre pessoas ligadas ao candidato tucano, um sobre a sua filha. O furo da Folha foi um terceiro conjunto de documentos sobre Eduardo Jorge, vice-presidente-executivo do PSDB. A acusação é mais grave, porque haveria dados fiscais sigilosos do tucano -apenas fazer dossiês não é crime.

A reportagem era toda em ‘off’ (informação de fonte anônima). Só ontem, uma semana depois da manchete, a Folha publicou fac-símiles que comprovariam que os dados vazaram da Receita Federal.

Nos dois dias seguintes ao furo do dossiê, a manchete foi dedicada às convenções que oficializaram as candidaturas. No domingo: ‘Governo banca esquadrão de militantes, diz Serra’, com uma foto do ex-governador sorridente, braços para cima, vestindo uma camiseta da seleção brasileira com o número 45.

Na segunda-feira: ‘À sombra de Lula, Dilma promete ‘alma de mulher’’ e uma imagem do presidente discursando e levantando o braço da ex-ministra séria.

Ficou desequilibrado: Serra ataca em ritmo de Copa; Dilma é a candidata sem luz própria. Levando em conta o espírito crítico do noticiário da Folha, a capa sobre Dilma está correta, o erro foi o tom ameno no trato do tucano.

Na semana que passou, o jornal ainda ressuscitou o petista dos dólares na cueca e acusou um dirigente do PT de desfrutar de benesses diplomáticas no exterior. A campanha tucana passou incólume.

PACIÊNCIA

Urge balancear o noticiário político que vinha, até há pouco, equilibrado. Isso não implica, é claro, dar as costas para a notícia, mas cavoucar assuntos dos dois lados.

E saber esperar, uma arte rara em jornalismo. Nesse vácuo de uma semana em que a Folha não agregou nada de novo ao ‘caso EJ’, espalhou-se todo tipo de boato, o mais inocente de que o jornal tinha requentado notícia velha.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, ‘exigiu que a verdade fosse restabelecida’ em carta ao painel do Leitor-a Folha não respondeu, como costuma fazer em casos como esse. Dilma foi na mesma linha. ‘Não vemos traço de nenhum documento. Ele não aparece, não se diz qual é’, declarou.

Essa desconfiança poderia ter sido evitada se a reportagem tivesse ‘‘cozinhado’ por um tempo maior até que se pudesse dar páginas do dossiê, publicadas ontem. Paciência e equilíbrio editorial, que precisa ser revisto a cada round, são essenciais em tempos de guerra.

A todos que questionam a neutralidade da Folha, respondo que o jornal é apartidário e se pauta pela crítica geral. No Twitter, após dizer isso a um internauta, recebi de volta: ‘Você ASSEGURA que não há apoio implícito?’.

Outra leitora, por email, questionou a veracidade do dossiê, já que é tudo em ‘off’. Perguntou: ‘‘Por que tenho que simplesmente acreditar na Folha?’ Tive que responder apenas ‘‘porque é o seu jornal’.

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Começou na quarta-feira o perfil do ombudsman da Folha no Twitter (@folha_ombudsman). O objetivo é abrir mais um canal de comunicação com o leitor.’