‘É BEM RARO, mas acontece de o mundo todo se unir em torno da mesma notícia. Na segunda-feira passada, foi assim: as atenções se concentraram no fim trágico de Osama bin Laden. Da Jamaica ao Qatar, os jornais destinaram suas manchetes para a morte do terrorista mais procurado do planeta.
Embora informações tivessem circulado uma hora antes, a grande imprensa esperou o pronunciamento do presidente Obama, feito às 23h36 nos EUA (0h36 daqui), para soltar a notícia. Era tarde e os impressos puderam levar, no dia seguinte, a novidade para muita gente que tinha ido para a cama cedo.
Como se comemorassem o sucesso da missão americana e também o fato de ainda serem relevantes, os jornais fizeram capas do tipo pôster, com títulos em letras grandes, numa volta ao tempo em que se gritava ‘Extra! Extra!’ para vender edições especiais.
Passada a euforia, surgiram as dúvidas. A morte de Bin Laden é a incrível notícia de uma fonte só, a oficial. Sabemos apenas o que nos conta o governo Obama, que vai mudando o relato inicial conforme pingam contradições. O mentor do 11 de Setembro não atirou contra os americanos, não usou uma mulher como escudo, e parece nem ter havido de fato tiroteio (o único inimigo armado foi logo morto).
Também faltam provas materiais. O corpo foi jogado ao mar, após uma inverossímil cerimônia muçulmana em um porta-aviões, as fotos do terrorista estão censuradas e o exame de DNA não foi mostrado.
Numa época em que se vê praticamente tudo na internet, causa estranheza essa notícia sem imagem -graças aos paquistaneses, apareceram fotos das outras vítimas do ataque americano.
Entre os jornais importantes dos EUA, só ‘The New York Times’ manteve um pé atrás, creditando a notícia sobre Bin Laden a Obama. Os demais embarcaram na credulidade (‘Forças Armadas dos EUA matam Bin Laden’) ou na euforia (‘Pegamos o bastardo’).
A Folha manteve a distância necessária na Primeira Página: ‘Bin Laden está morto, diz Obama’ -só deu tempo de incluir a notícia em metade dos exemplares, mesmo assim apressadamente.
Na terça-feira, a edição se organizou, mas não havia questionamentos sobre a legalidade da ação, embora já se soubesse que os EUA invadiram um país e mataram uma pessoa sem julgamento.
Apenas na quinta-feira, o tema da violação dos direitos internacionais e as dúvidas sobre a versão oficial apareceram com ênfase.
Talvez nunca se saiba o que ocorreu de fato na casa de três andares em Abbottabad, mas, se a imprensa fizer seu trabalho direito, não teremos que simplesmente engolir a versão oficial que o governo do democrata Obama quer nos impingir.’