‘Não se passa um dia sem que leitores se manifestem -apaixonadamente- sobre os colunistas. Além de discutir ideias, querem saber como eles são escolhidos e se há controle sobre o que escrevem.
A Folha valoriza seu grande plantel de colaboradores: são 83 pessoas com espaço fixo para opinar -não estão nesse número os jornalistas que mantêm seções informativas, como o ‘Painel’ político, ‘Toda Mídia’, ‘Mercado Aberto’ etc.
É um balaio no qual se misturam Xico Sá e Alexandre Schwarstman, Barbara Gancia e Janio de Freitas. Há dez dias, Eliane Cantanhêde criticou a influência de José Sarney na nomeação de ministros, na mesma página em que ele escreve às sextas. Seu texto terminava perguntando: ‘(…) por que raios Lula dá tanto poder a Sarney? Afinal, o que é que a baiana e o Sarney têm?’.
O advogado Dalton Antônio Branco Jr., 36, achou ‘as considerações da colunista nonsense’: ‘E por que Sarney continua colunista? Seria a sua influência no jornal?’.
Para esclarecer essa e outras dúvidas, o editor-executivo Sérgio Dávila deu a entrevista a seguir.
Ombudsman – Por que a Folha tem tantos colunistas?
Sérgio Dávila – Numa época em que a informação ‘commodity’ -que todo o mundo tem igual- ainda responde por boa parte do que sai nos jornais, a Folha procura se diferenciar pela variedade e qualidade de seu colunismo.
Quais são os pré-requisitos para ser colunista?
Não há regras fixas, diferentes aspectos são levados em conta quando alguém é convidado. Pode ser a originalidade de pensamento, como no caso da Danuza Leão, a qualidade das interpretações, atributo de Elio Gaspari, ou o humor incansável de José Simão.
Você considera o time de colunistas equilibrado política e ideologicamente?
Um dos pilares editoriais do jornal é o pluralismo, o que se aplica também ao time de colunistas.
Os colunistas têm liberdade total sobre o que escrevem?
Sim, os limites são os mesmos do jornalismo responsável.
Durante a eleição presidencial, alguns colunistas como Ferreira Gullar e Danuza Leão fizeram críticas duras e constantes a Lula. O jornal vê problema nisso?
Foi distribuído um comunicado na reta final da eleição. Dizia que o princípio do apartidarismo deve ser observado também nas colunas e blogs. Oferecia a página de ‘Tendências/Debates’ aos autores que fizessem proselitismo eleitoral ou declaração de voto.
Recentemente, Luiz Felipe Pondé escreveu: ‘Detesto aeroportos e classes sociais recém-chegadas a aeroportos, com sua alegria de praça de alimentação’. O jornal considera isso demonstração de preconceito?
Imagino que o leitor de colunas como a do Pondé espera ser provocado e tirado de sua zona de conforto intelectual. Vozes dissonantes do pensamento politicamente correto também são bem-vindas.
Julio Vasconcellos, de Mercado, escreveu sobre o seu próprio negócio, o site Peixe Urbano, de compras coletivas. Nizan Guanaes muitas vezes se refere a eventos nos quais está envolvido. Há conflito ético?
O jornal espera de seus colunistas que evitem o conflito de interesses. O objetivo deve ser informar o leitor da opinião do colunista, não de seus negócios.
Por que o jornal mantém José Sarney, mesmo depois das denúncias envolvendo o senador?
José Sarney foi o primeiro presidente civil brasileiro a exercer a função no pós-ditadura militar, além de ser o atual presidente do Senado. Pode-se discordar do que ele escreve e até de sua atuação política, mas não se pode ignorá-lo.
É inteligente investir em opinião na atual enxurrada diária de notícias, mas o time de colunistas talvez esteja grande demais. Fica difícil lembrar de quem aparece só uma vez por mês em um jornal diário.
°0°Num mundo com tantas fontes de informação, o leitor está cada vez mais exigente. Opiniões fortes são bem-vindas, desde que parem em pé, não sejam apenas pelo prazer de chocar. O proselitismo político precisa ser combatido, porque cansa ler as mesmas pessoas criticando o mesmo governo por anos a fio. A autopropaganda também deve ser eliminada. E só deveria ser colunista de um jornal como a Folha quem tem um currículo sem máculas.’