Um fenômeno nas páginas do O POVO tem me chamado a atenção desde que assumi a função em janeiro último: as notícias repetidas na mesma edição. O fato se intensificou em março e já apareceu por duas vezes em abril. Geralmente, a ocorrência se dá em matérias de fora produzidas por agências, que são empresas especializadas em distribuir textos para jornais, revistas, rádios, televisões ou Internet. No entanto, em dias recentes, foi possível detectar relatos, de um mesmo fato local, elaborados por repórteres da casa e publicados no mesmo dia em páginas e editorias diferentes. O leitor que pagou pelo exemplar e verificou a repetição dos dados deve ter se sentido lesado.
No dia 2 passado, enquanto a Editoria Radar, na página 14, apresentava uma matéria com o título: “Ceará deve atrair 57 mil turistas”, a Economia noticiava, na 18: “Ceará deve receber 57 mil turistas na Semana Santa”. Os conteúdos das duas notas eram os mesmos, elaborados a partir da mesma fonte, a Secretaria do Turismo do Ceará. Já no dia 4, de novo foram publicadas duas matérias com o mesmo teor: “Documentarista recebe prêmio CSN”, titulou o editor da Radar. “Documentário cearense é premiado”, avisou o Vida & Arte.
Este ano já foram sete matérias com informações repetidas e publicadas na mesma edição ou em dias muito próximos. Não é caso isolado de uma editoria. O fenômeno atingiu a Redação como um todo: Fortaleza, Política, Economia e Vida & Arte, alcançando ainda os cadernos Ciência & Saúde e DOM. Em fevereiro, a informação de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia mantido a cassação do ex-juiz Nicolau dos Santos Neves estava em Brasil e Política na mesma edição. As duas editorias fazem parte de um mesmo núcleo gestor.
Sem resposta
O desperdício do precioso espaço do jornal com notícia replicada pode ser resultado da falta de comunicação entre os editores, desatenção na hora de escolher o texto ou carga de trabalho muito extensa, chegando ao estresse. Seja um ou outro, o tempo agora é de a Redação parar para pensar sobre o assunto e tentar encontrar mecanismos de controle para evitar que o problema se repita. Às vezes, bastam ações simples para resolver o problema: uma segunda revisão na página, antes de enviar para ser impressa; ou mesmo verificar com o colega editor quais matérias foram utilizadas.
Enviei email para o grupo gestor da Redação, na tarde de quinta-feira, para que me informasse o que se estava fazendo para evitar novos casos do tipo. Até o fechamento da coluna, neste sábado pela manhã, não recebi resposta.
Manchete imprecisa
O uso preciso das palavras deve ser uma meta perseguida no texto jornalístico, para que o fato seja narrado com fidelidade. Mas nem sempre é assim. No dia 4 passado, a manchete do O POVO anunciava: “Há dois anos não são liberadas antenas para telefonia”. A chamada remetia para uma matéria da página 18 de Economia, onde se destacava que “a Prefeitura de Fortaleza não libera licença ambiental para a instalação de novas estações pcbvbara operadoras de telefonia há dois anos”.
Três dias depois, numa nota que dava continuidade ao assunto, na mesma editoria, no meio do texto, estava escrito: “Segundo a Seuma, foram emitidas, em 2014, apenas seis licenças prévias para instalação de novas antenas em Fortaleza. O que não significa que foram efetivadas”.
As informações das duas matérias entram em conflito. As licenças estavam ou não liberadas? Questionei no comentário interno se a manchete do dia 4 estava errada ou se foi imprecisão de uso de palavras na hora de redigir o texto. Se existe uma diferença entre licença prévia e licença propriamente dita não foi informada ao leitor. Nenhum reparo foi apresentado até a sexta-feira, dia 10. Informei aos editores da área que iria abordar o assunto e solicitei um posicionamento na última quinta-feira. A Redação não se pronunciou.
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Tânia Alves é ombudsman do jornal O Povo