Verificar as informações antes de publicá-las é essencial para o jornalismo. Quando o procedimento de conferir não ocorre como deveria, podem ocorrer ruídos. Foi o que houve na quinta-feira passada, 10/9, quando recebi email elaborado por professores do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) e que integram o comando local da greve da instituição, contestando dado apresentado na matéria “Estudantes cobrem pichações em reitoria”, publicada na quarta-feira (9/9). O texto dava conta que, para evitar prejuízo nas obras de arte, os estudantes participantes das intervenções ganharam orientação de professores dos cursos de História e de Arquitetura. A correspondência negava a existência da indicação e questionava o procedimento na execução da matéria, especialmente por não tentar confirmar a informação com os departamentos das áreas citadas. Criticava ainda a falta de precisão e objetividade no texto, pois não nomeava quem seriam os responsáveis pelas dicas.
Este não foi o único momento durante a semana em que a falta de uma verificação mais consistente causou ruído. Na quinta-feira passada, a coluna Vertical publicou a nota “Quem pode, pode” esclarecendo uma publicação do dia 4 último, em que dizia que a direção do IJF só teria liberado wi-fi para os médicos, deixando os demais servidores sem o serviço. O hospital informava que a rede era custeada pelos médicos, e não pelo IJF. Eliomar de Lima, colunista da Vertical, explicou, após ser citado pela ouvidoria, que a fonte da primeira informação é uma pessoa próxima a ele. Ressalta ainda que “servidores tinham acesso ao wi-fi, mas só se soube depois que era pago por um grupo de médicos”.
Por sua vez, o editor-executivo do Núcleo Cotidiano, Érico Firmo, respondendo ao primeiro caso, ressalta que as informações partiram dos estudantes que não quiseram identificar os professores. “Poderíamos e deveríamos ter procurado os departamentos e o comando de greve. Falhamos nesse aspecto. Mas há de se considerar que nem um nem outro respondem pela postura de cada um dos professores. Não se apontou como tendo sido algo institucional”.
Confirmar se foram professores dos departamentos de História e Arquitetura a dar as orientações era um procedimento necessário. Do mesmo modo, se houvesse uma checagem com mais exatidão teria se evitado a nota de esclarecimento na Vertical. A coisa mais importante que um jornal do porte do O POVO pode cultivar é a qualidade de suas matérias. Cruzar informação é um procedimento essencial. Repórteres, editores e colunistas sempre devem recorrer ao cruzamento de informações quando surgirem dúvidas na apuração. Mesmo quando a fonte é segura e confiável, é preciso estar atento para apresentar o contraditório. Posto que, no jornalismo, a busca pela verdade é incessante.
CONFUSÃO EM PÁGINA
Informes publicitários publicados, nas páginas 4 e 5, na quinta-feira passada (10/9), causaram incômodo em um leitor que entrou em contato com a ouvidoria. Ele, que estava voltando à leitura do jornal impresso após um período sem fazê-lo, destacou a semelhança existente entre os anúncios e o projeto gráfico do jornal. De fato, naquele dia, as publicidades, que estavam em formato de notícia, provocavam desalinho ao utilizar tipografia que lembrava a usada pelo O POVO. O fato foi mais nítido na página 5 (ver fac-símile), pois estava espalhado no meio das matérias. Embora contasse com a indicação “informe publicitário”, poderia ser entendido como editorial.
Publicidade faz parte do negócio de quem trabalha com notícia, mas deve haver uma separação clara e uma indicação o mais visível possível entre as notícias e os informes publicitários. O Núcleo de Imagem tem solução para a questão. Na sexta-feira passada, um dos anúncios foi republicado na página 4. Só que, desta vez, com um fio laranja. Foi uma solução simples. E fez toda a diferença.
A SEMANA E O JORNALISMO
Na semana que passou, o vídeo de uma cinegrafista húngara chutando um imigrante que havia acabado de atravessar a fronteira e dando uma rasteira em outro se transformou em viral (conteúdo divulgado por muitas pessoas na internet). As imagens, que causaram indignação pelo mundo, foram um dos momentos mais deprimentes de que já tive notícia, cometido por um jornalista no exercício da profissão. Para narrar os acontecimentos, o jornalista não precisa se envolver, mas ele necessita ter empatia para entender o outro. Naquele momento, a cinegrafista deixou o jornalismo de lado e virou ativista. Não conseguiu manter a isenção. Depois da repercussão, ela pediu desculpas.