Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Tânia Alves

O mundo virtual está contaminado de falsas informações que são jogadas na rede como se fossem reais. Algumas, deliberadamente, com a intenção de fazer estragos em reputações. Outras são frutos de jogadas de especialistas para chamar atenção de determinado assunto. Os portais de notícias, muitas vezes, reproduzem estes conteúdos preocupados somente com a conquista da audiência. No dia 9 passado, o Portal O POVO Online postou uma inusitada notícia com o seguinte título: “Mulher traída expõe ex em outdoor em Juazeiro do Norte” (ver fotografia).

A matéria, reproduzida por vários portais de notícias pelo Brasil, viralizou (recebeu muitos compartilhamentos) na rede. Por aqui, ela ficou entre as mais lidas do Portal nos dias 9, quando alcançou o topo das mais lidas, e 10, entre as três primeiras. A postagem também repercutiu no Facebook do jornal com a maior quantidade de compartilhamentos do dia 9 último.

A história da mulher traída não era verdadeira. Tratava-se de uma ação de marketing, conforme revelou o blogDiário do Cariri, que entrevistou o idealizador da peça. Têm sido muito comuns casos em que fatos que foram noticiados como verdadeiros até ontem se transformam em ação de marketing no dia seguinte, e fica por isso mesmo. No caso específico do conteúdo publicado no O POVO Online, a fonte era identificada como “a empresa responsável pelo outdoor”. Não informava o nome do estabelecimento e muito menos a pessoa que deu a informação.

MAIS UM CASO
No dia 1º de setembro passado, o Portal O POVO Online havia publicado outro conteúdo que também se tratava de uma peça de marketing criada para ser um viral. O título era: “Após passar férias na Austrália, jovem grava apelo para reencontrar o pai de seu filho”. No dia seguinte, veio o desmentido: “Jovem que procurava pai de bebê é marketing de turismo”. A escolha deste tipo de postagem passa muito mais pelo senso comum do viral do que por uma estratégia jornalística. Para quem trabalha com notícia, publicar para depois desmentir é um tiro no pé.

Citada para comentar a questão, a editora-executiva do Portal O POVO Online, Juliana Matos Brito, considera importantes as pautas feitas a partir de assuntos que viralizam nas redes sociais. Para ela, os dois casos citados são parecidos por serem uma estratégia de marketing nas redes sociais, mas são diferentes na forma como foram feitos. No caso da falsa gravidez, explica que as fontes foram o jornal inglês Daily Mail e o vídeo que a jovem postou. “A falha neste caso deu-se por não desconfiar que seria uma jogada de marketing”, diz. Em relação ao outdoor de Juazeiro, a editora considera que houve uma falha de apuração. “E sobre isso, já conversamos com a equipe”. Juliana destaca que a verificação precisa dos fatos faz parte da conduta de apuração do Portal O POVO Online: “A falha foi a exceção”.
FUTURO INCERTO
A veracidade dos fatos é o que melhor caracteriza a notícia, seja viral ou não. Postar conteúdo mesmo que seja na seção de notícias Curiosidade não isenta o repórter de fazer apuração. Afinal de contas, O POVO Online é um portal de notícias. A repetição de casos assim pode resultar em quebra da credibilidade, e a ruptura na confiança pode ser uma ação irreversível. Hoje, postagens de conteúdo como os citados acima geram dividendos, transformados em compartilhamentos e cliques, mas o ganho é incerto no futuro.

FALTOU A ATRIZ CEARENSE NA CAPA
O membro do Conselho de Leitores do O POVO Vandemberg Coelho entrou em contato com a ouvidoria na terça-feira passada (15/9), para criticar a falta de destaque dada na capa do jornal para a morte da atriz Antonieta Noronha. O conselheiro destacou que, no dia anterior (14/9), a morte da atriz Betty Lago havia ganhado uma chamada na capa com direito a foto. “Com todo o respeito à Betty Lago, a Antonieta Noronha merecia mais pelo talento e pela história dela”.

A queixa do conselheiro faz sentido. A chamada que informava a morte da dama do teatro cearense saiu discreta, no rodapé da página. O POVO, que tão bem sabe reverenciar a vida para contar da morte, naquele dia veio destoando na capa, embora o assunto tenha ganhado manchete na página interna. O diretor-adjunto da Redação, Erick Guimarães, reconhece que foi um erro de avaliação não destacar a morte da atriz na capa. Informou que o erro foi tratado internamente pelos editores para evitar que se repita futuramente. “Ela (Antonieta Noronha) merecia muito mais”.