Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Tânia Alves

O Globo publicou em primeira página, no domingo passado (8/11), uma nota em que reconhecia um erro de informação na manchete publicada no dia 10 de outubro deste ano com o título: “Baiano diz que pagou contas do filho de Lula”. Na nota “O Globo errou”, o jornal admitiu que o filho do ex-presidente, Fábio Luís Lula da Silva, não havia sido citado pelo lobista Fernando Baiano na delação que fez na operação Lava Jato. Na ocasião da primeira versão, como era de se esperar, uma notícia com teor tão bombástico se espalhou e a imprensa repercutiu o assunto à exaustão. No dia 12 de outubro, dois dias após o jornal carioca ter dado a manchete ao assunto, O POVO publicou conteúdo semelhante na editoria de Política. O material teve direito a chamada de capa.

“Delator diz que pagou despesas pessoais do filho de Lula”, informava a chamada que remetia para o texto. Na página interna, constava: “Denúncia coloca Lula no foco das investigações”. A fonte da matéria publicada por aqui era somente a manchete do O Globo, conforme o resumo do texto, que fica logo após o título. Só que a informação, mesmo sem ter sido apurada pelo O POVO, é assumida como certeza.

O primeiro parágrafo afirmava, categoricamente, que o delator havia mencionado o filho do ex-presidente. “O operador do PMDB Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, disse em seu acordo de delação premiada que um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado por pagamentos do esquema de corrupção na Petrobras. Os valores teriam servido para pagar despesas pessoais.” No conteúdo havia ainda uma ampla repercussão com deputados de oposição, classificando a denúncia como graves. E duas linhas com o advogado do filho do ex-presidente negando que seu cliente tenha recebido dinheiro do delator. Se antes a responsabilidade pela informação era somente do O Globo, ao publicar o texto, e de forma tão assertiva, O POVO também assumiu o ônus da nota.

DEMOROU, MAS SAIU

Na segunda-feira passada (9/11), ao tomar conhecimento da errata publicada na capa do periódico carioca, chamei atenção da Redação. Ao repercutir a notícia, O POVO também errou. E, se errou, precisava fazer um reparo conforme estabelece o Guia de Redação e Estilo do jornal quando diz: “O POVO mantém uma seção ‘Erramos’ onde são publicados os erros cometidos na mesma edição ou em edições anteriores, fazendo-se as devidas correções”.

A confissão de que o conteúdo da notícia estava errado também teve reflexos em outro veículo. A Folha de S.Paulo reconheceu o erro em uma nota. Por aqui, até a última sexta-feira, a matéria permanecia com acesso livre no O POVO Online, sem que tivesse reparo visível. O assunto agregava muitos comentários que levavam fé na informação. Citado formalmente para se pronunciar sobre o assunto, o editor executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, informou que a errata seria publicada na edição de sábado. Só sete dias após o jornal do Rio admitir o erro, a notícia teve reparo no O POVO.

Em casos como este, não se deve colocar a sujeira para debaixo do tapete nem demorar muito para a correção. O mais certo é rapidamente reconhecer que errou, pois uma notícia do tipo pode destruir reputações. Não cabe o raciocínio de que o erro é da agência que enviou a matéria ou de quem o publicou inicialmente. Erro no jornal é erro do jornal. Os leitores do O POVO precisavam tomar conhecimento que aquela matéria colocada em manchete, com chamada de capa e repercussão com a oposição, estava errada.

OBRIGAÇÃO DO CONTRAPONTO

Na terça-feira passada (10/11), recebi um e-mail de uma leitora fazendo um elogio ao O POVO por ter mostrado o contraditório na matéria “Feminismo e tradicionalismo” (ver fac-símile) que resultou na manchete do O POVO.dom. “Gostaria de expressar minha satisfação pela matéria ter buscado mostrar o outro lado em relação ao tópico feminismo e ter dado um espaço satisfatório para tanto. É raro instrumentos de mídia fazerem isso com temas que estão na moda e que, por isso, podem fazer presumir uma certa unanimidade. Enriqueceu bastante a matéria e demonstrou o pluralismo de ideias que nosso país precisa ter, independentemente da opinião do próprio jornal”, disse.

Fazer um contraponto em matérias jornalísticas é um procedimento indispensável e deve ser de praxe. Especialmente quando se trata de assunto que pode admitir várias vertentes. O elogio da leitora para um procedimento básico e de rotina é esclarecedor num momento em que futricas são publicadas como se fossem notícias e o outro lado, muitas vezes, serve mais para constar nos rodapés dos textos. Ouvir o contraditório nada mais é do que obrigação para se obter um jornalismo de qualidade.