No período de seis dias, três leitores entraram em contato com a ouvidoria do O POVO para apontar erros encontrados na capa do jornal. A primeira ocorreu no dia 7 de abril. “Vocês colocaram crase antes do verbo em um título na capa”, disse. Ela estava certa. Verbos não pedem artigo nem preposição. Já no dia 11 passado, outro leitor reparou que havia discordância entre a chamada da capa e o que informava a matéria da página 5. Enquanto a primeira destacava “Hospitais estaduais perdem autonomia desde 2005, afirmam gestores”, a matéria editada em Cotidiano informava que a autonomia começou a ser perdida no ano passado.
Naquele dia, após enviar a observação do assinante no comentário interno, recebi da repórter que assinou a matéria a informação de que o ano correto era 2015 e não 2005, como estava na capa. Por último, na terça-feira passada, usuário observou que uma chamada de capa para artigos dos candidatos a reitor da Uece indicava a página 1, quando o conteúdo estava na 8. “Os erros da Capa estão muito recorrentes”, reclamou.
O leitor tem razão. É quase impossível produzir um jornal sem erros, mas publicar três informações incorretas na capa num período tão curto é incompreensível e carece de atenção. A capa é uma das principais peças de um jornal. É ali para onde o leitor tem o primeiro olhar. É a partir dela que ele pode buscar mais informações dentro do jornal ou rejeitar as páginas internas. Ao encontrar um conteúdo mal redigido, com imperfeições, quer seja de gramática, quer seja de informação, é natural que o usuário se incline a não ficar satisfeito, já que escrever notícias requer correção.
Citei a Redação para saber que tipo de providência estaria sendo tomada para evitar os erros frequentes na capa. Em resposta, André Bloc, um dos responsáveis pela edição da Primeira Página, destacou que a Redação rediscutiu o processo de fechamento. “A ideia é ter o máximo de mecanismos para evitar que equívocos voltem a ocorrer. A partir do fechamento de terça-feira (edição publicada na quarta), eu venho adotando quatro formas para evitar erros, sejam de gramaticais, sintáticos, de informação ou indexação”. Entre elas, citou: uma lista de verificação com todo o material que deve ser impresso, de forma que a revisão encabece tudo; revisão por outro editor; e aumentando para quatro etapas o número de revisões. “Dessa forma, sempre que possível e atendendo à pressão do horário de fechamento das páginas, espero que a situação se contorne. Por mais que erros sejam frequentes no jornalismo, eles são, na maioria dos casos, evitáveis. E fico com a consciência de que a Primeira Página é ‘a cara’ do jornal e merece um cuidado especial”.
Quando a Redação para e discute mecanismo para redução de erros, é sempre uma boa iniciativa. Também é louvável o fato de O POVO ser o único jornal do Ceará que mantém uma seção, “Erramos”, específica para correção de erros. É uma prova do jornalismo transparente que se pretende fazer. As normas para isso estão, inclusive, no O Guia de Redação e Estilo, que estabelece: “Devem ser privilegiados os erros de informação, créditos, fotos e erros graves de português cometidos em títulos e resumos de matérias”. As três anomalias de informação apontadas pelos leitores foram em títulos da capa. Embora tenha enviado no comentário interno as observações dos leitores, até a sexta-feira passada, 15, a Redação ainda não havia decidido fazer o reparo deles. É como se a exatidão da notícia fosse desnecessária.
USO DE ESTRANGEIRISMO
Leitor enviou email à ouvidoria para falar sobre o uso de estrangeirismo em matéria publicada no caderno “Especial Impeachment”, na quarta-feira passada (13/4). Ele se referia à frase: “blitzkrieg peemedebista avançou sobre o consórcio de novos aliados do governo”. “Blitzkrieg, fiquei sem saber o que seria. Depois de pesquisar no Google, vi que se trata de um termo em alemão que significa ‘guerra-relâmpago’. Eu pude, na mesma hora, pesquisar o significado do termo, mas e o leitor que não tinha como fazer isso na hora e não sabe alemão?”
O leitor fez uma observação acertada. No comentário interno, já havia alertado que não sabia o significado da palavra. Nas últimas semanas, em duas ocasiões, apontei o uso excessivo de estrangeirismo. A primeira, na coluna “Circuito A”, no Vida & Arte, de 8 de abril (ver fac-símile). Dos oito títulos que apresentavam as notas, somente dois deles não faziam uso de palavras estrangeiras ou que se incorporaram ao uso corrente. Foi um exagero. Na quinta-feira passada (7/8), apontei de novo o uso descomedido de estrangeirismo. Dos seis títulos que apresentavam o conteúdo da matéria de capa do Buchicho Casa, quatro tinham palavras estrangeiras.
Em tempos de conexões por mídias sociais, as palavras se entrelaçam entre os idiomas e rapidamente são integradas ao vocabulário. O que incomoda é o uso demasiado. O Guia, no capítulo sobre “Questões gramaticais, redação e estilo”, oficializa o uso de estrangeirismo. Recomenda que expressões estrangeiras só devem ser admitidas quando já se incorporaram ao uso corrente. Também estabelece que, quando existir uma palavra equivalente em português, essa deve ser substituída. E por fim: “Palavras e expressões estrangeiras, quando pouco conhecidas ou de difícil tradução, devem ser seguidas de explicação, entre parênteses”. Foi a falta de observação desta última regra que incomodou o leitor.