O presidente em exercício, Michel Temer, foi buscar o filho na escola, em Brasília, na terça-feira passada (26/7). A agenda havia sido divulgada pela equipe de comunicação do Planalto. O assunto, que é corriqueiro, virou pauta em praticamente todos os sites e portais de notícias pelo Brasil. No mesmo dia, O POVO Online postou matéria a partir de dados colhidos pela Agência Estado. O impresso informou como uma notícia Breves com direito a foto na página de Brasil no dia seguinte. Nos comentários do conteúdo postado no Facebook do jornal, os usuários questionaram o papel da imprensa em fazer a cobertura de tal evento.
“Não sei o que é pior… Se é ele chamar a imprensa ou se é a mesma comparecer”, postou um usuário. Outro perguntou: “Isso lá é pauta jornalística?”. Após classificar a notícia como brincadeira, outro leitor questionou: “Isso é notícia? Pra quem mesmo?”. Mais um deixou sua discordância com a cobertura: “Engraçado que a imprensa ainda vai!” Também teve recado: “Até que eu gosto do jornal O POVO, mas depois dessa notícia fiquei decepcionado”.
Todos os questionamentos citados acima tiveram como centro aquilo que se publica e como se publica. Os usuários têm sua razão de ser. No comentário interno para a Redação, que faço diariamente, já havia citado que pai buscar o filho na escola não é notícia. Não mais hoje em dia. Mesmo que ele seja o presidente da República. A quem interessa aquela pauta? Somente ao presidente em exercício, que aceitou o jogo de usar o filho em ação de marketing e a assessoria que planejou melhorar a imagem de Temer a partir da cena de cidadão comum. Nada mais sem sentido.
O episódio, no entanto, desnuda a dinâmica do jornalismo, que se move entre publicar conteúdo que gere engajamento nos portais e redes sociais ou divulgar notícia de relevante interesse público.
Naquele dia, li aquela informação em muitos portais de notícias e blogs diferentes. Em todos eles, assim como no O POVO, quase nada a acrescentar além da foto e do título. Eram praticamente todas iguais. O informe se resumia em buscar o filho na escola, assessoria divulgando o fato e outros pais de crianças reclamando da mudança de rotina. Esta observação mostra que os curadores da notícia ainda se movem por modismo rápido e pasteurizado em época da cobertura compartilhada e interconectada.
É lógico que hoje o conteúdo noticioso tem uma dinâmica própria, diferente de 20 anos atrás, que deve ser observada. Mas não precisa ficar refém dela sob pena de enveredar pela falta de relevância. Por outro lado, grande parte dos usuários mostrou amadurecimento e enxergou muito além, questionando a importância daquele fato para merecer tamanha divulgação. Neste caso, eles partiram na frente.
TABELA E “FRANGO”
Dois momentos da edição do segundo clichê do O POVO no domingo passado (24/7) chamaram atenção de leitores, que se comunicaram com a ouvidoria para reclamar. Ambos estão relacionados a notícias de esportes. No primeiro episódio, um assinante questionou o motivo da falta da tabela de classificação na matéria “Em partida de sete gols, Ceará supera o Vila Nova” (ver fac-símile). Ele explicou posteriormente que sentiu falta, pois está arquivando as tabelas para fazer análise do Alvinegro na Série B. Naquele dia o Vovô ficou em segundo lugar da tabela.
No segundo caso, uma leitora questionou o título “Depois do ‘frango’, Brasil vira o jogo”, em que apontava a vitória da seleção brasileira de futebol feminino contra a Austrália. Ela considerou pesado o uso da palavra frango e questionou se não seria preconceito, pois o jogo era da seleção feminina. Disse que usar falha seria mais adequado.
Sobre a tabela, o editor-chefe do Núcleo de Esportes, Fernando Graziani, explicou que o jornalista que editou o segundo clichê decidiu não incluir as tabelas, da Terceira Divisão, na qual se encontra o Fortaleza, e da Segunda, na qual joga o Ceará. “Tanto na Série B como na Série C, muitos jogos ocorreriam ainda e o editor considerou que as classificações fariam mais sentido, na edição desta segunda-feira (25/7)”.
De fato, as duas tabelas foram editadas na editoria de Esportes de segunda-feira passada. Porém, é rotina no O POVO publicar a classificação com os times cearenses ainda na edição de domingo no segundo clichê. O leitor criou hábito de encontrar ali a tabela e, naquele dia, não localizou. Reclamou com razão. Em casos assim, o ideal é esperar os resultados da rodada completa ou ainda publicar a classificação esclarecendo quais resultados dos jogos não foram incluídos.
Sobre o segundo caso, o repórter especial Demitri Túlio, que fez a edição do segundo clichê, assim explicou: “O uso da palavra ‘frango’ é do vocabulário do futebol para indicar uma falha exagerada de um goleiro. Seja homem, seja mulher. Não vejo, sinceramente, nenhum desrespeito ou intenção de desrespeitar alguém”.
Também não enxergo desrespeito, mas considero que a palavra anda meio em desuso no jornalismo esportivo, pois soa desagradável. Talvez daí o incômodo da leitora. Segundo levantamento feito pelo Banco de Dados do O POVO, em todo o ano de 2015 e até a sexta-feira passada nenhum título de matéria na editoria de Esportes usou a palavra. Ela apareceu poucas vezes em colunas e no corpo de matérias. Melhor usar falha.