Poucas coisas irritam (ou divertem) tanto os leitores do New York Times do que a seção de erros. Em sua coluna de 26/9, o ombudsman do jornal, Daniel Okrent, fala sobre elas: as excêntricas, mas necessárias, correções diárias. O que pode parecer um assunto secundário é, na verdade, uma questão polêmica e que precisa ser discutida. Enquanto para os editores as correções refletem a determinação do jornal em provar que leva a precisão das informações à sério, para os críticos elas são uma verdadeira cortina de fumaça pronta a camuflar violações que o jornal prefere ignorar.
Okrent discorda da segunda versão, mas acha que a política de correções do Times não é perfeita e precisa ser aprimorada. Existem diferentes tipos de erros cometidos pelos jornalistas em suas matérias, e a divisão feita entre eles deixa a desejar. O sistema em vigor hoje teve seu início há 32 anos, por iniciativa do jornalista A.M. Rosenthal, que na época chefiava o jornal. Onze anos depois de estabelecer um espaço para as correções no Times, Rosenthal criou também o Editors’ Note, nota para tratar de lapsos de clareza, equilíbrio ou perspectiva nas matérias. De acordo com o manual de estilo do Times, são ‘falhas mais sutis ou menos concretas do que erros factuais, mas graves da mesma maneira ou em maior proporção’.
‘Erros são enganos honestos’, diz o ombudsman, ‘enquanto os ‘lapsos’ tratados no Editors’ Note são normalmente mau jornalismo’. Até a quinta-feira passada, o Times havia publicado cerca de 2300 correções este ano, mas apenas 35 notas do editor. A discrepância dos números ressalta no mínimo um problema: não há um meio-termo na divisão das correções. Não existe uma categoria específica para cada tipo de erro; poucos são considerados falhas sutis que comprometem a clareza da matéria, enquanto a grande maioria é jogada num mesmo saco.
Inocentes, mas nem tanto
Okrent diz que toda correção é importante. A retratação de um nome soletrado de maneira errada pode parecer besteira, mas faz diferença se o nome em questão for o seu. Mesmo assim, não se pode comparar a correção de uma letra trocada em um nome com um número equivocado ou a mudança de sentido de uma frase inteira.
Faz diferença, diz o ombudsman, a correção, em uma edição da semana passada, do número de crianças hospitalizadas por asma em Nova York: são 6,5 por 1000 crianças, e não 6,5 por 100 mil, como havia sido publicado. Outro exemplo, mais grave ainda, é o de uma correção que indicava que um funcionário do governo iraniano não havia alertado que seu país possivelmente produziria ‘urânio enriquecido, que é usado em armas nucleares’, e sim que seu país poderia ‘retomar esforços para produzir urânio enriquecido para abastecer reatores nucleares’, que por sua vez geram energia elétrica.
O erro, neste caso, pode ter sido inocente, mas suas conseqüências para o sentido da matéria são absurdas. Falhas deste tipo, defende Okrent, merecem uma categoria própria. ‘Os leitores merecem que erros como a identificação distorcida do urânio e a contagem equivocada dos casos de asma recebam maior destaque do que o do espaço lotado da coluna de Correções’, diz ele.
Para o ombudsman, erros substanciais (mas inocentes) devem ganhar um espaço próprio. Ele propõe aos leitores que enviem sugestões de nomes para este novo formato que ele recomenda – e promete colar a sugestão vencedora na porta de Al Siegel, editor responsável pela administração das correções.