‘A editora do UOL Estilo, Carolina Vasone, escreveu sobre o post abaixo. Agradeço o e-mail. Comento no final.
´Julgo importante esclarecer alguns pontos sobre a crítica à reportagem do passo-a-passo de UOL Estilo.
O cabeleireiro é um entrevistado e fez o passo-a-passo para ilustrar a matéria. Está ali como um especialista no assunto, para esclarecer à reportagem do UOL os pontos mais importantes de uma pauta que foi considerada relevante pela redação. Não faria sentido, neste contexto, que um entrevistado fosse pago por sua entrevista.
Concordo que a escolha de uma funcionária do UOL para personagem da reportagem foi inadequada. Neste caso, porém, não a escolhemos por ela ser do UOL, tampouco por ela ser jornalista, mas sim por ela ser uma mulher da ´vida real` (não uma modelo) que tinha um cabelo adequado para a pauta. Ressalto ainda que a funcionária não foi beneficiada com a reportagem —foi apenas convidada a participar dela— e, como qualquer outra personagem, corria o risco de não gostar do corte, de o cabelo ficar ruim…
Por fim, UOL Estilo escolheu fazer a reportagem com um especialista do Studio W por ser tratar de um salão qualificado e conhecido do público. Adotamos como regra usar fontes qualificadas, para que o bom jornalismo seja feito. Quando a fonte não é conhecida (neste caso o Studio W era), credenciamos o entrevistado com referências que sejam reconhecíveis pelo leitor.
Obrigada,
Carolina Vasone
Editora do UOL Estilo´
Meu comentário
Mantenho a recomendação de que o UOL não crie relações que possam colocar sua credibilidade sob suspeita, aceitando trabalho de graça em troca de divulgação ou favores futuros, sob o manto da ´entrevista´. Cortar cabelos e ser remunerado por isso é a profissão do cabeleireiro, seu ganha-pão. Ao cortar cabelos para o UOL ele está trabalhando de graça e não dando uma entrevista. Pela lógica do UOL, daqui a pouco seria possível ´entrevistar` um cirurgião plástico para um passo-a-passo sobre lipoaspiração em uma modelo escolhida pelo portal. Reitero o que disse meses atrás em blog: não basta ser honesto, é preciso parecer honesto.
Relações perigosas
Home do UOL e de UOL Estilo divulgam hoje um ´passo-a-passo para um corte de cabelos ´coringa` para o verão´. Há um álbum de fotos e um texto. Nos dois, há citação do nome do cabeleireiro e do salão para o qual trabalha. Detalhes: a ´modelo` para o corte é uma jornalista do UOL. Nem UOL nem a jornalista pagaram pelo corte de cabelo. Nenhuma das informações consta do texto ou do álbum de fotos.
Perguntas: será que para evitar relações perigosas no futuro (do tipo, ´eu lhe fiz um favor, agora pode me fazer outro em troca?´), o UOL não deveria pagar nem que fosse um cachê ao profissional eleito para fazer o passo-a-passo? E deixar claro o critério de escolha deste ou daquele profissional, baseando-se, principalmente, na qualidade técnica? E ainda evitar que jornalistas da casa sirvam de modelos? Essas recomendações são prática comum em editoras de revistas femininas, justamente para evitar qualquer suspeição.
UOL com a palavra
O jornalista Rodrigo Flores, gerente geral de notícias do UOL, escreveu para comentar a crítica da ombudsman de ontem. Agradeço à iniciativa. Faço observações a seguir.
´Tereza,
– Antes de alçar o assunto à manchete, com texto da Reuters, a redação (sem aspas) do UOL já havia apurado o assunto com a Petrobras.
– Diferentemente do publicado pela ombudsman, o texto original da Reuters não citava a origem do furo.
– A empresa optou por divulgar nota usando a expressão ´muito importante´, mas a redação apurou que o uso de ´sigiloso` é correto. Embora não sejam exatamente iguais, os termos não se excluem, como sugere a ombudsman.
– O ótimo texto da Folha Online não estava apenas em um box dentro da reportagem principal. Era também submanchete do portal.
Obrigado,
Rodrigo´
Meus comentários:
1. pouco importa que a redação já tivesse apurado antes de alçar o texto à manchete. O texto que primeiro foi à manchete foi o da Reuters;
2. de fato, a ombudsman errou. O texto original da Reuters não citava, mas a agência passou a dar o crédito do furo nos textos subseqüentes, a que o UOL teve acesso;
3. a designação de ´dados sigilosos` foi cunhada pelo autor do furo, o Terra Magazine. O UOL não se deu nem ao trabalho de buscar uma expressão equivalente, como fizeram Folha e Estadão hoje, por exemplo (´PF investiga furto de dados estratégicos da Petrobras` e ´PF investiga roubo de segredos da Petrobrás´, respectivamente). A ombudsman não sugeriu que os adjetivos ´importantes` e ´sigilosos` sejam excludentes. Afirmou que havia uma incongruência entre texto e título do UOL, porque o texto fazia questão de dizer que a Petrobras não confirmava se tratarem de dados sigilosos, mas o título afirmava que sim. No mínimo, o texto estava mal escrito;
4. o UOL inova ao chamar um link relacionado à manchete, em corpo minúsculo, de submanchete. Submanchete deveria ser o segundo assunto em importância numa página. O ponto principal, neste caso, não citado por Rodrigo, é que não foi seguida a regra de oferecer ao leitor, como manchete, o melhor texto. No caso, era o da Folha Online, que avançava em relação ao produzido pelo UOL (apesar de esse texto tampouco dar o crédito do furo). Além disso a ombudsman não disse que o texto estava ´apenas` em um box. Basta ler o post abaixo;
5. por fim, Rodrigo foge do ponto central da crítica: a questão ética envolvida na decisão editorial de não dar crédito ao autor do furo, como determina o Manual da Redação da Folha, vigente para os jornalistas do portal.
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Quando a concorrência dá um furo (14/2/08)
Um dos principais concorrentes do UOL na área de notícias, o Terra, deu um furo de reportagem hoje. É do Terra Magazine a informação de que houve um furto de dois notebooks e um disco rígido da Petrobras com informações sigilosas sobre o megacampo de Tupi. Boa parte da reportagem foi conseguida em off, isto é, com a fonte da informação anônima.
O furo foi dado a partir de reportagem publicada às 9h19. O Terra alardeou, com razão, se tratar de material exclusivo. Horas depois, diante do inegável, a Petrobras confirmou o furto. Às 11h55 o UOL levou o caso à sua manchete a partir de texto da agência de notícias Reuters, com a posição oficial da empresa. O texto ´Petrobras confirma roubo de computadores com dados importantes` era correto em citar que a origem da informação fora o Terra Magazine. Como não tinha a informação conseguida em off pelo Terra que os dados eram sigilosos e relativos ao campo de Tupi, usou o adjetivo ´importantes` (segundo a Petrobras) e falou em dados sobre pesquisa realizada na costa brasileira. Como no concorrente, a manchete do UOL falava em dados ´sigilosos` (´Petrobras anuncia roubo de informações sigilosas´).
Às 13h06, novo texto para a manchete, com o crédito para a ´redação´. A base do texto era a reportagem da Reuters. A diferença é que o UOL tinha ouvido a estatal e não mais dava o crédito do furo ao Terra. Os trechos escolhidos pelo UOL não iam além do que já se dissera antes. Novamente o UOL bancou que havia dados ´sigilosos` nos computadores furtados, sem que o texto confirmasse isso. O texto, misto de apuração própria e de apuração da agência, afirmava: ´a estatal não confirmou comentários que circulam na mídia nesta quinta-feira de que os computadores continham informações sigilosas sobre as reservas de petróleo e gás na camada ultraprofunda chamada de pré-sal, onde está o megacampo de petróleo de Tupi, na bacia de Santos.` Fica um ruído aí: por que o texto afirma uma coisa e o enunciado, outra? Se o UOL também conseguiu a informação em off, como o concorrente Terra, deveria simplesmente bancá-la, sem introduzir ressalvas. Afinal, não ´circulam na mídia´. Circulam no próprio UOL. Por fim, o parceiro Folha Online também foi apurar o caso. Com informações adicionais e sem o ruído sigiloso x importante (apesar de tampouco dar o crédito ao Terra), não ganhou a manchete.
A redação informa que não vê necessidade em dar crédito ao ´dono do furo` porque a Petrobras confirmou a informação. Acontece que a Petrobras só tocou no assunto porque o Terra deu o furo. Além disso, o Manual da Redação da Folha, em uso pela do UOL, é explícito e diz que ´a Folha [ou o UOL] não deixa de publicar informação que outro jornal, revista, emissora de rádio ou TV [ou site na Internet] já tenha noticiado com exclusividade. A Folha [o UOL] cita nominalmente o veículo de comunicação que tenha dado um furo importante´. Em relação à incongruência entre enunciado e texto, a redação disse que iria analisar a observação da ombudsman. Sobre o fato de o texto da Folha Online não ter ido para a manchete, o UOL diz que introduziu as informações adicionais em um box em seu texto.
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Foto nada turística (12/2/08)
Do Guia de Destinos de UOL Viagem
1. A Armação dos Búzios ou Búzios, localizada na região dos Lagos, no litoral norte do Rio, está entre as dez cidades mais procuradas pelos viajantes no ranking da Embratur.
2. Búzios é uma península com cerca de oito quilômetros de extensão e não há como não escolher uma favorita entre as mais de 20 praias da cidade: pequenas, grandes, com pedras, urbanas, mais reservadas, de mar aberto, de águas tranqüilas.
3. O desenho das formações rochosas vistas ao redor delas chama a atenção. Águas cristalinas e as condições climáticas -muito sol e vento forte constante- tornam o lugar ideal para a prática de esportes como vela, surfe, windsurfe, kitesurfe, iatismo e vôo livre.
4. A comida é tão importante para a região, que a cidade ganhou um evento dedicado à sua gastronomia: o Degusta Búzios.
5. De dia ou à noite, o centro é um agito só. À noite, o movimento se concentra na Rua das Pedras, onde encontram-se bares e boates com música ao vivo ou pistas de dança.
Ou seja, os principais motivos para alguém ir para Búzios são sua beleza natural, suas praias, sua culinária e/ou seu agito da noite. Na hora de vender Búzios na home page, o UOL prefere dar uma foto de uma escultura de bronze num dos centros comerciais da cidade, sem nenhuma importância turística, histórica ou artística. Uma pena.
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O ‘fenômeno do ano’ (11/2/08)
O filme ´Tropa de Elite` foi considerado o ´fenômeno do ano` pela equipe do UOL Cinema e foi eleito o melhor filme de 2007 pelo público do UOL, em enquete realizada em dezembro.
Hoje, o filme teve sua estréia internacional no Festival de Berlim. A sessão exclusiva para a imprensa começou pouco depois das 9h (horário de Brasília) e teve problemas: a cópia com legendas em inglês sumiu e fez com que a organização do festival projetasse o filme com legendas em alemão. Fones de ouvido foram distribuídos para tradução em inglês (língua preferida dos críticos), francês e espanhol. No caso do inglês, a narração das falas do Capitão Nascimento era feita por uma mulher, que misturava a narração do personagem com diálogos do filme. Isso causou estranhamento e prejudicou o entendimento do filme. Ao final da sessão, não houve vaias nem aplausos. Mais do que a sessão para o público, são as sessões para a imprensa que determinam a repercussão de um filme em festivais.
Até agora, nenhuma reportagem foi feita ou destacada pelo UOL sobre a dia ´D` do filme em Berlim. A concorrência vem noticiando há horas a sessão para a imprensa e fotos de José Padilha, Wagner Moura e Maria Ribeiro.’