Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tereza Rangel

‘Dois dos principais pilares do bom jornalismo são a independência e o senso crítico. O crescimento da publicidade na Internet, invadindo espaços editoriais (como a foto principal da home page do UOL ou o interior de notícias), aumenta a responsabilidade dos jornalistas: cada vez mais é preciso tomar cuidado ao fazer reportagens sobre produtos, para que não se pareçam com propaganda disfarçada, encomendada.

O UOL tem um canal em UOL Tecnologia, chamado de Guia de Produtos. Traz reportagens especiais sobre produtos ligados a tecnologia: câmeras digitais, notebooks, monitores. Nesta semana, foi a vez de um especial sobre filmadoras digitais com disco rígido que já estão disponíveis no Brasil. Houve destaque com foto na home page do portal.

Acontece que o texto, que analisava duas filmadoras, era um colar de elogios. Começava pelo título, que ‘vendia’ que as câmeras filmam até 30 horas. Quem lesse, veria que essa suposta longevidade é apenas para gravações em baixa qualidade. O texto realçava a leveza das câmeras (‘seu braço agradece’, dizia); a capacidade de gravar em formato widescreen; recursos para compensação de luz ambiente; seus controles remotos; a existência de luz ao lado da lente; o aspecto ergonômico de uma delas. De crítica, apenas, a ausência de ‘viewfinder’ (visor). Essa falta pode levar a imagens um pouco tremidas, diz o texto, que, na seqüência, diminui o problema. Afinal, as ‘duas máquinas vêm com um sistema óptico de estabilização de imagem…’.

‘É espantoso que a UOL publique uma reportagem que se diz um ´test-drive´, e fica apenas na propaganda.’, escreveu Ricardo, de São Paulo. Para ele, foi ‘claramente influenciada ou encomendada pelo fabricante.’

Para fazer jornalismo de serviços com produtos, é fundamental senso crítico. Será que o preço não é um ponto negativo? Afinal, uma custa R$ 4.999 e a outra, R$ 3.499 (essa informação não consta do texto principal. Encontrei-a, apenas, na tabela comparativa). Nos testes de filmagens não houve nenhum defeito? Será que um leigo terá facilidade em usar as máquinas? Que opção, mais fácil, melhor, mais barata, há no mercado? Que outra tecnologia para câmeras está disponível? Há opção de importar equipamentos melhores e mais baratos? Deveria ser regra que textos dessa natureza trouxessem, de forma inequívoca, pontos fracos dos produtos. Afinal, como já se dizia na Roma antiga, ‘à mulher de César, não basta ser honesta, é preciso também parecer honesta’.’

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‘Notícias esquecidas’ (9/8/2007)

‘Leitores reclamam da lentidão do UOL para trocar as chamadas de sua home page. Dizem que há uma sensação de falta de agilidade. Dizem que o UOL, que vende ter o melhor conteúdo, tem de mostrar sua variedade e riqueza, no ritmo frenético da Web. São leitores chamados de ‘hard users’, aqueles que navegam o dia inteiro. Acontece que o público tem comportamentos distintos: há uma grande legião de internautas que entra uma ou duas vezes por dia na Internet, se tanto. Esses não podem ser privados de notícias muito importantes.

O desafio de quem faz Internet é manter notícias relevantes por tempo suficiente para que grande número de internautas a vejam e, simultaneamente, dar uma sensação de frescor em suas páginas. Assim, informa, diverte e não cansa o leitor mais freqüente, o mais fiel. O UOL falhou nessa missão hoje.

Ontem (quarta-feira, dia 8) à noite, preparou um bloco de Cinema na home page. Às 21h31, destacou, com foto, notícia sobre o lançamento de documentário de Leonardo Di Caprio. A notícia saiu da foto, mas ainda está lá no momento em que escrevo estas linhas. Às 10h06 de hoje, entrou a foto do desenho Jonny Quest, que terá versão cinematográfica. Muito destaque para pouca coisa: o texto tem dois parágrafos minguados. A foto continua lá até agora, destacada há mais de dez horas. Outro exemplo: não foi tirada do ar a chamada que diz que haverá (sic) um concerto em Pernambuco às 20h. Já são 20h34.’

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‘Desserviço’ (8/8/2007)

‘Fazer jornalismo de serviço é difícil e dá trabalho. O portal que tem o slogan de ‘o melhor conteúdo’ deveria ter, também, o melhor jornalismo de serviços. Havia hoje um destaque para ‘Aeroportos’ na home page do UOL.

Pois bem. O destaque para ‘Aeroportos’ mandava para uma lista de aeroportos no mundo muito incompleta. Essa lista faz parte do canal ‘Serviços’ da estação UOL Viagem. Isso quer dizer que consta do menu da estação.

O que primeiro chama a atenção é a falta de critério para a escolha dos aeroportos listados. A Argentina, principal destino turístico de brasileiros no exterior, não consta da lista. Faltam também países que estão entre os maiores destinos de brasileiros, como Portugal, Chile, Uruguai, México, Holanda, Paraguai, Peru, Bolívia, África do Sul. Na lista dos Estados Unidos, faltaram os aeroportos de Dallas, Chicago, Houston, cidades usadas por companhias aéreas americanas para conexão dentro do país. Na Itália, apenas dados para o aeroporto de Milão, não para Roma. Na Espanha, há Barcelona, mas não há Madri. Por que incluir a Coréia e deixar de fora tantos países mais importantes para os brasileiros, do ponto de vista de destino de viagem?

Não é só. Quando se vai buscar informação sobre os aeroportos no Brasil, a situação piora. Começa com a desinformação de que Boa Vista, a capital de Roraima, fica no Acre. Os telefones estão para lá de desatualizados, trazendo números com apenas sete dígitos. A mudança para oito dígitos, se não me engano, aconteceu em boa parte do país em 2005. Em alguns casos, traz o nome errado do aeroporto, como o de Alagoas, que é Aeroporto Zumbi dos Palmares, ou diz o nome do aeroporto sem dizer a cidade. Bacacheri? Os curitibanos saberão. Pinto Martins? Os fortalezenses devem saber. E nos tempos de Internet e sendo um veículo da própria, não há um link sequer para os aeroportos. O site da Infraero traz dados e informações sobre os principais aeroportos do país.

Enfim, se o UOL quer oferecer serviço, tem de fazer de forma a servir ao interesse do internauta e trazer informações corretas.’

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‘Aperitivo em vez de banquete’ (6/8/2007)

‘Muitos assinantes escreveram à ombudsman para se queixar de que não têm acesso integral às publicações da editora Abril. Eles lembram-se de publicidade em televisão que reiterava que assinante UOL teria acesso, por exemplo, às revistas Veja, Exame, com exclusividade e na íntegra. Reclamam que perderam o acesso, nunca foram avisados e que as publicações da Abril ainda constam como ‘conteúdo UOL’ na página de Revistas e no índice do portal.

A Editora Abril foi sócia do UOL. Em 2003, tomou uma série de medidas que afetaram os assinantes do UOL. Em agosto daquele ano, passou a não franquear a totalidade de seu conteúdo aos assinantes do UOL. Desde então, apenas parte do que está em seus sites fica disponível aos leitores do portal. Há conteúdo acessível apenas durante alguns dias. Há o que só possa ser lido pelos assinantes da publicação.

‘O acesso à Revista Veja por exemplo é um engodo’, diz Cássio, de São Paulo. ‘Descobri só ontem é que o UOL não tem mais parceria com a Abril (ah!! não brinca, não)’, diz Fátima. ‘Sou assinante há aproximadamente dez anos deste provedor, e muitas mudanças ocorreram. Uma delas que me causa grande insatisfação é o fato de não ter mais direito ao acesso à revista Veja, entre outros conteúdos. Sou a favor de mudanças e progressos, mas, por favor, se há limitação ao conteúdo da revista, que esta não conste mais do link de Revistas UOL’, diz Marcelo.

O UOL não fez uma comunicação eficiente sobre a saída da Abril na época e até hoje ‘vende’ o conteúdo Abril em UOL Revistas e Índice, sem deixar claro que o acesso é restrito, um aperitivo apenas. Com isso, incomoda principalmente o assinante antigo, que já deveria estar fidelizado. Aquele que todo manual de marketing diz ser valiosíssimo para qualquer companhia. Ele perdeu a exclusividade, já que o que a Abril hoje oferece é para todos os leitores, e boa parte do conteúdo.’