Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tereza Rangel

‘O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode anunciar sua licença da presidência da Casa ainda hoje. Os grandes portais estão com o assunto na manchete. Alguns adiantam-se e dizem de quanto será a licença: 120 para O Globo; 45 dias para Terra.

Há tensão nas manchetes pela Web brasileira. O UOL foi o portal que manteve o clima mais frio, com o enunciado ´Após analisar licença, Renan chega ao Senado´. Somente agora esquentou sua cobertura, com ´Renan convoca TV e cria expectativa sobre licença´.

Já há fotos da saída do senador de sua casa e de sua chegada ao Senado. O UOL prefere o congestionamento em São Paulo, o batuque de Ronaldinho e o festival de cacarejo. Assim, não transmite a iminência de desfecho de crise política. Falta temperatura na cobertura.

Tomara que, se houver mesmo o anúncio, o UOL dê show com material de apoio, infográfico, entrevistas com analistas políticos.’

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‘Ressuscitados no ‘placar da morte’’ (10/10/07)

‘Uma dificuldade do jornalismo é conseguir informações precisas sobre número de mortos em tragédias. Ainda mais quando o veículo não tem um repórter no local e a apuração se dá por telefone, a partir da sede, ou a partir de informações de parceiros e agências noticiosas.

Para evitar dupla contagem e revisão futura de dados, recomenda-se que se contabilize apenas o morto que já chegou ao necrotério. Isso implica uma demora na contagem e na divulgação dos números, mas reduz a chance de erros. Em tempos de concorrência acirrada na Internet, muitas vezes os cuidados são deixados de lado. Os veículos entram numa cobertura minuto a minuto, como se estivessem cobrindo um jogo de futebol, em que cada morto anunciado é um gol. Nesse clima de concorrência, sente-se em vantagem quem estiver com seu ´placar da morte` mais ´atualizado´.

Na contagem dos mortos, UOL e Folha Online assumiram como verdadeiros os números

O UOL não seguiu a prudência em relação ao duplo acidente rodoviário em Santa Catarina. Sem repórter, o UOL baseou a maior parte de suas manchetes no parceiro Folha Online. O parceiro, aparentemente sem repórter no local, contou basicamente com informações da Polícia Rodoviária Federal. Acontece que durante boa parte do dia, nem UOL nem Folha Online deram, em seus títulos, a autoria da fonte. Seus enunciados ´vendiam` a versão da Polícia Rodoviária Federal, assumindo que os números divulgados eram os verdadeiros. A partir do meio-dia, a contabilidade dos mortos chegou a 28. Enunciados afirmavam que o número de mortos era esse, sem nenhum senão. No final da tarde, a polícia reviu o número divulgado anteriormente e disse que os mortos somavam 26. Aí, criou-se um problema: como ressuscitar duas pessoas mortas em manchete? Foi só neste momento que UOL e Folha Online passaram a atribuir à Polícia Rodoviária Federal a informação em seus enunciado.

´Que manchete horrível o UOL inventou hoje: ´polícia reduz para 26 o número de mortos` Como eles fizeram isso? Ressuscitaram dois? Ressuscitarão mais durante a tarde? Quem sabe a polícia de SC poderia ensinar essa técnica para as outras polícias… Uma manchete dessas é uma ofensa ao leitor/assinante. De horrível, já basta a tragédia noticiada!´, disse Ênio.

O problema não foi da Polícia Rodoviária Federal. Foi do UOL de aceitar como fato informações ainda em apuração e apresentá-las aos internautas como definitivas. Outro problema foi entrar na disputa do ´placar da morte´. Agora (18h51), por exemplo, a manchete do UOL, com direito a cacófato, é ´Corpo de garoto é achado; número de mortos vai a 27´.

Até o momento, a redação do UOL e a da Folha Online não se pronunciaram sobre o caso.’

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Série ‘especial’ (8/10/07)

‘Vejo que o UOL dá destaque a uma reportagem, anunciada parte de uma série, sobre a seca no Brasil. De São Raimundo Nonato, no Piauí, os enviados especiais do UOL produziram três textos e um álbum de fotografias. Mais uma vez, falta edição ao UOL. Da reportagem principal (pelo menos até agora), não se chega ao segundo texto nem ao álbum de fotos. Além disso, do que constará a série anunciada na home page? Seria útil ao internauta saber. Seria ótimo haver uma página de fato especial, com o texto atual e um anúncio do futuro, com infografias, com informações suficientes para a classificação de ´especial´.

Nem o mapa para indicar São Raimundo Nonato (em destaque) foi dado

Sobre as reportagens veiculadas até agora, a partir da viagem a São Raimundo Nonato, faltam alguns dados básicos: em primeiríssimo lugar, o mapa que indique ao leitor/internauta onde fica a cidade do interior do Piauí. Faltou também, um raio-X do município, para que dê ao internauta uma idéia mais precisa do que a genérica que habita o imaginário de ´uma-cidade-pobre-do-interior-na-região-da-seca´. Por exemplo: PIB per capita (comparando com o do Piauí e com o brasileiro); número de escolas/alunos matriculados; sistema financeiro; frota de automóveis. Ou seja, dados de fácil acesso (o site do IBGE está repleto deles) e que enriqueçam o material, que valorizem a viagem. A delegada regional do trabalho do Piauí, Paula Maria Mazullo, diz à reportagem que o município tem uma dos maiores fluxos migratórios do Estado. Não seria legal ter uma tabela dos dez maiores, por exemplo?

Além dos dados de raio-X, faltam informações sobre a seca em si, que justifiquem o esforço de deslocamento de dois jornalistas do UOL ao interior do Piauí. Quando começou a temporada de seca na região? Quão severa está este ano? Qual é o índice pluviométrico na cidade? Qual o comprometimento econômico da seca? Sem isso, parece que foi um investimento fortuito, uma edição apressada.

Numa série de reportagens, ainda mais classificada de ´especial` pelo UOL, é bom que haja, além da viagem em si, uma pesquisa prévia, que ajude o internauta/leitor a entender a relevância da notícia. Do jeito que está, fica a pergunta: por que, afinal, o UOL deslocou repórter e fotógrafo para o interior do Piauí?

Vejam abaixo a resposta do gerente geral de notícias do UOL, Rodrigo Flores, ao questionamento da ombudsman sobre a série, problemas de edição e por que, afinal, o material foi produzido.

´Tereza,

Além das duas matérias já veiculadas, publicaremos (na terça e na quarta):

1 – ´Convênio entre ministério e governo do Piauí atrasa socorro a vítimas da seca` – traz números da seca no Nordeste, abrindo pelo caso que afeta o Estado mais pobre do país e um dos mais prejudicados pela seca.

2 – ´Assentados, vereador e donos de caminhões-pipa disputam água de açude em São Braz` – luta pela água em pequena cidade piauiense.

3 – ´Em Santa Luz, seca faz trabalhadores perderem colheitas e provoca êxodo rural` – efeito da seca em outra pequena cidade do Estado.

4 – Um conjunto de páginas com perfil de dez pessoas afetadas pela seca.

Nesta terça-feira, entrará no ar uma capa que agrega as matérias do especial.

O UOL decidiu fazer esta série, cujo eixo são os efeitos da seca sobre as pessoas, para abordar em suas páginas uma realidade que afeta milhões de brasileiros e, apesar de (ou talvez por) acontecer todos os anos, é pouco abordada pela imprensa. A idéia é contar histórias de vida e mostrar imagens de uma das muitas faces do Brasil.

Obrigado,

Rodrigo´

Teria sido ótimo que a capa tivesse ido ao ar junto com os primeiros textos. Será ótimo se as próximas reportagens vierem mais completas, de fato ´especiais´.

Em tempo: o PIB per capita em 2004 em São Raimundo Nonato, segundo o IBGE, era de R$ 2.281, contra R$ 2.892 no Piauí e R$ 9.743 no Brasil; no ano passado, no município visitado pelo UOL, houve 10.177 alunos matriculados na pré-escola, ensino fundamental e médio em 91 escolas; havia três agências bancárias; 607 automóveis, 141 caminhões, 190 caminhonetes, 10 tratores, 1.971 motocicletas, 14 ônibus. Outras informações podem ser encontradas no site do IBGE.’